MULHERES SUPERPODEROSAS

0 Ações
0
0
0

Mulheres Superpoderosas no Design

O mundo do design / design de interiores conhece o sofá abaixo – o LC2 – como de autoria de Le Corbusier (o que justifica sua sigla). Esta foto é de um apartamento em que morei, onde a peça central é o sofá LC2, e cuja autoria não é apenas de Le Corbusier, mas também – e principalmente – de sua esposa, Charlotte Perriand, o nome por detrás de excelentes móveis desenhados para a escola Bauhaus.

Em uma época em que ainda era bastante incomum que uma mulher se tornasse arquiteta, desenhista e artista, a carreira de Perriand (24/10/1903 > 27/10/1999) tinha uma proposta muito clara – de que o design de suas peças refletisse o caráter de seu tempo, tomando emprestado ideias da indústria automobilística e/ou aeronáutica, resultando em objetos transcendentais na história do design. Ao longo de sua vida, Charlotte trafegou em várias áreas, e colaborou com arquitetos como Lucio Costa, Niemeyer, e teve um trabalho importantíssimo na investigação da pré-fabricação e modularidade na habitação, em colaboração com Jean Prouvé. Sua carreira se estendeu ao longo de três quartos de século, abrangendo lugares diversos como o Brasil, Congo, Inglaterra, França, Japão, Suíça e Vietnam, entre outros.

Este meu sofá me acompanha há décadas, já se misturou a diversos estilos de decoração (não sou geminiano impunemente…), e é uma prova de que o bom design resiste, dura e transcende literalmente a épocas e estilos.

Mulheres Superpoderosas no Design. sofá – o LC2 – como de autoria de Le Corbusier (o que justifica sua sigla) e cuja autoria não é apenas de Le Corbusier, mas também – e principalmente – de sua esposa, Charlotte Perriand.

 

A foto abaixo, o projeto de meu amigo Nildo José para a Casa Cor São Paulo 2024, ostenta um dos sofás mais fotografados deste evento, autoria de outra mulher – Roberta Banqueri, outra querida amiga que recebeu, recentemente, o prêmio de Designer do Ano 2024 por uma importante revista do setor.

Conheci Roberta há anos, quando ainda era designer de interiores, quando ela me expressou o desejo de orientar sua carreira para o design de produtos. Foi estudar em Milão e hoje é uma das mais profícuas designers de nosso país, com um portfolio de produtos já grande dada sua carreira ainda curta.

Essas duas imagens me fizeram pensar na história de mulheres que tiveram relevância no universo do design, mas que por motivos diversos, não são conhecidas do grande público. E elas são muitas…

Mulheres poderosas no Design. Casa Cor São Paulo 2024, ostenta um dos sofás mais fotografados deste evento, autoria de outra mulher – Roberta Banqueri, que recentemente, o prêmio de Designer do Ano 2024 por uma importante revista do setor.
Ambiente de Nildo José para a Casa Cor São Paulo 2024 / Fotografia: Denilson Machado

 

Começo pela arquiteta e artista Mirthes dos Santos Pinto (10/08/1934 > 18/12/2020), que em 1966 criou o icônico desenho das calçadas de São Paulo. A clássica padronagem por trás dos módulos que conformam graficamente o mapa deste estado partiu através da ideia de um antigo prefeito da cidade, João Vicente Faria Lima, que na década de 1960 lançou um concurso para o novo calçamento da cidade.

Mirthes, que à época trabalhava como desenhista na Secretaria de Obras da Prefeitura de São Paulo, criou um mapa estilizado do Estado, a partir de módulos quadrados em peças geométricas brancas e pretas, que se alternavam ora em cor sólida, ora pintada com a variação pela diagonal da peça, criando um padrão quase hipnótico. Segundo a artista, tudo teria acontecido de maneira espontânea.

“…eu comecei a rabiscar e surgiu o mapa. Foi sem querer! Rabisquei um desenho lá e larguei na gaveta. Meu chefe na época abriu a gaveta e viu o desenho, comentando “nossa, que legal! De quem é?”. Respondi “Eu que rabisquei”, e ele então disse “passa no vegetal que você vai concorrer!”. Na comissão julgadora de 17 pessoas, a proposta de linhas simples, modular e original consagrou-se como a vencedora.

