GABRIEL E OS JARDINS

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“Pamonhas, pamonhas, pamonhas… é o carro das pamonhas passando por aqui… pamonhas gostosas, milho verde, curau… é uma delícia… e tem o suco de milho verde!” … e por aí vai a cantilena, até mudar de paragem.

Bem-vindo de volta aos Jardins, bairro eclético da cosmopolita São Paulo, com seus provincianismos anunciados por alto-falantes em carros estacionados nas guias (= meios-fios cariocas) por uma hora que parece interminável. Mas justamente em frente da nova casa, precisava? Isso não tinha na Gabriel!

Uns dizem que Moema é o bairro preferido dos cariocas em São Paulo, tanto faz se no lado “índios”, ou no coté “pássaros”, pois lá, pertinho do aeroporto de Congonhas, sob o ronco dos aviões que sobem e descem, as ruas têm nomes como Arapanés e Nhambiquaras, ou Graúna e Sabiá, Rouxinol…

Mas é mesmo nos “Jardinx” e em “Higienópolix” que quem vem do Rio se encontra, entre alamedas com nomes de cidades do interior do estado, quase todas: Lorena, Tietê e Franca, ou Itú e Jaú, neste miolo (que de longe lembra a mistura residencial-comercial de Ipanema-Leblon) em que voltei a morar pela quarta vez em SP.

Feita a mudança, o desapego dos móveis, objetos e lembranças (e 9 lustres!), transformou-se em idas constantes à lixeira do novo prédio, construção-ícone de 1960, para ali deixar caixas de papelão da mudança, plástico-bolha e montanhas de revistas folheadas antes uma a uma para arrancar páginas de artigos meus ou até inspirações que iriam embora para sempre.

Ah, tem também uma novidade pós-mudança durante esta pandemia que divide o mundo em antes e depois, de novo um AC/DC — C de Cristo agora é de Coronavírus.

É que Gabriel chegou!

Com quase dois meses, praticamente três quilos, vacinas ainda a tomar, e, portanto, sem poder sair de casa como eu. Tem quatro patas, jeito moleque, um rabinho de nada e dentes de leite afiados: é roedor nato da raça canina preferida no meio da arquitetura.

O bulldog dito francês veio cheio de “joie de vivre” e sem nenhum “savoir faire”, pois faz cocô e xixi pela casa toda, isto é… um todo resumido a 55 metros quadrados modernistas na veia, no prédio lindo de centro de terreno, com  desenhos geométricos no piso de pedras em mosaico (= pedras portuguesas do Rio) por todo o pilotis, inclusive dentro da portaria, e com a oportunidade única na cidade de ter janelas projetadas em ângulo suave para fora da empena, como a olhar do alto a vista lá fora.

Cachorro Bulldog frances, bebe na caminha verde.
Gabriel / Foto: Sergio Zobaran

Mas não é para o mar, e sim voltada aos jardins em frente e para os demais edifícios daqui até o Itaim, lá longe.

Isolados socialmente sim, mas companheiros no confinamento, cá estamos: eu a trabalhar como um cão, e Gabriel a brincar como uma criança neste novo mundo talvez incompreensível para ambos, mas real e agora bem agitado, serelepe e mais feliz.

Será esse o efeito do “novo normal”?

Saí da Gabriel depois de anos morando naquela alameda Monteiro da Silva e meca brasileira do décor mas, com certeza, Gabriel não saiu de mim: veio pra ficar.

 

Sergio Zobaran

 

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