A COR TEM PODER

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Dos anos 1960 tenho lembranças coloridas de casa: o tom gelo nas paredes da sala do apartamento em Ipanema – na verdade, um branco-sujo imperativo da época em “áreas sociais”,  o azul-céu no escritório (o que hoje seria o home office), o verde-água no quarto que dividia com meu irmão, e o pêssego no quarto dos pais. Mas a fachada do prédio era de um desastroso cinza pó-de-pedra.

No início dos anos 1970 fomos para o Posto 6, e o branco-total tomou conta até dos trechos de tijolinhos aparentes dos interiores. Era o fim do belo modernismo colorido nos prédios residenciais, o que fez a arquitetura externa involuir para uma paisagem anódina daí em diante, chegando ao desastre obscuro do pós-modernismo brasileiro dos anos 1980, uma época fumê em pretos, cinzas e grenás nas fachadas cariocas de vidros e pedras escuras…

Com a abertura do mercado nos anos 1990, o Brasil passa a ter acesso aos produtos estrangeiros. E as cores aos poucos começam sua rentrée  nos lares brasileiros. Em São Paulo, a Terracor traz a textura colorida de volta às paredes, e resgata a riqueza cromática da arquitetura colonial”, diz a arquiteta baiana Shisha Kessin, colaboradora da CECAL – Comitê Brasileiro de Cores.

Shisha continua a história: “Nos anos 2000, em plena crise econômica na Itália, a Vitra, com  direção cromática da designer holandesa Hella Jongerious, lança produtos clássicos com blend das candy colors, representando a vida líquida do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, conferido também em marcas como Paola Lenti e a disruptiva Moroso”.

Na década de 2010, a sustentabilidade surge como novo paradigma, trazendo a necessidade de conciliar o homem com a natureza. Esse manifesto é representado pelo movimento da biofilia. Nesse contexto, o cinza do concreto da cidade é substituído por cores mais naturais como o linho e o algodão, sempre combinados aos blends cromáticos das folhagens”.

Em tempos mais atuais da neurociência, “já se comprova a percepção sensorial e o impacto das cores no inconsciente das pessoas. Por isso os nomes das tintas são inspirados em sentimentos e elementos que remetem a esse universo de fantasia”, ela encerra…

Depois dessa aula, concluo o quanto a cor é importante e necessária para nós, da arquitetura de interiores e da construção até à moda (como em Yayoi Kusama e sua arte em bolas coloridas para Louis Vuitton, atualmente). Assim como no tempo em que trabalhei divulgando este ramo, com suas cores e tons tão orgânicos como o novo mundo de novo pede. Algo assim em cores banana, berinjela, beterraba, café, cereja, cenoura, laranja, melão, melancia, roxo-batata, verde-maçã, verde pistache… Da natureza vinham junto as cores dos animais do tipo: amarelo-canário, cinza rato, marrom castor e até a cor de burro quando foge…

Banco T / Designer: Maximiliano Crovato / Fotografia: Deco Cury

Cores, cores, cores, e tudo o que elas representam, das construções ao mundo fashion, dão pano para mangas, e são essenciais para todos porque, conforme queríamos demonstrar, traduzem percepções, gostos, tendências, épocas, e fazem aflorar em nós um mundo de emoções.

 

Imagem da capa:

Banco T do designer Maximiliano Crovato

Fotografia: Ruy Teixeira

Sergio Zobaran

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Tag: cor

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