Paris desconhecida

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É muita pretensão achar que Paris pode ser chamada de “desconhecida”, já que é a cidade mais visitada do mundo por turistas. Isso também serve para aqueles que nunca puderam viver e experimentar in loco a capital francesa, pois ela é inspiração de cineastas, músicos, artistas e apaixonados. Será que ela realmente é desconhecida?

Em paris, a imagem da Torre Eiffel vista por um ângulo pouco comum, de baixo. Símbolo da França, a “Madame de Ferro” foi erguida em 1889 para celebrar o centenário da Revolução Francesa. / Foto: João Torres
Símbolo da França, a “Madame de Ferro” foi erguida em 1889 para celebrar o centenário da Revolução Francesa. / Foto: João Torres
Construção gótica iniciada no final do século XII, a Notre Dame é a queridinha de Paris. / Foto: João Torres
Construção gótica iniciada no final do século XII, a Notre Dame é a queridinha de Paris. / Foto: João Torres

Quem nunca viu a Torre Eiffel em cartazes de publicidade de turismo ou em filmes?  E a famosa Catedral de Notre Dame, nem que seja pelo olhar do Corcunda? Ou as sedutoras dançarinas de cancan? Ou quem sabe através da gastronomia tão histórica, conceituada e célebre?

Porém, o Arte IN FORMA, assim mesmo, vai tentar apresentar uma Paris desconhecida, ao menos pela maioria dos turistas brasileiros. Será uma “viagem” cultural e histórica para o leitor do Conexão Décor, sem sair de casa.

Era uma vez…:

Museu Carnavalet. Aqui, antigas insígnias metálicas publicitárias para marcar e sinalizar um estabelecimento comercial. Esses emblemas desenhavam a paisagem urbana de Paris, séculos atrás. / Foto: João Torres
Museu Carnavalet. Aqui, antigas insígnias metálicas publicitárias para marcar e sinalizar um estabelecimento comercial. Esses emblemas desenhavam a paisagem urbana de Paris, séculos atrás. / Foto: João Torres

No bairro de Bercy (12º arrondissement) foram encontrados vestígios de uma antiga e pequena população que ali habitava há 6mil anos, às margens do Rio Sena. Mas não é lá que o viajante vai se deparar com essa Paris pré-histórica. É melhor visitar o Museu Carnavalet, localizado no charmoso bairro do Marais, dedicado à história da formação da cidade através de objetos, vestimentas, sapatos de 500 anos, mobiliário, esculturas e pinturas retratando a construção da cidade desde tempos remotos até o século XX.

Museu Carnavalet. Canoa em carvalho, uma das principais peças do acervo pré-histórico do museu.
Canoa em carvalho, uma das principais peças do acervo pré-histórico do museu. / Imagem via carnavalet.paris.fr

Ali está exposta uma canoa neolítica de 5 metros de comprimento, encontrada em escavações nos anos de 1990, em Bercy. Se escolher um domingo para visitar o museu, será privilegiado, pois as ruas do bairro ficam abertas para pedestres e é sempre uma animação.

Um outro local bem interessante para conhecer melhor a história da cidade de Paris "desconhecida" é a Crypte Archéologique,
Achado Arqueológico No coração da capital, o visitante faz uma viagem ao tempo. / Foto: João Torres

Um outro local bem interessante para conhecer melhor a história da cidade é a Crypte Archéologique, que fica no subterrâneo da praça em frente à Notre Dame, em uma entrada escondida. Ali, restos de alicerces e paredes revelam ao público as primeiras habitações do povo celta/gaulês, chamado Parisii, de 2,2mil anos atrás. Tribo, essa, que, somente no século IV d.C, deu nome à atual cidade. Os parisii instalaram-se na Île de la Cité no século III a.C, pois ali já se fazia rota fluvial comercial entre a Inglaterra e o Mediterrâneo: era um local estratégico. O rio Sena era a razão da existência dessa pequena aldeia de pescadores, e se estabelecer na ilha dava-lhes proteção.

