
O mercado da arte é majoritariamente masculino, desde os criadores, passando por comerciantes, galeristas, marchands e críticos. Mas as mulheres desempenharam papel importantíssimo neste segmento, e devemos dar a César o que é de César, no caso, o lugar devido na história.
Começo no Brasil, com Yolanda Penteado (1903 / 1983).

Ao lado de Ciccillo Matarazzo, viabilizou política e financeiramente falando, a criação do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM SP) em 1948, para em seguida dirigir seus esforços para a Bienal de São Paulo, em 1951. Através de seu prestígio social, conseguiu convencer colecionadores, artistas e até chefes de estado a emprestar obras importantes e apoiar a Bienal.
Segundo Mario Pedrosa, a Bienal de São Paulo “…veio ampliar os horizontes da arte brasileira…seu primeiro resultado foi romper o círculo fechado em que se desenrolavam as atividades artísticas no Brasil, tirando-as de um isolamento provinciano…“.

Foi de Yolanda o esforço em trazer, para a II Bienal de São Paulo, a seminal obra Guernica, de Pablo Picasso que estava guardada em Nova York aguardando o fim da ditadura de Franco para seu posterior retorno à Espanha. Foi uma espécie de presente para a cidade de São Paulo, que fazia 400 anos à época. Tive a oportunidade de entrevistar Emanoel Araújo em seu fantástico Museu Afro Brasil, sob um cartaz imenso sobre a Guernica em São Paulo.

A importância história desta obra é tão grande, que esta Bienal ficou conhecida como A Bienal da Guernica. Se Yolanda só tivesse produzido esta ação em toda sua rica história, já teria marcado seu nome nos anais da Arte Brasileira. Infelizmente, quem for pesquisar sobre esta personagem vai se deparar com uma descrição que reduz seu papel importante em nossa sociedade, ao descrevê-la como uma “…socialite e princesinha do café, pertencente a tradicionais famílias paulistanas quatrocentonas…”.

Carmem Portinho (1903 / 2001) foi engenheira, urbanista, e feminista. Foi ela uma das responsáveis pela introdução do conceito de habitação popular no Brasil, e propôs ao então prefeito do Rio de Janeiro (entre as décadas de 1940 e 1950) a construção de conjuntos habitacionais populares que fossem equipados com serviços sociais. Seu papel na história da arte carioca é impressionante: assumiu a diretoria executiva do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, então instalado provisoriamente nos pilotis do Edifício do MEC, para então chefiar as obras de engenharia civil do novo MAM Rio, era a única mulher em um canteiro com mais de 450 operários, quando da construção deste edifício.

Este museu, que lutou por mais de dois anos para sair do papel, foi concebido por Afonso Eduardo Reidi, e Carmem comandou todas as decisões referentes a esta magnífica e seminal obra da arquitetura brasileira. Mas ela também avançou pelas artes plásticas, pois era consciente do papel de um museu para arte local (e, no caso, para o novo projeto urbanístico da cidade). Foi então que Carmem organizou várias exposições de arte e de arquitetura, levando nomes brasileiros consagrados para o exterior. Nomes como Ivan Serpa, Arthur Luiz Piza e Faiga Ostrower – todos á época jovens e ligados à arte abstrata, foram diretamente beneficiados pelas ações desta precursora.

Helene Kröller-Muller (1869 / 1939) é o nome de um museu na Holanda, que possui a segunda maior coleção de obras de Van Gogh fora do Museu Van Gogh, em Amsterdã, além de ser um dos primeiros museus de arte moderna na Europa.

Podemos afirmar que este museu não existiria sem os esforços de Helene Emma Laura Kröeller-Muller, a pessoa física. Ela foi a primeira mulher europeia a construir uma coleção de arte de primeira grandeza, e uma das primeiras colecionadoras a reconhecer o gênio de Vincent Van Gogh.

Em seu acervo constam mais de 90 pinturas e 180 desenhos deste artista. Mas sua coleção ainda conta com outros artistas do mesmo quilate, tais como Picasso, Braque, Fernand Léger, Diego Rivera, Mondrian e Seurat, entre outros.
O museu com seu nome tem em seu acervo mais de 12000 peças, situados em um terreno de mais de 300 mil metros quadrados. Sua coleção já foi tema de uma exposição na National Gallery, em Londres, cujo título já dizia muito sobre sua pessoa, “Radical Harmony – Helena Fröller-Müller Neo Impressionistas”. Deve ter sido uma mulher fascinante…

Emily Fisher Landau (1920 / 2023) deixou um legado expressivo como filantropa e colecionadora de arte estadunidense. Sua coleção teve início no final da década de 1960, mas foi uma década depois que sua paixão pela arte contemporânea tomou corpo.
Após a morte de seu marido em 1976, Emily interrompeu temporariamente seu ímpeto colecionista, retomando seus velhos hábitos no final da década, período que coincidiu com o boom da arte contemporânea nos U.S.A. Como resultado, formou uma das coleções norte-americanas mais importantes que se tem conhecimento, com nomes como Andy Warhol, Jasper Johns, Willem de Kooning e Robert Rauschenberg entre outros.

Em 2010, ela doou 417 obras para o Whitney Museu of Art, onde também atuou como curadora. Seu apreço pela arte também a levou a participar ativamente de outras instituições, incluindo o MoMA e o Georgia O´Keefe Museu. Deixou, além de uma inestimável herança para o circuito das artes norte-americano (e, por que não, mundial), um legado social marcado por seu profundo compromisso com causas relacionadas à saúde e à educação.

E termino com uma persona fantástica. Peggy Guggenheim, cujo nome verdadeiro era Marguerite. Uma das colecionadoras e mecenas mais destacadas do Século XX, é conhecida também por seu estilo de vida excêntrico, que atraiu os olhos para essa mulher excepcional.
Peggy adquiriu, entre o final da década de 1930 e o final da década de 1970, obras dos artistas contemporâneos mais importantes da cena artística, como Picasso, Braque, Fernand Léger, Kandinsky, Marc Chagall, Paul Klee e outros.

Em sua coleção destaca-se a presença de muitas obras do surrealista Max Ernst, com quem se casara nos anos 1940, e de Jackson Pollock, a quem ajudou em sua primeira exposição. Após sua morte, sua coleção passou para a fundação Salomon R. Guggenheum, e pode ser visitada no Palácio dos Leões, em Veneza.

Peggy é outra mulher que eu adoraria ter conhecido, não só por seu estilo de vida excêntrico, mas por ter sido uma mulher à frente de seu tempo, como todas desta matéria. Mulheres que deixaram seus nomes gravados na História da Arte através de suas ações propositivas e definitivas, deixando um legado de inequívoca qualidade artística, social e histórica.


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