Poucos metros separam a Alameda Gabriel Monteiro da Silva, o centro nervoso do design de interiores da cidade de São Paulo, uma rua diuturnamente movimentada, de um oásis de silêncio, arte e design – a Casa Zalszupin, onde o designer Jorge Zalszupin viveu por quase 60 anos.
Uma junção dos esforços de duas marcas – a Etel Marcenaria e a Galeria Almeida e Dale, que transformaram esse espaço na sede do Instituto Jorge Zalszupin, dedicado à pesquisa e documentação do acervo e exposições.
Apesar de estar a menos de uma quadra de uma importante via de acesso de São Paulo, a casa em si mal pode ser visto da rua, pois está oculta e quase inserida em uma centenária árvore, com um exuberante jardim que colabora com esta situação. A arquitetura desta casa, obra de Zalszupin, remete tanto às influências escandinavas quanto às brasileiras. Segundo Lisa Carmona, diretora da Etel, “...é uma casa onde ele experimentou muito com referências diferentes, mesclando desde elementos brasileiros como o tratamento das paredes em estuque bruto, até o teto curvo de madeira com aspecto escandinavo.”.
E é nesse cenário de hibridismo estético que se instala, neste momento, a exposição Pancetti e Scapinelli – juntando dois criativos de plataformas diferentes, ambos de origem italiana. Nas paredes, as pinturas de Pancetti dialogam em solene silêncio com a marcenaria requintada dos móveis de Scapinelli.
Filho de imigrantes italianos, José Pancetti (1902-1958) nasceu em Campinas, SP, e ainda jovem viajou para a Toscana, onde residiu com familiares até sua volta em 1920. Ao retornar, ingressou na Marina de Guerra do Brasil, e talvez isso tenha contribuído para seu tema mais recorrente, as marinhas.
Giuseppe Scapinelli (1891-1982) nasceu em Modena, Italia, onde residiu até 1948, quando decidiu emigrar para o Brasil. E, durante a década de 1950, o mobiliário deste designer conquistou o gosto da recém-formada elite industrial paulista, e o desenho de seu mobiliário, que unia propostas modernas em formas curvilíneas e sensuais ganhou a notoriedade devida, trabalhando com madeira e estofados.
A solenidade da exposição, com produtos escolhidos a dedo do melhor da produção de Scapineli, mais a curadoria das obras de arte a cargo da Galeria Almeida e Dale, surpreende até o mais cético dos sensíveis. Eu tive a sorte de ser extremamente bem atendido pela equipe da casa, estava sozinho e fiquei bastante tempo absorvendo aquela atmosfera de comunhão entre a arte e o design.
Já conhecia boa parte da obra do designer, bem como já tinha intimidade com a obra de Pancetti – mas, mesmo assim, tive a impressão de estar vendo coisas atualíssimas e contemporâneas. Particularmente, pirei em uma cadeira que não conhecia, com um encosto delgado e alto, e fiquei de tal forma impressionado com essa peça que imediatamente manifestei o desejo de tê-la em meu acervo (visto que as pinturas de Pancetti estão em um patamar de preço significativamente mais alto para meu orçamento…)
Segundo o curador da mostra, Cristiano Raimondi “…os trabalhos de ambos demonstram fidelidade à linguagem clássica e, ao mesmo tempo, moderna. Nos dois, lirismo e despojamento do supérfluo caminham juntos.” E é impossível não concordar com essa linha de pensamento, poucas vezes vi design e arte expostos de forma tão poética.
Para se visitar essa exposição é necessário marcar hora, e o endereço do local só é informado ao visitante depois de concluída essa solicitação via internet. Talvez para manter o silêncio necessário para absorver tanta delicadeza.
Casa Zalszupin – visita com hora marcada
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1 comments
Encantada como sempre com as crônicas do
meu amigo(que privilégio de tê-lo como amigo)
Uma sorte para nós a conexãodecor.com
nos proporcionar este encontro Bem vindo Wair