Filho de peixe

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A ideia deste post veio de uma reunião que tive recentemente com Rodrigo Ohtake, filho do arquiteto Ruy Ohtake e neto da grande artista plástica Tomie Ohtake. E eu tive a chance de brincar falando que ele era a terceira geração dos Ohtake que eu conhecia – pois havia feito uma pequena entrevista com seu pai quando de meus tempos de faculdade de arquitetura, e muito tempo depois tive a honra de oferecer um almoço para a grande dama Tomie em minha casa, quando morava em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas, numa tarde memorável, cheia de amigos e com ela encantada com o coquetel, pequenas preciosidades feitas pela então jovem (e promissora) Flavia Quaresma.

E isto me fez ver da importância da cultura “em casa”, de como filhos de criativos têm potencial igualmente criativo para gerir suas carreiras e suas vidas. E eu estava doido para falar dos tapetes que este jovem designer acabara de lançar – e o lançamento foi justamente na casa de sua avó Tomie, reforçando os laços estéticos que une estas três gerações.

Segundo Rodrigo, “...a noção de intuição é algo que conecta profundamente as três gerações de artistas em nossa família…”, embora atrás desta intuição eu consiga perceber uma racionalidade estética muito rígida, oriental. O tapete que abre esta matéria é a prova disso – duas massas de cor sólidas, em texturas diferentes, rigorosamente simples e de resultado estupendo.

Filho de peixe, tapete desenho de Rodrigo Ohtake, filho do arquiteto Ruy Ohtake e neto da grande artista plástica Tomie Ohtake.

Filho de peixe. tapete desenho de Rodrigo Ohtake, filho do arquiteto Ruy Ohtake e neto da grande artista plástica Tomie Ohtake.

Rodrigo possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela FAU/USP, e uma passagem no prestigiado Politécnico de Milão, e sua visão criativa parece não ter limites, sempre explorando novas fronteiras no campo do design. Seu desenho é monástico, parece querer tirar o máximo de experiência visual com poucas linhas e volumes (como podemos notar nos tapetes acima, produzidos com exclusividade para a marca Punto e Filo).

Filho de peixe, cadeira Rodrigo Ohtake, filho do arquiteto Ruy Ohtake e neto da grande artista plástica Tomie Ohtake.

E a poltrona Delgadina (aqui junto com a mesa lateral Tri) parece reforçar esse dogma estético – uma linha contínua de madeira torneada e curvada à sua dignidade se apoia em uma estrutura de madeira, e o assento e o encosto parecem flutuar neste conjunto. Esta peça é parte de uma coleção feita para a Arti, uma empresa do sul do país, reconhecida por sua excelência no trabalho com a madeira – e futuramente vou mostrar um pouco mais deste trabalho, pois estou participando do processo de criação de uma coleção nova com esta marca que promete ser uma das mais complexas e refinadas linhas de produto que já tive a oportunidade de estar colaborando. Só posso dizer aguardem…

Torneira, design de Guto Indio da Costa, filho de Ana Maria e Luiz Eduardo Indio da Costa. Com pai e mãe tão cultos e refinados, Guto enveredou com sucesso no campo do design.

Outro grande criador cujos pais eu também conheço é Guto Indio da Costa, filho de Ana Maria e Luiz Eduardo Indio da Costa. Com pai e mãe tão cultos e refinados, Guto enveredou com sucesso no campo do design – quem não lembra do ventilador de teto de apenas duas pás que ele lançou anos atrás, e que fez sucesso imediato? Guto ousa ir do mobiliário urbano a peças do cotidiano, e essa torneira me chamou a atenção por sua elegância, tecnologia e desenho em prol da praticidade doméstica. Puro luxo.

Filho de peixe, balançodesign de Guto Indio da Costa, filho de Ana Maria e Luiz Eduardo Indio da Costa. Com pai e mãe tão cultos e refinados, Guto enveredou com sucesso no campo do design.

Filho de peixe, mobiliário design de Guto Indio da Costa, filho de Ana Maria e Luiz Eduardo Indio da Costa. Com pai e mãe tão cultos e refinados, Guto enveredou com sucesso no campo do design.

