“…luz é vida, pulsação…” já cantou o grande Luiz Melodia. Eu concordo com tudo o que esse mestre canta, nem ouso discordar. Mas me dou ao direito de mudar a frase para “…cor é vida, pulsação…”. Sim, volto ao tema que me é caro, o uso da cor, das estampas, das padronagens e tudo o mais parecido no design de interiores. E o faço pois estou sob o impacto do espaço “Lugar de Afeto” na Casa Cor São Paulo, feito por minha grande querida e adorada amiga Paola Ribeiro. Portanto, esse post não é isento, já vou avisando…
Mas Paola é uma profissional de primeiro quilate. Ano passado, seu espaço para o mesmo evento foi parar no perfil do Instagram de Ian Schrager, o grande empreendedor norte americano que se tornou referência no universo do design, ao criar há alguns anos o conceito de “hotel boutique” (fora ter sido o responsável pela criação da boate mais revolucionária que se tem notícia, a Studio 54 em NY). Se isso não é prova da qualidade de seu trabalho, não sei mais o que possa ser…
Em virtude de seu patrocinador master, Paola criou um espaço real, vivo, colorido, com informações oriundas das mais diversas fontes, e fez uma mistura absolutamente divina maravilhosa (como cantaria Caetano), em um espaço que surpreende a cada olhar. Misturando verdes, azuis, rosas, vermelhos, listras e estampas, ela criou um ambiente que parece ter sido construído ao longo de muito tempo – não parece que “nasceu” faz pouco tempo, tamanho o número de objetos e referências inseridos neste recinto.
Um importante veículo de comunicação de São Paulo, ao fazer uma matéria sobre a Casa Cor local (aberta dia 21/05 para o público), abriu sua matéria com um título mais ou menos como “…a Casa Cor decreta a morte do urbano”, em um flagrante desconhecimento de nosso universo, ao creditar (e limitar) listras, cores e estampas às casas do interior.
Nós, criadores de espaços urbanos, domésticos, corporativos, rurais, somos sempre a soma de todas as nossas informações, que são traduzidas em alguns trabalhos. E Paola tem esse repertório plural, livre de preconceitos estéticos, ao misturar poltronas com padronagens e cores distintas sobre um tapete multicolorido, em frente à uma parede listrada – tudo em perfeita harmonia, como se este espaço tivesse sido sedimentado ao longo do tempo, onde cada objeto, móvel chegasse em um determinado período, fruto do desejo e do olhar do morador deste. O único dogma aqui, fora o livre arbítrio, é a qualidade de cada proposta.
Na foto acima, destaco: o puff quadrado lindinho, extremamente bem executado, que contrasta com a feérie da tapeçaria de Mucky Skowronsky, e é suavizado pelo tom rosa claro da cozinha. Não é uma questão de “estar combinando”. É uma questão da harmonia das diferenças, uma grande elegia às diversidades estéticas, oriundas das mais diversas matrizes, uma casa com alma, personalidade, e muito, muito conforto.
A cozinha ostenta uma coifa imaculadamente branca, e sobre o fogão um painel metálico dourado cria um brilho insuspeito – me deu vontade na hora de pegar uma panela e usar este espaço, e este é o grande barato deste projeto: dá vontade de usá-lo. De viver nele. De abrir suas portas, fazer um café com bolo para os amigos, ou se esparramar no sofá para ler um livro de forma preguiçosa, curtir o tempo, praticar o carpe diem em sua potência máxima.
O quarto deste espaço tem uma luz deliciosa – e, novamente aqui, a mistura de épocas e estilos: a cama com dossel, a cômoda listrada, em contraste com as obras contemporâneas sobre esta…Vamos assumir: é muito mais fácil fazer um espaço todinho bege e cru, do que ousar nesta verdadeira salada mista de referências. Isso é um trabalho que poucos conseguiriam fazer, demanda muito, muito trabalho, uma pesquisa profunda e um HD pessoal repleto de informações.
Sob meu ponto de vista, isto faz uma casa – as referências pessoais, a grande mistura de elementos, as peças sendo somadas ao longo do tempo, a mudança das cores em determinadas fases de nossas vidas, como o organismo vivo que eu acredito que funciona uma casa real, para mim.
Nós mudamos ao longo de nossas existências, nosso habitat também deveria acompanhar estes movimentos. Desapegar de algumas coisas para adquirir outras, transcender os limites das chamadas tendências e criar uma residência autoral, pessoal, esteticamente intransferível.
A Casa Cor ainda oferece outras surpresas muito agradáveis sob este ponto de vista (com destaque para o espaço criado por Marcelo Salum, outro profissional de qualidade inconteste). Tomara o design de interiores se torne menos pasteurizado e mais personalizado, sob este ponto de vista – que não é novo, mas que é o futuro.
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