ARTE É MEMÓRIA

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Quem, interessado em arte, não começou sua coleção, hoje pequena ou grande, com a compra de um pôster? Na minha geração foi assim.

Para mim, com os “affiches” trazidos de fora: das lojinhas de museus ou das touradas de Madri. Daqui mesmo, chegaram outros cartazes, todos colados em placas de Duratex sobre um chassis, com imagens psicodélicas, garimpados num hippie center da vida carioca – e também alguns néons com figuras ou dizeres que fizeram parte de um primeiro tempo da vida.

Depois dessa fase, vieram alguns outros cartazes inesquecíveis, relativos a espetáculos de dança (como o da companhia Alvin Ailey Dance Theater), de música erudita (Gewandhaus Orchester de Leipzig), e do jazz (Miles Davies), que divulgava, entre dezenas de outros, como assessor de imprensa. E em seguida passei a cobiçar, e eventualmente a comprar, peças de autores que conheci nas reportagens da Rádio JB e do Caderno B do Jornal do Brasil, como José Zanine Caldas, das mãos de quem levei duas pequenas esculturas ao fim de uma entrevista.

Ao longo da vida profissional ligada à assessoria e aos eventos, tive o privilégio de fazer muitas trocas de trabalhos – a reconhecida permuta – com galerias de arte, como a Saramenha, no Shopping da Gávea, e diretamente com grandes artistas plásticos brasileiros, como Eduardo Sued e Iole de Freitas, além daquelas peças que ganhava, como por exemplo, as suaves serigrafias da inesquecível mestra Fayga Ostrower, ou mais densas – de Renina Katz e Antonio Dias a Anna Bella Geiger, Victor Arruda…

O tempo passou, os cartazes sem moldura ou vidro envelheceram, as gravuras mofaram ou desbotaram, e as vontades mudaram. Ficou o pouco que também era bom e de qualidade, e com durabilidade indiscutível, as que considero “minhas” obras de arte, aí já mais contemporâneas ainda, além de únicas. Mas estas trouxeram, em meu critério particular de escolha, uma grande dificuldade: a falta de dinheiro para comprá-las em maior quantidade.

Mudei o rumo em São Paulo e passei a adquirir o que podia nas Galerias Mônica Filgueiras e Jaqueline Martins. Eram pequenas obras, especialmente esculturas, de artistas consagrados, como Paulo Roberto Leal, entre outros. Ganhei em lote da Almavera novas gravuras de gente importante como Leonilson, Leda Catunda, Hércules Barsotti, Anna Maria Maiolino, além de fotografias dos amigos como Beto Riginik, Renato Elkis e de outros artistas que estavam na moda.

Hoje, 15 mudanças depois, o olhar amadureceu, o gosto mudou, as paredes diminuíram, algumas coisas ficaram para trás, dadas de presente até de casamento, trocadas ou vendidas, e algumas permanecem, acompanhando a trajetória, e parecem estar ali desde e para sempre – será?

Resgates de itens da casa dos pais e até de outros parentes vieram se somar a um dos conceitos atuais que mais reluto em aceitar – a tal da memória afetiva -, mas que toma conta de mim quando me vejo apreciando uma excelente tapeçaria em lã e com tema flora tropical da prima Margarida Zobaran, de 1968; o velho Scliar em preto e branco dos anos 1970; meu retrato sobre tela, já grisalho aos 50 e poucos, por Rodrigo Cunha; um Pão, de Christiana Bernardes, comprado com Valu Ória; e um baixo relevo sensacional de bronze, de Carybé, que muito me lembra as frisas dele acima dos elevadores do Hotel da Bahia (hoje da cadeia Wish).

É o que a casa nova do Rio vai receber. Apenas essas seis obras, escolhidas a dedo entre aquilo que mais me representa: o passar do tempo, desde 50 anos atrás, até os dias de hoje, e a contemporaneidade que aporta através de uma escultura recente de Erika Verzutti. Ah, tem também as esculturas do Zanine (pai) e do Zanini (filho), um presente com meu nome gravado a fogo junto ao dele na peça de madeira maciça. Então são oito no total. E está bom assim!

Tenha você a história ou o gosto que tiver, condizente, diferente ou mesmo colidente com o meu, a arte pode lhe oferecer prazer estético, evocar boas lembranças, dar sossego à alma, e apontar o seu olhar para o futuro, pois é para ele que nos dirigimos, se tudo der certo, daqui em diante.

Foto da capa: A escultura em cerâmica Beijo é assinada pela artista plástica Erika Verzutti

Sergio Zobaran

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TAG: Arte

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