Em 1989, Fernando e Humberto Campana inauguraram sua primeira exposição, “Desconfortáveis”, em um galpão na Vila Madalena, São Paulo. O bairro até então não era “o point” dos espaços descolados como é hoje. À época, confesso que as cadeiras me causaram uma certa sensação de déjà vu, mas o projeto expositivo e as fotos de divulgação eram de altíssima qualidade.
De lá para cá, o nome da dupla correu o mundo, e hoje representa a epítome do design contemporâneo, atendendo a marcas prestigiadas como Edra e Louis Vuitton, entre várias outras.
Recentemente, o Instituto Campana, fundado em 2009 pelos irmãos, inaugurou seu projeto mais ambicioso – o Parque Campana. Situado na cidade de Brotas (a 250km de São Paulo), onde os irmãos passaram sua infância, este parque ocupa uma área de 78 hectares e tem como objetivo principal integrar arte, educação e natureza. Este projeto inaugurou dois anos após a morte de Fernando, aos 61 anos de idade. E, em sua primeira etapa, o parque dará acesso a oito dos previstos doze pavilhões projetados pelos irmãos, cada um remetendo às origens da família, feitos com materiais locais, plantas e fibras naturais, criando uma arquitetura em harmonia com a natureza.
O que se vê nos pavilhões prontos é o que fez a fama dos Campana – um altíssimo quociente handmade, com colunas revestidas em fibra vegetal, pavilhões construídos com toras encaixadas, ou um jardim com vasos “plantados” de forma irregular, reforçando a estética quase brutalista dos primeiros trabalhos da dupla – que, ao longo de seu percurso, foi tomando outra forma, com primorosos requintes de acabamento que mudaram não apenas o aspecto de seus móveis e objetos, mas também forjaram novas formas (como visto nas peças produzidas para a coleção Objets Nomades da Louis Vuitton).

Em uma segunda etapa deste projeto, o parque deverá abrigar um café que servirá pratos com produtos que serão produzidos no próprio parque, e um museu com uma seleção das mais de seis mil peças do acervo do Instituto Campana. Também há a intenção de abrir o espaço para cursos temáticos e oficinas de artesanato, recuperando algumas tradições da cidade. “...eu quero fazer tudo isso, recuperar tradições que estão morrendo…” diz Humberto.
Também está previsto um pioneiro projeto de pesquisa científica, com foco na restauração da paisagem de um ambiente de transição entre os biomas da Mata Atlântica e do Cerrado, com pastagens sendo transformadas em florestas e sistemas agrícolas diversificados, ecologicamente equilibrados, que não vão produzir apenas alimentos (como frutas e sementes) e outros produtos (como mel, madeira para marcenaria) mas, principalmente, vão ajudar a regular o clima e aumentar a biodiversidade, melhorando os serviços ecossistêmicos ligados à redução da poluição.
Segundo Humberto, este projeto é um sonho que une a Etrúria, território de origem de seus antepassados, ao interior paulista, onde nasceu. E neste ele vislumbrou um parque com vocação cultural, ecológica e educativa. A estimativa é de que o Parque Campana esteja totalmente implementado nos próximos cinco anos.
Muito recentemente, Humberto Campana recebeu a condecoração de Cavaleiro da Ordem do Rio Branco, em uma cerimônia no Palácio Itamaraty, em Brasília. Esta honraria, concedida pelo Ministério das Relações Exteriores, reconhece os serviços prestados ao fortalecimento das relações culturais (e diplomáticas) entre o Brasil e o Exterior, celebrando o legado de quase quatro décadas dos Campana Brothers na promoção da cultura e do design brasileiro no exterior.

Informações:
+ 55 14 99818 0030
Já segue a Conexão Décor?
Siga o nosso Instagram e Facebook e acompanhe as novidades sobre decoração, arquitetura e arte.