OS SOFÁS E EU

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Tudo começou na mudança para São Paulo, 16 anos atrás. A primeira casa merecia minimamente, na minha cabeça, um colchão, um fogão, uma geladeira e um sofá. Ah, faltaria também uma mesa e, pelo menos, uma cadeira.

Mas o sofá, eu achava, era fundamental na composição de um novo lar. E ele chegou vintage, pé palito grosso, porém elegante, criação e fabricação Teperman, acompanhado de duas poltronas iguais a ele: um terno. Foi devolvido aos donos como parte do último aluguel do flat.

Já no primeiro apartamento, o segundo sofá apareceu em seda verde, grife Interni da Alameda Gabriel Monteiro da Silva. Bem que ornava com o apartamento alugado, com paredes da sala em cores de berinjela e verde-bandeira, piso all white e ainda um pilar vermelho no meio (“dei dez mãos de tinta nele, você vai mudar?”, perguntou o proprietário. “Nenhuma de suas cores será alterada”, respondi ao arquiteto orgulhoso de sua modernidade que assumi de imediato.

De lá, a mudança para outro imóvel pedia nova decoração e um sofá maior. Foram novos para mim, e velhos para a amiga que emprestou os dois antigos Chesterfields confortabilíssimos com quase setenta anos de tradição. Nunca deveria ter me desfeito deles, os mais aconchegantes.

No apê de um carioca que aluguei em seguida, cabiam três sofás, e um deles foi o Mole de Sergio Rodrigues, tal qual o original que ele desenhou para o fotógrafo Otto Stupakoff, mas este tinha vindo dos porões do Palácio do Planalto, onde estava jogado em desuso, para a Loja Teo. Usei junto à sua poltrona irmã, e acabei ficando só com ela.

 

Poltrona Mole de Sergio Rodrigues. Em couro branco e madeira clara

A mudança para novo endereço, o terceiro nos Jardins, requeria novidades, e eis que o desejo de um sofá que acompanhasse as dimensões antigas do novo endereço transformou-se em realidade num grande exemplar italiano 3mx1,10m estalando de novo, uma daquelas peças lindas e poderosas que põe convidados enfileirados numa festa – e ainda tem a vantagem de permitir o afastamento social nos dias de hoje.

Em andar superior do prédio peguei uma segunda unidade menor, mania de grandeza que me acompanha e que serviu para abrigar dois exemplares do filho que partia do País e já deixava sofás de herança, entre outros muitos móveis.

No mesmo CEP 014, o sexto endereço permitiu novo décor que sugeria um sofá curvo e assinado pela arquiteta. O grandão ficou no apartamento próprio que foi ocupado todo decorado por um diplomata estrangeiro que, no entanto, precisava de dois ambientes de estar – donde, no mínimo, dois sofás.

Na troca de móveis e objetos com outra amiga lá veio um sofá de fibra e couro da Artefacto, praticamente vintage. Neste meio tempo passei por tempos descolados, mas difíceis em duas residências alternativas – no Centro e em Pinheiros, logo abandonadas. Não ornou…

Já na mudança mais recente para o quarto-sala-cozinha aberta, tudo lindo no prédio cult, durante a pandemia, só parou o sofá curvo. Tem servido de cama na sala, onde está a TV – o Florence Knoll da Forma tão proporcional que o genro emprestou não ficou do jeito que eu queria, e o guardei num depósito. Mas não acabou aí.

Existem planos e o futuro local deverá ter três sofás entre os que restaram de tantas idas e vindas – terão sido 10 exemplares no total, pelo menos (mas acho que fui injusto e omiti um, não lembro…).

O mais importante foi a lição, e que agora chamamos de aprendizado: os sofás, além de bonitos, devem ser os mais confortáveis, nos quais se pode sentar com prazer, receber com garbo, trabalhar sentado ou deitado no computador ou no telefone, como faço ao escrever estas crônicas.

Novos tempos nos ensinaram pelo menos que, numa casa, quase tudo é dispensável, mas um sofá é o seu melhor e inseparável companheiro, mais importante até que o cachorro.

E agora que os utilizamos quase o tempo todo, serão eternos enquanto durem!
Para quem não contou, eu conto: foram no mínimo 10 mudanças e algo como 10 sofás, e a vida continua..

Foto da capa: Apartamento Gabriel /  Projeto: Juliana Vasconcellos.

Sergio Zobaran

 

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tag: sofá

 

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