MULTICULTURAL? SIM, COM CERTEZA…

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Para quem não sabe, nasci no bairro da Liberdade, em São Paulo – o bairro onde quase toda a colônia japonesa se concentra, com lojas, restaurantes, feiras, e a iluminação nas ruas que remete diretamente à cultura oriental. Nasci aqui por uma casualidade – o médico de minha mãe estava neste bairro na oportunidade em que vim ao mundo.

E tenho uma ligação com o bairro que deve ser atávica, conheço as melhores lojas, os melhores restaurantes, onde consumir o melhor lamen das Américas (Lamen Kazu, para quem esteja interessado), qual mercado vende os melhores ingredientes para minha cozinha, etc…

MULTICULTURAL? SIM, COM CERTEZA...Tigelas em cerâmica pintadas com listas azuis e verdes
Crédito: Loja Tenmanya

Tenho umas tigelinhas que comprei neste bairro faz décadas, super delicadas, assim como os apoios de talher em porcelana azul e branco, que sempre uso para os mais diversos momentos. É uma porcelana fina, mas estranhamente muito resistente – tanto que as tenho faz muito tempo…E o que dizer destas taças de saquê, que uso para entradinhas individuais sem o menor medo de apropriação cultural indébita? Essas são de uma loja na Rua dos Estudantes, Tenmanya – onde costumo ficar por horas, tamanha variedade.

Bule com alça de bambu, tigelas para tomar chá. Tudo na cor preta com flores de cerejeiras pintadas no centro
Crédito: Loja Himeya

Eu sempre prefiro os padrões abstratos para minha mesa. Mas é impossível não se render à delicadeza deste tema, típico desta cultura. Estas eu vi na Loja Himeya, outro lugar que tem de um, tudo.

Eu costumo misturar essas peças com outras mais contemporâneas, como uns pratinhos de bambu bordô que comprei em Paris milênios atrás, e o resultado sempre é muito contemporâneo – e eu considero essas delicadezas uma forma de mostrar aos convidados meu apreço por quem frequenta minha casa.

exposição recente no Centro Cultural Coreano Brasil, em plena Avenida Paulista. Esta instalação, deslumbrante, é uma reprodução do Festival das Luzes da Coreia, mais especificamente da cidade de Jinju.
Fotografia: Centro Cultural Coreano Brasil.

Mas São Paulo não tem apenas uma comunidade estrangeira de expressão, tanto em cultura quanto em tamanho. A foto acima é de uma exposição recente no Centro Cultural Coreano Brasil, em plena Avenida Paulista. Esta instalação, deslumbrante, é uma reprodução do Festival das Luzes da Coreia, mais especificamente da cidade de Jinju.

É uma feérie absurda, impossível não se render ao colorido e à manufatura delicada destas lanternas. A comunidade coreana tem importante papel na economia da cidade, e nem vou falar dos restaurantes típicos pois minha cintura não permite.

Crédito: Restaurante Komah

Mas, para quem se interessar, o restaurante Komah é o expoente máximo desta culinária, em pratos de versão contemporânea da excepcional cozinha coreana. Fica no bairro da Barra Funda, pertinho da minha casa. É pequeno, não faz reserva, tem que esperar, e está eternamente cheio. Mas vale cada minuto da espera, acreditem.

Tecidos coloridos bolivianos
Fotografia: Wair de Paula

Outra comunidade de expressão em São Paulo é a Boliviana. E o local certo para conhecer mais desta cultura é a Feira Kantuta, no bairro do Canindé. Fica a 10 minutos da estação Armênia do Metrô, e é uma verdadeira viagem à Bolívia, sem sair do país. Toda diversidade da cultura andina se encontra reunida nesta feira que acontece nos finais de semana em São Paulo, com barraquinhas de comida e artesanato típicos.

Eu, como sou maluco por artefatos têxteis, não consigo ir à feira sem sair com um ou mais tecido destes acima, e tenho guardado ainda alguns sem uso – é que as cores e os padrões me parecem tão fascinantes, que não resisto.