Guto tem um traço orgânico no desenho de seus móveis que parece ter sido inspirado pelas montanhas que cercam a casa em que o conheci (quando ele ainda morava com os pais, muito tempo atrás…), uma residência deliciosa às margens da Lagoa na Barra da Tijuca, cercado pelo maciço rochoso que se impõe sobre o perfil deste lugar.

Cujo jardim maravilhoso parece um pouco com o jardim acima, e era um prazer estar com este casal neste lugar, o papo corria solto (Indio, o pai, é culto até a medula, e um ótimo papo), e eu tive a sorte de poder usufruir desta situação algumas vezes. As criações de Guto são internacionais, mas profundamente imbuídas da bossa carioca – afinal, o fruto não cai longe da árvore, não é mesmo?

Cadeira com design de Zanini de Zanine, filho do grande José Zanine Caldas. Zanininho, para os íntimos,

Mais um que tive a honra de conhecer o pai – Zanini de Zanine, filho do grande José Zanine Caldas. Zanininho, para os íntimos, cresceu vendo o pai trabalhar e estagiou com Sergio Rodrigues – oportunidade rara, trabalhar ao lado de dois grandes mestres como estes.

Seu trabalho como designer de móveis já produziu preciosidades, através de seu Studio Zanini, criado em 2011. Quem tem várias peças deste designer em seu portfólio de produtos é a marca Novo Ambiente, de meu amigo também amigo de longa data Salomão Crosman, que hoje junto com os filhos tem uma das mais belas marcas de móveis do eixo Rio-SP.

Eu preferi neste post focar num produto recente de Zanini, o tapete acima, também execução da Punto e Filo, pois eu adorei as formas e cores contrastantes desta peça. Fora que eu já assumi aqui nesta plataforma, adoro tapetes e todo o universo têxtil, não só por suas propriedades físicas como pelo significado que estes parecem repassar, pois me lembro do mito de Aracne, que aprendeu a tecer com extrema habilidade através de Palas, a deusa da sabedoria. Mas que, devido à sua soberba face ao trabalho impecável que executava, foi transformada em uma aranha, destinada a tecer teias para o resto da vida. Isso é para nos lembrar de que, por melhor que sejamos, a soberba não é nunca um bom caminho…

Filho de peixe

Ainda tive também a oportunidade de conhecer Oscar Niemeyer e sua filha Ana Maria, que juntos fizeram os mais seminais móveis do design brasileiro. Neles, o traço inconfundível do mestre é incontestável, mas a parceria entre pai e filha foi o que possibilitou a construção desta pequena coleção, criada a partir dos anos 1970, e estes foram produzidos simultaneamente no Brasil e na Itália.

Essa parceria rendeu exposições em diversos museus e instituições internacionais, como o Centro Georges Pompidour em Paris, o Salão Internacional do Móvel de Milão, a Feira Internacional de Colônia e outros países e salões mundo afora.

Eu não poderia fazer um texto sobre este tema sem citar a grande profissional Janete Costa e sua prole criativa – Mario Santos, Cacau Santos, Lucia Santos, Roberta Borsói. Janete foi uma mestra para mim em todos os sentidos, era uma mulher fascinante, dotada de uma cultura sem preconceitos, divertida, elegante, única, e deixou não apenas um legado estético para um país acostumado a importar estilos e modismos para a casa, como também gerou uma família de criativos de primeira grandeza.

Mario é um arquiteto de mão cheia, Lucia tem uma das galerias de arte mais influentes da América Latina, Roberta é uma das responsáveis pela Fenarte, a maior feira de Artesanato do Brasil, localizada em Pernambuco. Mas esta família me é inteiramente tão querida, e atua em tantas áreas da cultura, design e afins, que qualquer dia eu faço um post só para falar deles. Janete merece ser louvada como uma das maiores profissionais do design de interiores e da propagação da produção da arte não erudita, merece uma matéria só sobre ela. Novamente, aguardem…

 

Wair de Paula Jr.

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