Vermelho

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Confesso – a primeira inspiração para este post foi a cor da parede de nosso espaço (Lenora Lohrisch & eu) – a Recepção do Hotel Boutique para a Casa Cor Rio de Janeiro. Usamos um tom chamado Terra Forte, um vermelho intenso, para valorizar elementos da arquitetura existente – a marcenaria do teto e das portas, em madeira rosa e azul, e conseguimos intensificar esses elementos através da cor e da iluminação precisa (onde tivemos um auxílio magnifico do luminotécnico Ugo Nitzsche).

Mas, em nosso íntimo, sabíamos não ter inventado nada – afinal inúmeros palácios e palacetes ostentam paredes encarnadas, ou forradas de tecidos vermelho forte, adamascados, e sobre estes quadros, boiseries, toda sorte de elementos que sempre são valorizados com este tipo de recurso.

As pessoas ficam fascinadas com essa mistura, até agora não ouvi uma crítica sequer – ao contrário, todos elogiam nossa “ousadia” em misturar essas cores, como se a natureza não fosse pródiga em nos mostrar que isso já está à nossa volta através de flores, plantas, peixes e pores-do-sol.

Fachada do Hotel Vermelho em Portugal.

Essa introdução foi para falarmos de meu mais novo objeto de desejo visual – o Hotel Vermelho, em Melides (Portugal), que apesar de sua fachada azul clara, tem no vermelho seu nome. E explica-se o porquê – essa é uma empreitada visual do shoe designer Christian Louboutin, que ficou famoso por suas solas de sapato em vermelho intenso, causando desejo em 10 entre 10 mulheres de cartão de crédito poderoso.

Louboutin afirma que essa ideia veio ao observar uma funcionária que pintava as unhas de vermelho, e em um experimento, ele percebeu que pintar a sola dava um novo caráter ao sapato Depois dessa descoberta, a marca ascendeu ao coração (e pés) de mulheres do mundo inteiro. E agora ele tem um hotel para mostrar toda a feérie de seu potencial como diretor criativo. A partir da fachada, quase Gaudiniana, esculpida a mão pelo escultor italiano Giuseppe Ducrot (aliás, recomendo o perfil do Instagram dele suas lareiras são surpreendentes…).

Decoração de interiores no Hotel Vermelho em Portugal.

E essa feérie visual se intensifica dentro das instalações deste hotel. Como prova, escolhi esta luminária em forma de maxi colar, obra do atelier indiano Klove Studio – e novamente sugiro uma olhada no perfil deste Studio no Instagram.

Eles redefinem a forma como a iluminação de luxo é concebida / produzida na Índia, combinando técnicas ancestrais com práticas contemporâneas, tudo dentro de uma leitura exótica, fora dos padrões habitualmente normais, completamente feito à mão por artesãos esmerados, e resultado de tirar o fôlego.

Borboleta feita de pedras

E essa borboleta deslumbrante, exótica, quase pré-histórica, feita de fatias de uma pedra semi-preciosa, é uma das outras preciosidades deste Hotel. Eu fico fascinado com a liberdade de critérios para se compor um ambiente com este tipo de produto, essa falta de comprometimento para com os padrões ditos formais…eu acredito que, na decoração, historicamente, já fomos muito mais ousados, o livre arbítrio já foi um dogma mais intenso em nosso campo no passado.

Trama de fios de nylon na porta do armário lembram as cadeiras parisienses

Portas do armário com um trabalho incrível de fios tramados, lembra as cadeiras parisienses

Como designer, eu me apaixono por soluções como as portas e laterais deste armário, em junco sintético em quatro cores trançado como se fora uma cadeirinha daquelas típicas dos cafés parisienses. As molduras em metal dourado receberam esta “alma” tecida que remete um pouco às padronagens de tecidos usados na indústria do vestuário, ou em algumas bolsas antigas.

Não dá para ficar ileso frente a um móvel deste, ele supera – e muito – as expectativas visuais de um simples guarda-roupas. Infelizmente eu não tenho nenhuma foto dele aberto (não encontrei), mas imagino que deva ter o mesmo nível de acabamento – impecável, manufatura de alto nível. Eu não esperaria nada menos de um chef sapateiro como Loubotin, mas aqui as matérias primas superam – e muito – as expectativas.

Balcão do bar do Hotel Vermelho com um trabalho incrível de orfebreria que consiste na arte – e técnica – de fazer objetos artísticos com prata, ouro ou outros metais preciosos, e historicamente era uma das mais destacadas manifestações de arte dos visigodos –

O balcão do The Silver Leaf Bar é uma das características mais marcantes dos espaços gastronômicos do Hotel. A criação foi um trabalho deslumbrante da Orfebreria Villareal, um atelier espanhol sediado em Sevilha fundado em 1954, que criou sua reputação através da manufatura de objetos sacros extraordinariamente entalhados, geralmente utilizados nas procissões da Semana Santa na Espanha.

Os detalhes do banco não ficam atrás, e o contraste deste luxo desmedido com uma cerâmica vermelha no piso é, no mínimo, fascinante. A orfebreria consiste na arte – e técnica – de fazer objetos artísticos com prata, ouro ou outros metais preciosos, e historicamente era uma das mais destacadas manifestações de arte dos visigodos – um povo originalmente pagão, mas que se converteu ao cristianismo ao se estabelecerem em territórios cristãos do ocidente europeu. Talvez daí esse barroco incontido, essa desmedida fatura.

cadeira de fibra sobre o piso cerâmico, algo que remete entre o marroquino e o árabe.

E a junção de padronagens, aspectos de manufatura e cores continua por todo o Hotel. Essa foto é absolutamente icônica como representação da estética do Vermelho – a cadeira de fibra sobre o piso cerâmico, algo que remete entre o marroquino e o árabe.

A tradição da azulejaria portuguesa se esparrama pelas instalações deste empreendimento, quase que contando a história das muitas influências estrangeiras que compõem a história do país. Os azulejos vermelhos da foto anterior, por exemplo, foram fabricadas pela Fabrica de Azulejos do Azeitão,  uma fábrica que utiliza o mesmo processo de fabrico manual desde o século XVIII. Esta fábrica recebe visitas gratuitas para os que se aventurarem a Portugal, e fica próximo ao Palácio da Bacalhoa, e nesta visita os guias explicam aos visitantes todas as fases do processo de fabricação (tendo, inclusive, a chance de pintar seu próprio azulejo – pergunta se não dá vontade de conhecer?).

Ambiente decorado no Hotel Vermelho, em Portugal.

Ambiente decorado no Hotel Vermelho, em Portugal

Ou seja – o Vermelho Hotel é uma aula magna sobre estilos, épocas, manufaturas e um quase assumido descontrole da mistura destes, com resultados fascinantes. E o Restaurante Xtian pretende ser uma ode à tradição culinária portuguesa, com mesas compostas por pratos de cores vibrantes, louças artesanais da região e a exploração contemporânea da tradição portuguesa à mesa.

Restaurante do Hotel Vermelho em Portugal

Pratos fascinantes aos olhos, ao olfato e ao paladar, acompanhados dos melhores vinhos portugueses, em um cenário de tirar o fôlego a cada passo dado. O Hotel Vermelho ousa oferecer uma experiência visual única, e parece cumprir à risca esta intenção. E soube de fonte segura que os amenities são maravilhosos, a maioria da marca Kama Ayrveda, uma marca de beleza bastante conhecida nos melhores Spas, com uma extensa linha de produtos Ayurvedicos – um ponto extra para este Hotel de intenções únicas e resultados idem.

 

Wair de Paula Jr.

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