Pontos de uma Paris "desconhecida". Anfiteatro construído no século II, destruído pelos bárbaros posteriormente, suas pedras serviram para erguer a muralha de proteção da Île de la Cité, soterrada com o tempo, e redescoberta em 1869. / Foto: João
Anfiteatro construído no século II, destruído pelos bárbaros posteriormente, suas pedras serviram para erguer a muralha de proteção da Île de la Cité, soterrada com o tempo, e redescoberta em 1869. / Foto: João Torres

Os séculos se passaram e, em 55 a.C, a locomotiva chamada Império Romano conquistou os Parisii. Dessa forma, a cidade expandiu o seu território para além da ilha, ocupando a margem esquerda do Sena. E seu nome latino passou a ser Lutèce. Por isso, as ruínas do anfiteatro romano, localizado no 5º arrondissement, chama-se Arènes de Lutèce. Um grande espaço aberto que hoje também acontece o recreio de escolas das proximidades. Como deve ser brincar com os amiguinhos em pleno anfiteatro romano de quase 2mil anos?

Musée National du Moyen Age – Cabeças de esculturas que pertenciam à Catedral de Notre Dame e foram enterradas durante a Revolução Francesa. / Foto: João Torres

Outro museu que também conta a história de Paris (e da França) bem interessante, completo, rico e grandioso é o Musée National du Moyen Age – em outras palavras: Museu da Idade Média. No charmoso e borbulhante bairro de St. Germain Des Prés, o museu, além de apresentar peças especiais como esculturas, manuscritos, tapeçarias, elementos arquitetônicos, metais preciosos, item religiosos e muitas outras diversidades medievais, há ruinas romanas bem preservadas onde funcionaram termas (“saunas”) e banhos frios usados pela sociedade romana entre os século I a.C e II d.C, antes das invasões bárbaras.

Presente, Passado e Futuro :

Saindo um pouco da parte histórica sobre as origens da cidade, um local muito inusitado e curioso, que nem mesmo os nativos parisienses conhecem, é o Museu dos Esgotos (Musée des Égouts).

Sim…é isso mesmo que você leu: “esgotos!”

Museu dos Esgotos, em Paris Um dos caminhos que o visitante percorre / Foto: João Torres
Museu dos Esgotos Um dos caminhos que o visitante percorre / Foto: João Torres
Museu dos Esgotos A modernização urbana do século XIX quando transformaram a coleta das águas pluviais e de esgotos a céu aberto no centro da rua para as laterais. / Foto: João Torres
Museu dos Esgotos A modernização urbana do século XIX quando transformaram a coleta das águas pluviais e de esgotos a céu aberto no centro da rua para as laterais. / Foto: João Torres

À margem esquerda do Rio Sena, o visitante desce às profundezas em uma complexa galeria de túneis para conhecer uma “outra cidade” subterrânea onde surgem rios fétidos (mas suportáveis) coletores de águas pluviais. O excêntrico turista que escolheu este museu para visitar aprenderá a história do saneamento e da salubridade da cidade: quando começou a se ter esse interesse, o contexto higienista da época, as questões socioeconômicas, os primeiros banheiros residenciais, as tecnologias antigas e atuais e as recentes preocupações científicas e sócio-ambientais. Esses franceses inventam é coisa, né?!?!

Museu Delacroix Depois de sua viagem a Marrocos, Delacroix ficou encantado com a estética não europeia. Um novo olhar para o Belo: típico do Romantismo. / Foto: João Torres
Museu Delacroix Depois de sua viagem a Marrocos, Delacroix ficou encantado com a estética não europeia. Um novo olhar para o Belo: típico do Romantismo. / Foto: João Torres

Ainda nessa vibe do desconhecido (ou quase desconhecido), a sugestão é explorar a região de St. Germain Des Prés para chegar em um bucólico e escondido largo na Rua Fürstenberg, atrás da famosa igreja que deu nome ao bairro. O recanto é tão charmoso que você não sabe se continua flanando pelas ruelas ou se entra no Museu Delacroix.

Entre!!

