Se a moda da casa e seus modismos, junto com as tendências trazidas pelo mercado, nos atropelam sem freio com lançamentos industriais ou até mais autorais e artesanais — o feito à mão —, pode-se também atribuir ao consumidor o desejo de uma renovação periódica.
Percebe-se que, em muitas ocasiões, este fenômeno está diretamente ligado às possíveis más escolhas de origem, dos revestimentos ao mobiliário, e aos materiais de gosto ou qualidade duvidosos. Ou ainda ao endosso geral errôneo e embasbacado por tendências bobas, e que por alguma razão nos impactam em um primeiro momento — mas que jamais precisariam ter sido agregadas como quase definitivas…
Noções históricas ou percepções básicas de alguma real sensação, como o conforto — que sabemos também ser algo que se altera com o tempo —, e a utilização diferenciada de um determinado móvel, ou mesmo de um cômodo de uma residência, conforme os costumes evoluam, nos empurram para a frente em busca de atender a este novo comportamento ou desejo. E, assim, dá-lhe criação com inovação, que eventualmente tem até uma alma retrô.
No quesito mobiliário, é comum que a revisão de determinados conceitos ou costumes, e seus devidos parâmetros, sejam o embasamento de uma atualidade que cultua o presente, mas cultiva o passado. Assim criam-se ou reeditam-se peças que trazem o desejo esperado, como no caso do período pandêmico com sua série de assentos afins extremamente acolhedores e ultra confortáveis, com seus estofamentos generosos, gorduchos — como pediam os infelizes dias de confinamento e relaxamento em casa. O que permaneceu nas casas, obviamente…
No mundo, bons exemplos são o retorno aos combos de sofás e poltronas icônicos italianos — principalmente, mas também temos exemplos franceses —, ou ainda a preferência por seus exemplares originais vintage dos anos 1960 e 70.




Por exemplo, o recrudescimento das linhas Camaleonda, com design de Mario Bellini para B&B Italia; Soriana, de Afra e Tobia Scarpa para Cassina; e Strips, de Cini Boere para Arflex, entre outros como, da Ligne Roset francesa, o Togo, de época, e o Ploum, dos anos 2010, dos irmãos Renan & Erwan Bouroullec), que se refletiram nas capas das melhores revistas, e inundaram seus editoriais.
No Brasil, os sofás sem dúvida ganharam status de camarotes para “se jogar” e assistir às telas na parede à frente, com suas séries, filmes, e etc. Sobre eles, sempre uma explosão de almofadas! O conforto dos sofás e poltronas criados no Brasil ainda irão ganhar em breve um capítulo à parte aqui na Conexão Décor.
Outro fenômeno, este nada a ver com a pós-pandemia: note que as cadeiras das mesas para refeições vêm perdendo qualquer pompa ou circunstância, e viraram peças para lá de práticas. Entre as leves do Modernismo, em madeira e muitas vezes — revividas pelos distribuidores do vintage (galerias, antiquários, brechós, família vende tudo), ou em suas maravilhosas reedições de peças do passado “bossa-nova” ou em execráveis cópias que devemos exorcizar e denunciar automaticamente.




Cadeiras com fabricação e aspecto industrial ao gosto de mestres franceses ou suíços, como Jean Prouvé e Le Corbusier — e seu time Perriand e Jeanneret —, são agora aceitáveis para um jantar chic-cool ao redor de mesas de casas que privilegiam o design à decoração em si.
Estas cadeiras mais leves e magras têm inúmeras variações de estrutura: podem ser de metais diversos que ganham materiais complementares como o couro, o tecido, o acrílico para assento e encosto, e até mesmo lembrar as de escritório, o que garante o máximo conforto. Vale tudo, contanto que as regras do bem-estar estejam atendidas. É a confirmação de um novo começo de era, mais natural, confortável e suportável.