Vários tipos de batata
Fotografia: Wair de Paula

A variedade de batatas é impressionante. De todas as cores, formas, tamanhos e texturas, inclusive uma totalmente branca. Eu ainda não as utilizei em minha cozinha, tenho que pesquisar mais. Mas não dá para ir à esta feira e não provar da comida típica, principalmente as salteñas¸ que são bastante diferentes das empanadas argentinas. São mais “caldosas”, e ligeiramente mais picantes. Impossível não ceder à essas calorias…

Sacos de feijão em uma feira
Fotografia: Wair de Paula

A língua mais ouvida nesta feira é o espanhol, e quase sempre tem um grupo musical se apresentando, utilizando um instrumento que dizem ser o ancestral do violão, o charango, que é feito com o casco do tatu. Os feijões também se apresentam das mais diversas formas, cores e tamanhos – e estes eu já ousei preparar alguns tipos. Para um cozinheiro amador como eu, é fascinante ver a diversidade dos ingredientes disponíveis nesta feira.

Antonio Houaiss, o destacado intelectual brasileiro e enciclopedista, dizia que a culinária é uma forma muito forte da manifestação cultural, e eu acredito neste dogma. Ir a um país e absorver a culinária local é uma forma de absorver também a cultura local.

sous-plats coloridos
Fotografia: Wair de Paula

Nesta feira ainda encontramos alguns artigos colombianos, como os sous-plats acima, absolutamente modernos apesar de sua ancestralidade. Estive na Colômbia algumas vezes a trabalho, e o artesanato local é de um colorido único, elegantíssimo – como são as vestes típicas deste povo também andino, com sobreposições de padronagens e texturas diferentes, em cores sempre iluminadas, nada covardemente bege ou parecido.

Cestas na parede, formando uma composição. Alguns bancos embaixo, uma decoração bem bonita
Fonte: web

E os artigos têxteis e de cestaria tem tamanho apelo estético, que podem transcender seu uso e se tornarem artigos de puro apelo visual. Anos atrás, fiz uma parede em uma loja em Bogotá com uma imensa composição de cestas dos mais diferentes tamanhos e modelos, um pouco mais complexa do que a parede acima (e eu procurei a foto e não encontrei, infelizmente).

E foi interessante ver a reação dos donos da marca, ao me verem utilizar de um artesanato considerado barato em uma composição com mobiliário de alto padrão. O olhar estrangeiro permite esse tipo de leitura, e foi uma grata surpresa saber que eles venderam aquele espaço, na íntegra, no final de semana seguinte à abertura da loja – com as cestas e tudo.

Fotografia: Wair de Paula

Kantuta, o nome da feira boliviana, é também o nome de uma flor típica dos Andes, e que tem as cores da bandeira daquele país. E foi inspirado neste tema que eu fiz o moodboard acima, para essa marca de móveis brasileira, ao apresentar o produto e a marca para os designers de interiores bolivianos. Foi uma forma de mostrar o meu apreço por sua cultura, e como eu procurava entender as questões estéticas locais, para que a marca pudesse obter o sucesso desejado.

São Paulo ainda tem uma comunidade africana forte, com feira e restaurantes típicos. A comunidade portuguesa, espalhada pela cidade. Os judeus ortodoxos, que se concentram no bairro em que moro, Santa Cecília, com suas delis com produtos típicos (e horários típicos da cultura também).

Esse caldeirão de culturas é fascinante para pessoas criativas, e eu, que já afirmei crer firmemente no conceito de Aldeia Global, fico num estado de contínuo interesse em absorver essas culturas, para poder traduzi-las em nosso meio de trabalho, em nossas casas, em nossas vidas.

Endereços: @tenmanya / @lojahimeya@komahrestaurante / @feirakantutaoficial

Wair de Paula Jr.

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Tag: Bairro da Liberdade

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