De Rerum Natura, ou Sobre a Natureza das Coisas, é um poema escrito no século I A.C., por Tito Lucrécio. Para este, a substância é eterna, e o Universo é composto de átomos e vazio, nada mais. E, segundo este poema, o Homem (normal) evita a dor e procura tudo aquilo que lhe dá prazer.
E eu não poderia pensar em outro poema para iniciar este post, quando estou falando das peças de Brunno Jahara. Essas peças da coleção GEODES, que exploram o poder do brilho e magnitude dos cristais cercados de metal dourado ou prateado, me dão tanto prazer quanto possível seria para um simples prato de frutas ou doces.
Aqui, a natureza da matéria prima se impõe sobre o design, que, magnânimo, cede sua condição de coadjuvante com muita propriedade. Essas fatias de cristal contêm cores e formas insólitas, extremamente elegantes, e podemos considerar que todas as peças desta coleção são literalmente peças únicas – já que não existe a possibilidade de uma rocha ser igual à outra. E esse caráter de unicidade sempre me fascina. Num mundo contemporâneo ter uma peça que é única no mundo, por um preço acessível, é um luxo…
Os abajures da linha são igualmente fascinantes. Aqui, as pedras parecem brotar da estrutura metálica, de formato simples, porém elegante, transformando por completo um abajur que poderia ser simplesmente bonito em algo extraordinário.
Particularmente, gosto muito de abajures que refletem este tipo de luz, pois o ambiente fica mais bonito, e quem está nele também recebe uma luz mais generosa – tudo dentro dos princípios do poema que inspirou este post. Num dado momento, precisamos de ornamentalismo para contrapor à dureza das questões cotidianas, nem que seja como válvula de escape…
Ainda nesta seara, as mesinhas escandalosamente lindas do designer Fernando Akasaka (disponíveis na Firma Casa), com estrutura de bronze e tampo de Quartizito Blue Mare, estão no topo de minha wish list (junto com o abajur acima). Essa aparência de fatura manual, essas irregularidades nos pés parecem algas metálicas que brotaram do chão, estalagmites douradas a caminho dos céus. Um desenho preciso e precioso, e esta proposta não termina neste produto – continua na mesinha abaixo, igualmente sedutora.
Esta mesinha tem um cotê Daliniano – não no sentido surrealista. Mas lembra um pouco as imagens do famoso artista espanhol, com suas patas longilíneas e quase em movimento. O deslocamento proposto entre tampo e pés provoca uma sensação de inquietude e agitação maravilhosas, e novamente – este acabamento dos pés, que parece ter vida própria – é um oásis de ousadia num mundo de peças lisas e polidas ao extremo. Realmente, preciso muito de uma mesinha destas em meu acervo…
Minha amiga querida Kimi Nii é uma das maiores artistas plásticas que trabalha com cerâmica que conheço. E sua leitura da natureza sempre gera obras instigantes, maravilhosas, de acabamento primoroso. Fora seus objetos utilitários (pratos, vasos, bowls, etc…), o trabalho escultural de Kimi Nii é de primeira grandeza. Ela consegue sintetizar elementos da natureza em formas muito elegantes, quase monásticas, e de alto impacto visual.
Ela tem uma série de plantas superelegantes, mas estas que me lembram espinhos me soam literalmente fantásticas. Novamente, aqui o gênio do artista se manifesta de forma sutil e quase subliminar – parece que estes espinhos nasceram, e que continuarão a crescer, em um maravilhoso paradoxo com a matéria prima estática depois de queimada. E – para quem conhece o trabalho em cerâmica, que quase tem vontade própria – é fascinante ver como ela consegue criar e dominar estes volumes de forma tão precisa e segura.
E os acabamentos são outro ponto positivo na obra desta artista. Os pigmentos azuis aparecem ou em detalhes ou no todo da obra, causando uma estranheza ainda maior – parecem terem sido retirados de uma natureza de outro planeta, suas formas aparentemente erráticas reproduzem os padrões da natureza de maneira poética e sensível. Eu sou fã desta artista, assumo. Ela consegue me emocionar com estas esculturas, que apesar de terem feito sob o rigor oriental de sua criadora, parecem ter vida própria, em um discurso fascinante.
Ainda no campo das formas da natureza, a coleção Tamarilho, design de Ana Neute para a Itens Collections, com haste em latão polido e cúpula em vidro soprado, é pura delicadeza. A coleção é composta de dois tipos diferentes de pendentes, duas arandelas e do abajur acima, e esse desenho quase art nouveau revisitado é extremamente elegante. E a luz provocada por estes bulbos em vidro soprado igualmente agradáveis.
Esta jovem marca de luminárias se destaca no mercado pela busca incessante de novos designers e novas propostas, e o mercado tem respondido à altura – já podemos ver as peças desta marca em vários bons projetos atualmente. Prova de que o binômio originalidade + qualidade realmente seduzem.
Feito sob encomenda para compor o visual merchandising de uma famosa marca de móveis planejados, o Estudio Manus concebeu as esculturas acima. Este estúdio tem na pesquisa de materiais e na ousadia de suas propostas o cerne de seu trabalho, sempre com resultados poéticos e/ou fascinantes. Eles têm um sentido de subversão dos padrões que me comove, e o lirismo que acompanha esta – e outras peças da coleção – é um elemento definitivamente agregador à marca.
E termino este post com a obra do artista plástico Walmor Corrêa, atualmente sendo exibida no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. A exposição Sobre Pássaros, Sinapses e Ervas Energéticas tem uma poética fundamentada na ambivalência, na dualidade dos discursos e dos sistemas. A peça acima – Coração da Bananeira – parece uma interpretação real do termo, e Walmor se utiliza das fissuras no discurso científico para criar obras instigantes, inquietantes, uma exposição que faz você pensar e ter vontade de voltar para rever algumas peças e entender alguns conceitos explicitados nesta mostra imperdível.
Drummond vaticinou que a natureza não faz milagres, faz revelações. E os designers e artistas deste post, como seres criativos e sensíveis, se aproveitam desta máxima para extrair os conceitos de seus trabalhos, com resultados sempre surpreendentes, uma prova do manancial inesgotável de informações e inspirações que a natureza pode oferecer.
O poeta que inspirou este post acreditava que, quando alguém morre, seus átomos de sua alma e de seu corpo continuam a sua essência, dando forma a rochas, plantas, lagos, flores. Se não é vero, ou cientificamente provado, é extremamente poético…
Endereços: brunnojahara.com | homedesign.com.br (Fernando Akasaka) | itenscollections.com | kiminii.com.br | institutotomieohtake.org.br
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