É um pequeno museu, simpático e acolhedor onde habitou o principal pintor romântico francês do século XIX: Eugène Delacroix. Ali não estão as maiores e mais famosas obras dele – a não ser que queira ir ao tumultuado Louvre – mas sim seus estudos das formas e cores, autorretratos, desenhos, gravuras, esculturas e objetos. Um belo museu para fugir das filas e das multidões!

Máscaras ritualísticas da África Equatorial,está o grandioso e moderno Musée du Quai Branly.. / Foto: João Torres
Máscaras ritualísticas da África Equatorial. / Foto: João Torres

Seguindo uma versão oposta do Museu Delacroix, nas proximidades dos pés da  “Madame de Ferro” (como os franceses chamam a Torre Eiffel) está o grandioso e moderno Musée du Quai Branly. Sua arquitetura estilosa e elegante é projeto do grande Jean Nouvel, e ali expõe-se um gigantesco acervo sobre os povos originários não europeus: África, Ásia, Oceania e Américas (incluindo os indígenas brasileiros). Objetos para cultos religiosos, artefatos para celebração da passagem para maioridade, instrumentos musicais para festas e tradições sagradas e profanas, vestimentas e grafismo são algumas peças impressionantes que se encontram neste museu.

Marché aux Puces de St-Ouen, o Mercado das Pulgas e a maior Feira de Antiguidades e de Bugigangas de Paris,
Aqui tem de tudo e mais um pouco Foto: Google

E para sair dos passeios habituais do centro turístico de Paris, perambular no final de semana pelas ruelas do Marché aux Puces de St-Ouen, o Mercado das Pulgas e a maior Feira de Antiguidades e de bugigangas de Paris, é uma atração à parte para quem gosta deste tema. Existente desde o século XIX, onde mercadores comercializavam seus artigos, até mesmo obras-primas a preços de banana, mas hoje virou mercado especializado e caro, desde móveis, pequenos e grandes objetos, até roupas, obras-de-arte e tudo o que imaginar. Mas se tiver olhos atentos, acha peças boas e baratas. Afinal, garimpar é isso! Não custa pechinchar!

Galeria de arte descolada e cool, 59 Rivoli. Entrar neste lugar é sempre uma surpresa e um “tapa” estético na sua cara (rs). Foto: Google
Galeria de arte descolada e cool, 59 Rivoli. Entrar neste lugar é sempre uma surpresa e um “tapa” estético na sua cara (rs). Foto: Google

E para sair do clichê dos museus e fechar a programação de hoje sobre Paris Desconhecida, mas ainda mantendo o clima de arte e cultura, visitar o “louco”, o contemporâneo, o jovial 59 Rivoli é uma obrigação para os amantes de performances, de arte eletrônica, de anti-arte, e da contra cultura da padronização estética. Trate-se de um antigo banco que foi abandonado nos anos 80 e ocupado ilegalmente por artistas no final dos anos 90. Em pouco tempo já era o terceiro local de arte contemporânea mais visitado de Paris. Hoje, a prefeitura é dona do prédio e virou uma galeria de arte descolada e cool.

Claro que existem muitas outras coisas a acrescentar neste artigo que teve o intuito de apresentar o “Lado B e desconhecido” de Paris, como o Museu Marmottan Claude Monet onde as principais obras do artista se encontram; Fondation Le Corbusier para conhecer o interior de uma residência projetada pelo grande arquiteto modernista; ou até mesmo o Musée de la Poupée, com uma impressionante coleção de bonecas do século XIX aos dias de hoje, feitas a mão.

Paris é uma cidade de uma riqueza cultural avassaladora. É um furacão de cultura que nos transforma sempre que a visitamos. Será que realmente existe um “Lado B” naquela cidade? Ou tudo seria um grande “Lado A”?

Sobre o Viajante:

João Torres – professor de História da Arte e nas horas vagas (que não existem) sou arquiteto. Com muito orgulho em ter criado o projeto Arte IN FORMA (@arte.in.forma) junto com a dupla de colegas-amigas Katia Souza e Lourdes Luz. Somos um trio entusiastas em arte e cultura.

 

Arte IN FORMA 

Lourdes Luz / Katia Souza / João Torres

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