Atualmente entendemos que a nossa casa é o lugar em que contamos a nossa história, onde nos conectamos com o que somos verdadeiramente e que cada ambiente é pensado considerando não a apenas as suas funções, mas também a relação que cada usuário tem com estes espaços.
No entanto, os espaços ou ambientes como conhecemos hoje são frutos de um processo que se deu e foi se ajustando ao longo da história.
Neste artigo vou tratar de um espaço comum em qualquer residência, o espaço onde promovemos encontros, recebemos as pessoas, ou seja, podemos considerar como um dos primeiros ambientes destinados exclusivamente a convivência, a sala de estar.
Mas não consigo falar da Sala de Estar sem voltar no tempo, e falar da casa da antiguidade clássica. Até porque nossa referência é a cultura da Europa Ocidental.
Neste caso, o lugar que nos ajuda a entender a nossa história é a casa romana, mais especificamente a casa pompeiana. Nesta imagem, que é a ruína da casa de uma família abastada, a Sala de Estar, como entendemos hoje, não existe.
O que podemos chamar de um lugar de socialização é formado por um conjunto de cômodos dispostos em eixo a partir da entrada formado pelo fauces, atrium e tablinum, respectivamente o acesso, o pátio central e uma espécie de gabinete ou escritório onde o dono da casa recebia pessoas para negociar. Eram, portanto, espaços sociais que deveriam ser suntuosamente decorados para refletir a posição social do proprietário.
Bem, a sala de estar como conhecemos hoje só surgiu entre os séculos XVII e XVIII.
Depois da antiguidade clássica entramos no período da Idade Média e nesta época por questões sociais e religiosas, os espaços domésticos eram bastante simples. Praticamente em um único cômodo se realizavam todas as funções, dormir, comer, cozinhar etc.
O termo para designar o espaço de viver só apareceu em 1690 quando Augustin Charles d’Aviler usou a expressão “living” ou “living room” (sala de viver ou sala de estar) em seu Curso de Arquitetura. Isso coincide com a época em que Reis e nobres europeus começaram a buscar por espaços mais privativos em seus palácios e castelos.
Luxo, ostentação X privacidade nortearam a formação dos espaços da casa, os mais luxuosos e decorados eram os ambientes voltados para as festas, recepções, jantares e encontros com visitantes de um modo geral. Isso remonta ao século ao século XVII quando Versailles se tornou a grande inspiração para a famílias mais abastadas. Todo esse olhar para a casa, com uma nova distribuição dos espaços, coincide com o período em que a arquitetura e a engenharia começaram a organizar seus cursos com a publicação de manuais que orientavam as novas funções da casa.
A partir do século XVIII a arquitetura do conforto começou a pensar em espaços mais privativos. Ainda foram mantidos os cômodos para ostentar, receber e exibir, mas novos ambientes exclusivos para a convivência privada e com maior conforto passaram a ser objeto de desejo das classes mais abastadas.
O manual de Percier e Fontaine, os principais arquitetos da corte francesa na passagem do século XVIII para o XIX, é um dos exemplos de como os padrões decorativos elaborados por eles influenciou toda uma geração de arquitetos e decoradores contribuindo para a difusão do Neoclássico pelo mundo. Vemos então que a partir do século XIX o olhar para a casa e especialmente para os espaços de convívio passaram a ser tratados com mais cuidado e atenção por seus habitantes.
Foram criadas novas salas para usos específicos, ambientes em que os moradores recebiam pessoas mais íntimas podendo ser menos cerimoniosos entre amigos e familiares, para estes espaços mais íntimos o conforto era o foco principal.
As nossas casas de hoje, na sua maioria, só têm uma sala conhecida como Sala de Estar. Ela é fruto da união entre os espaços para exibir, com seus melhores móveis versus cadeiras e sofás confortáveis, ou seja, mantivemos um pouco de cada era.
Era da Suntuosidade que deseja mostrar e encantar o visitante + Era do Conforto que traz a comodidade e o bem-estar.
Somos três historiadores da arte e arquitetos – Lourdes Luz, Kátia Souza e João Torres – que criamos o canal Arte IN FORMA por sermos entusiastas em arte, história e cultura. Acreditamos que isso pode informar, formar e transformar a todos.
Lourdes Luz, Kátia Souza e João Torres
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