Por motivos legais, a artista realizou a patente da criação em desenho industrial, sendo informada que teria direito a uma porcentagem por calçada implantada. Infelizmente, mesmo com a execução de milhares de metros quadrados por toda a cidade de São Paulo ao longo de mais de 50 anos, a autora não teria recebido os valores devidos.

 arquiteta e artista Mirthes dos Santos Pinto (10/08/1934 > 18/12/2020), que em 1966 criou o icônico desenho das calçadas de São Paulo.

icônico desenho das calçadas de São Paulo.

 

As novas gerações talvez não saibam que, num passado recente, não existiam telefones celulares, e que os telefones fixos eram uma forma de comunicação muito constante. E é de autoria de outra mulher, a sino-brasileira Chu Ming Silveira (04/04/1941 > 18/06/1997), vinda de Xangai aos 10 anos de idade, um dos maiores sucessos de mobiliário urbano ligado à telefonia, pois foi ela a criadora do famoso “orelhão”.

Formado pela Faculdade de Arquitetura do Mackenzie (SP), notabilizou-se peça concepção destes protetores telefônicos. Ícones do design brasileiro e do mobiliário urbano mundial, o ponto de origem de seu bem-sucedido projeto foi o formato do ovo, segundo a designer “…a melhor forma acústica”. A curvatura deste protetor oferecia uma projeção acústica entre 70 e 90 decibéis, e os ruídos externos quase não interferiam nas ligações.

Entre 1968 e 1972, chefiou o Departamento de projetos da Companhia Telefônica Brasileira, sendo que em 1971 desenvolveu os projetos dos “orelhões” como ficaram popularmente conhecidos, embora tenham sido batizados por Chu1 e Chu2. Ao longo de sua carreira, em continuidade ao seu trabalho voltado ao mobiliário urbano, elaborou projetos de bancas de jornais e bancas de flores a serem construídos em fibra de vidro, a exemplo dos protetores telefônicos que a notabilizaram.

Em virtude do sucesso deste projeto, já em março de 1972 (menos de um ano depois da implementação dos orelhões nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo), a CTB comemorava um acréscimo de 12% na média diária de chamadas em telefones públicos. E, a partir de 1973, este projeto foi exportado para a África, Peru, Colômbia, Paraguai e até mesmo a China, país de sua criadora.

Mulheres poderosas no Design. é de autoria de outra mulher, a sino-brasileira Chu Ming Silveira (04/04/1941 > 18/06/1997), vinda de Xangai aos 10 anos de idade, um dos maiores sucessos de mobiliário urbano ligado à telefonia, pois foi ela a criadora do famoso “orelhão”.

Mulheres poderosas no Design. é de autoria de outra mulher, a sino-brasileira Chu Ming Silveira (04/04/1941 > 18/06/1997), vinda de Xangai aos 10 anos de idade, um dos maiores sucessos de mobiliário urbano ligado à telefonia, pois foi ela a criadora do famoso “orelhão”.

 

Não poderia jamais deixar de citar uma paixão recente neste campo – Anni Albers (12/06/1899 > 09/05/1994), artista têxtil, pintora e designer alemã, professora de arte na Escola Bauhaus. Em seu trabalho, Anni combinou o ancestral ofício da tecelagem manual com o design da Arte Moderna.

Apesar de ser uma das mais importantes pioneiras da arte têxtil – uma geração à frente do movimento FIber Art nos Estados Unidos e na Europa, e ao menos duas gerações à frente de muitas práticas da Arte Contemporânea, ela na época não teve o reconhecimento devido como artista inovadora e influente (como o foram reconhecidos seus colegas homens da Bauhaus), tendo sua obra reconhecida mais tardiamente – talvez em virtude de ter sido casada com um artista de obra potentíssima e seminal na História da Arte Moderna, Joseph Albers.

