No princípio, era Joaquim Tenreiro…Para mim assim começa a grande mudança na percepção do mobiliário contemporâneo brasileiro.
Embora seja creditada à Sérgio Rodrigues esta mudança de olhar, eu ainda vejo na poltrona acima, do português Joaquim Albuquerque Tenreiro, marceneiro, designer, pintor e escultor, que embora não tenha nascido no Brasil, é o que pode ser considerado o pai do que melhor foi produzido no design brasileiro do Século XX, graças à sua precisão e preocupação com detalhes.
Um sábio uso das madeiras nacionais e um desenho que discursava com seu primeiro grande cliente, Oscar Niemeyer, foram alguns dos fatores que transformaram este designer no criador das peças mais icônicas e desejadas – e que, atualmente, atinge preços bastante significativos nos leilões internacionais.
Depois deste período fértil do design de móveis no Brasil, com vários criativos produzindo peças maravilhosas, passamos por um período de criatividade ligada no automático, perdendo inclusive uma noção muito rica de manufatura, que era o forte de nosso mobiliário. Exportamos nossas melhores madeiras in natura, e o mercado começou a copiar o que se vendia lá fora, com raras exceções.
Mas…Com o advento das redes sociais, a informação original começou a preponderar, e nosso design começou a se reposicionar em um lugar de proa, e começo com o trabalho delicado de Ricardo Graham Ferreira, a.k.a. O Ebanista.
E ilustro com a cadeira 3 Pés, criada em 2014 a partir da ideia de uma geometria simples, nos moldes da poltrona de Tenreiro que abre este post. Aqui na versão em uma madeira pouco utilizada em solo brasileiro, o roxinho, que tem uma cor natural absurda de tão linda, e que é pouquíssimo utilizada em nossas casas.
Não poderia deixar de citar Hugo França, com suas peças que trafegam entre a escultura e o utilitário, e a banqueta Ajajá, da foto acima, é uma daquelas peças que provocam desejo imediato em consumir, tamanha sua beleza, organicidade e respeito ao material bruto.
Designer autodidata, o trabalho de Hugo é transformar troncos, raízes e partes de árvores que normalmente são rejeitadas. Desenhando diretamente na madeira, seguindo as linhas criadas pela natureza, ele recria a matéria prima de forma quase espontânea, mas que é fruto de um profundo conhecimento do material. Respeito e design de primeira.
Diz o ditado que filho de peixe, peixinho é. Zanini de Zanine – ou Zanininho, como é intimamente chamado – não foge ao lema, e seguindo o histórico familiar, trabalha com a madeira de forma absolutamente original, criando objetos ou cadeiras únicas – como é o caso da Cadeira Osupa, única no desenho e na criação, pois só foi feito uma mesmo segundo seu criador. O que é uma pena, eu teria esta cadeira em minha casa com muito prazer, seu desenho tem uma cumplicidade com as culturas ancestrais que muito me agrada.
Confesso estar alucinado por esta poltrona de Vicente Lo Schiavo. A poltrona Ite é rica em símbolos, proporções estranhas, um ornamentalismo milimetricamente pensado, quase um discurso materializado em madeira.
Não se encaixa em nenhum período ou origem que eu consiga definir, tem uma ancestralidade estranha, quase totêmica, mais remete a um trono do que a uma poltrona propriamente dita. Já disse que estou alucinado por ela?
Já as cadeiras de Tatiane Freitas não foram feitas para sentar-se, e sim para pensar. A artista plástica parece se utilizar de conceitos neurológicos – não consigo ver estas peças sem pensar na ideia de “membro fantasma” – explico: quando o ser humano perde um membro de seu corpo, sua mente demora a realizar esta perda, e ele ainda tem a sensação de que aquela parte do corpo ainda está lá, mesmo que amputada, extirpada.
Aqui estas peças traduzem de forma visual este conceito, utilizando o acrílico transparente para “reestruturar” o todo, mas de forma transparente, quase frágil, em um contraste muito instigante.
Ainda no campo da arte, as cadeiras impossíveis do artista mineiro Luiz Philippe Mendonça, que traz uma nova perspectiva para os objetos do cotidiano. A cadeira de pernas cruzadas, em jacarandá e palhinha, na melhor fatura tipicamente mineira, traz um discurso quase surrealista transformando a peça em usuário, uma ideia delicada e deliciosamente travessa, e ainda assim extremamente bem executada, como se fora uma cadeira dentro das normas padrões, mas aqui totalmente subvertida e ressignificada.
E, last but not least, as poltronas de meu amigo, o designer Mauricio Marquez, que embora tenha nascido no Brasil vive e trabalha em terras lusitanas.
Apaixonado pelo design brasileiro, desenvolveu uma linha apropriadamente denominada “Brasiliana”, onde os principais elementos de nosso design voltam, agora sob nova e original roupagem – o uso perfeito das madeiras, o design atemporal e o conforto visível aos olhos.
Aqui, as poltronas Karajá, Totó e Itauna ilustram esse discurso impecável – a brasilidade presente nestes produtos, esta valorização de nossa regionalidade, como forma de apresentar um produto único, original e por isso mesmo, universal.
Ainda não chegaram ao mercado, a data prevista para estas chegarem nas lojas é em setembro deste ano (estas e mais algumas complementares), e já estão fazendo barulho antes mesmo de chegarem às lojas – ou seja, o mercado percebeu que estes produtos estão totalmente afinados com os desejos, conscientes ou não, dos especificadores e clientes de alto padrão.
Em suma – em breve veremos, nos melhores perfis e sites de nosso segmento, peças cheias de bossa, únicas em seu conceito, clássicas ou divertidas, mas todas 100% originais. E brasileiras.
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1 comments
O Wair de Paula é excelente! Não perco uma matéria dele!!