Começo este com um spoiler – a Casa Cor Rio este ano tem cor. O espaço que fiz, junto com Lenora Lohrisch, um dos primeiros da Mostra, ostenta paredes em um tom chamado “Terra Forte”, uma tinta de tom intenso da Coral.
O espaço de Erick Figueira de Mello está num tom parecido. O de Tiago Freire num tom mais baixo que o nosso, mas com uma bancada de pia verde maravilhosa. O de Tom Castro é preto. O teto de Paula Neder é colorido. O ambiente de Patricia Marinho e Manuele Colas lindo, uma base neutra com tons terracota. O de Anna Malta e Andrea Duarte – a joalheria – em verdes estampados, extremamente chic.
Ou seja – o carioca ousando na mais conceituada mostra do segmento. E eu voltei à uns espaços da Casa Cor São Paulo, que terminou no último domingo, que tinha alguns espaços cheios de cores e estampas – como o espaço maravilhoso de Marcelo Salum que abre este post. Uma mistura extremamente equilibrada de estampas sob os tons verde e terracota claro, uma verdadeira aula de como misturar elementos de origens e estilos diferentes em um conceito absolutamente impecável.
Outro que simplesmente arrasou na mistura de estampas e padronagens e estilos foi Luis Debeus, que fez um pequeno apartamento com todas as paredes estampadas e uma seleção super primorosa de obras de arte sobre estas, fora peças de diferentes origens e estilos também. É muito difícil coordenar cores e padronagens e estilos diferentes em um mesmo espaço, isto é coisa para quem tem repertório. É o caso deste designer de interiores, que conseguiu fazer um espaço contido cheio de estilo, charme e muita, muita ousadia.
Talvez por isso a marca Prints Tecidos tenha pedido à Luis o auxílio primoroso para lançar sua coleção Les Indiennes, em sua loja que fica em uma charmosa vila no bairro dos Jardins, em São Paulo. Aqui, a sobreposição de estampas e temas, sob as cores azul e branco, criou um espaço maravilhoso, cheio de detalhes delicados que merecem a atenção. Novamente – misturar estampas, mesmo que sob uma cor padrão, é algo extremamente difícil de se fazer, e aqui vemos todo o talento deste profissional.
O Hotel Rosewood, destino obrigatório de 100 em cada 100 profissionais da área, esbanja cor e estampas em suas instalações, desde à entrada – com um tapete com desenho da artista plástica Regina Silveira, que vai mudando de cor à cada ambiente, uma solução extremamente criativa e ousada. E em outros ambientes deste hotel, tapetes desenhados por outros designers e/ou artistas plásticos, sempre com excelente resultado – como no tapete acima, simplesmente maravilhoso.
Mas engana-se quem pensa que estas pequenas maravilhas não estão disponíveis para nossas residências. Na By Kamy encontrei o tapete acima, também uma obra de Regina Silveira, peixes e tentáculos em intrincado desenho, disponível em várias cores, sempre com o desenho em preto e branco sobre uma base de cor sólida. Eu, que sou um entusiasta de tapetes das mais diferentes procedências e culturas, me apaixonei pela peça acima. Que é uma prova de competência de nossos produtores e das marcas que ousam se diferenciar no mercado.
Aliás, as tapeçarias estão em alta – que o diga o espaço de Erica Salguero, também para a Casa Cor SP 2023, que escolheu uma tapeçaria de Norberto Nicola da década de 1960. Esses movimentos do mercado, que traz à tona criadores que estavam esquecidos, é altamente benéfico inclusive para a criação de novos produtos – que o diga o tapete da foto anterior.
Norberto Nicola foi um tapeceiro, pintor, desenhista e escultor nascido em São Paulo, mas que ficou famoso por suas tapeçarias. Junto com Jacques Douchez, criou em 1957 o Atelier Douchez-Nicola de Tapeçaria, que durou até 1980. Nicola usava as matérias primas tradicionais da tapeçaria – lã, linho, sisal, cânhamo e outros, em trabalhos ora totalmente trançados como o acima, ora com estruturas soltas da base, com resultado fortemente tátil.
E, neste processo de ressignificação da tapeçaria, a arte de Jean Gillon reaparece nos espaços e nas casas. Gillon afirmava que “…a vida é feita de pequenos segmentos que se unem, que se entrelaçam, formando trilhas e caminhos.” Seu trabalho como designer de móveis ainda aparece mais do que como designer têxtil, mas a obra deste romeno, nascido no início do Século XX, é extremamente diversificada, ele atuava em várias áreas do design, sendo sua poltrona Jangada a peça mais icônica de seu portfólio de criações. Porém, é inegável a beleza de seu trabalho têxtil, como prova a tapeçaria acima, de 1977.
É do Atelier Mucki Skowronski a tapeçaria acima, feita de milhões de miçangas, exposta no espaço das cariocas da Migs Arquitetura na Casa Cor São Paulo (e outra estará exposta em um espaço na versão carioca do evento, linda…). Esse trabalho é primoroso, requintado, e deve ter dado um trabalho monstruoso para fazer. Sofisticado, tem uma aparência que convida ao tato, e é simplesmente fascinante ver o intrincado entrelaçar destas miçangas. E eu acredito firmemente que, se não fosse o fato das tapeçarias voltarem às paredes e projetos mais descolados, não veríamos preciosidades como esta acima.
Recentemente, descobri o tecido acima, uma estampa de insetos que parece uma aquarela, absolutamente original, e para os meus padrões isto é um valor que agrega muito ao produto. Conheci este tecido na Sttillo Rio, que fez as cortinas de nosso espaço na Casa Cor. Esta loja tem um portóflio de produtos imenso, com as melhores marcas do design nacional e alguns importados também. Eu adorei o trabalho sutil desta estampa, que parece ter uma infinidade de cores em cada inseto. Esta estampa foi criada por Toia Lemann, com cinco estampas, uma mais interessante e provocante do que a outra.
Lúdica e autoral, esta coleção – de nome Funny Bugs – tem uma narrativa extremamente particular e única. A coleção foi criada pela empresa Donatelli, uma empresa com longa história no mercado, dona de um portfólio imenso de produtos, vários desenhados por grandes criadores.
Oxalá o mercado perceba a importância destas ações e destes produtos, escapando da infinita variedade de tecidos beges e crus utilizados em 8 de cada 10 residências brasileiras. É entediante, às vezes, ver o Instagram de profissionais com todas as casas e/ou projetos destes, usando a mesma grade de cores, sem estampas ou ousadias desta ordem.
Aqui, tenho que finalizar com a frase da escritora Ledusha – “Prefiro Toddy ao tédio…”. Com todas as cores disponíveis nos catálogos de tintas, todas as estampas igualmente disponíveis no portfólio das melhores marcas, não fazer uso destas é, no mínimo, uma covardia estética…
Endereços: Marcelo Salum | Luiz Otavio Debeus | Prints Tecidos | By Kamy |Erica Salguero |Sttillo Rio | Donatelli
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