Anni recebeu, em 1961, o prêmio Medalha de Ouro do Instituto Americano de Arquitetura (AIA) por seu trabalho artesanal, e em 1981 outra medalha de Ouro pelo American Crafts Council. Foi a primeira artista têxtil a ter uma exposição individual em um importante museu mundial, o MoMa em 1941, e mais recentemente teve sua obra revista no Museu Guggenheim Bilbao. Anni Albers é frequentemente considerada a mais famosa artista têxtil do século XX, por suas inovações neste campo, e também por ter expandido os limites desta arte através de sua técnica e conceitos estéticos.

Anni Albers (12/06/1899 > 09/05/1994), artista têxtil, pintora e designer alemã, professora de arte na Escola Bauhaus. Em seu trabalho, Anni combinou o ancestral ofício da tecelagem manual com o design da Arte Moderna.

Anni Albers (12/06/1899 > 09/05/1994), artista têxtil, pintora e designer alemã, professora de arte na Escola Bauhaus. Em seu trabalho, Anni combinou o ancestral ofício da tecelagem manual com o design da Arte Moderna.

 

Ainda na área têxtil, não poderia de deixar de citar Gunta |Stöltz (05/03/1897 > 22/04/1983), outra artista têxtil alemã pioneira em sua área, que desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da escola Bauhaus.

À ela se credita a mudança de percepção neste segmento, ao transformar obras pictóricas individuais em desenhos industriais modernos. Seu trabalho define e caracteriza o estilo distinto dos têxteis da Bauhaus (e eu tive a oportunidade de utilizar uma manta desta escola em uma vitrine recente, uma peça que guardo com muito cuidado e carinho dada sua idade e integridade física). Recentemente, uma empresa brasileira ganhou o prêmio Design Awards 2024 da Elle Brasil com uma coleção chamada Projeto Gunta, desenvolvida pela artista e designer têxtil Clarisse Romeiro, o que prova a modernidade do trabalho desta artista/designer.

Ainda na área têxtil, não poderia de deixar de citar Gunta |Stöltz (05/03/1897 > 22/04/1983), outra artista têxtil alemã pioneira em sua área, que desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da escola Bauhaus

Ainda na área têxtil, não poderia de deixar de citar Gunta |Stöltz (05/03/1897 > 22/04/1983), outra artista têxtil alemã pioneira em sua área, que desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da escola Bauhaus

 

Por sorte hoje as mulheres não apenas conquistaram seu espaço no campo do design, como também fizeram com que seus nomes estejam na proa deste universo, em produtos das mais diversas origens. Como é o caso de Ana Neute, uma designer com grande sucesso no campo da iluminação,, que desenha peças cheias de poesia e de qualidade internacional, como provam as luminárias acima, onde o vidro parece “escorrer’ de uma peça de metal, belíssimas – ainda mais quando em conjunto, como a foto abaixo.

Mulheres poderosas no Design. Ana Neute, uma designer com grande sucesso no campo da iluminação,, que desenha peças cheias de poesia e de qualidade internacional, como provam as luminárias acima, onde o vidro parece “escorrer’ de uma peça de metal, belíssimas – ainda mais quando em conjunto, como a foto abaixo.

Ana também desenha móveis para algumas das boas marcas do mercado, mas é nas luminárias que vou focar, pois seus produtos (feitos para a marca Itens) conjugam referências ancestrais com tecnologia de ponta, em um belíssimo diálogo. Estou querendo muito esta luminária abaixo, delgada, que produz uma luz belíssima, e apesar de seu desenho arrojado, ainda não competiria com os quadros de minha sala de jantar, e casaria perfeitamente com minha mesa oval (de minha autoria…rs) em imbuia.

Mulheres poderosas no design, luminária de Ana Neute.

 

Este tema ainda vai render muito, pois o número de designers mulheres conhecidas – ou nem tanto – é muito grande, e temos não apenas que valorizar as criadoras do presente, como (e principalmente) contextualizar as criadoras do passado frente à qualidade de seu trabalho e dar-lhes o lugar devido na história do Design.

Wair de Paula Jr.

Já segue a Conexão Décor?

Siga o nosso Instagram e Facebook e acompanhe as novidades sobre decoração, arquitetura e arte.

 

 

 

 

Tag: Mulheres poderosas no Design

comentários

0 Ações
Deixe um comentário
TAMBÉM PODE GOSTAR