Houve um tempo recente, as décadas de 2000 e 2010, em que tons neutros, especialmente os abaixo dos marrons e acima dos brancos – os beges que formavam ambientes com ares quase monocromáticos -, andaram em alta no décor brasileiro de ponta, em busca de uma elegância através da neutralidade.
Ficou bom, e sob esse determinado ponto de vista, deu certo! Porque era clean e chic, agradava a quase todos, e, portanto, era bem comercial em todos os sentidos: fácil de ser trabalhado, combinado, comprado, vendido, assimilado e admirado até mesmo como um conforto visual. Mas as casas ficavam muito parecidas, e com uma cara de showroom…
A ecologia que se apregoava na prática do estilo, e que incluía essas cores e seus tons, até então era pífia, e supostamente justificada apenas pelo uso de materiais como a madeira, o algodão, o linho e a seda… e o quê mais? O que em nada ajudava na conscientização de se proteger / poupar de alguma forma o planeta Terra. Já na sua sequência, a partir da década de 2020, ainda bem, o conceito de um design de interiores mais limpo foi substituído, e se tornou mais palpável porque necessário: entrou em campo a sustentabilidade, que prevê logicamente a reutilização, o reaproveitamento, o recycling e o upcycling, entre outros fatos e argumentos.
Se no início de mais uma fase dos mesmos tons – de arenosos a terrosos – os projetos no novo jeito de encarar um Brutalismo chegaram a ser classificados como “casa dos Flintstones”, sua disseminação conseguiu a ousadia de recuperar o rústico (sem dizer seu nome, por preconceito), e ampliaram a utilização de elementos naturais, acrescentando sem pudor o barro e seus derivados, como a cerâmica, a pedra, as fibras – todas, que voltaram com força, das palhas ao rattan, e mantendo madeiras e metais, sob outros ângulos e tratamentos, em geral mais brutos, menos lapidados, digamos.
Abandonamos as ideias preconcebidas de relegar muitos desses elementos às casas de praia ou mesmo de campo e fazendas, e caímos de boca, no mundo todo, de novo e ao mesmo tempo, em projetos apátridas que nos deixam exemplos similares tanto nos desertos do Chile ou da Namíbia, nos litorais da Bahia ou do México, bem como nas ilhas espanholas do Mediterrâneo, as Baleares, ou as Canárias, ao Noroeste da África.
Modismos no décor acontecem e se repetem como um “zeitgeist”, não tem jeito. São fenômenos que surgem no vaivém do décor tanto quanto na moda. E que ganham aplausos enquanto novidades, como se as fossem, legitimamente, já que chegam repaginados e sempre com um rótulo de neo-qualquer-coisa. Porque se agora somos orgânicos, um dia fomos rústicos – mas nunca seremos toscos, pois a decoração tem uma sofisticação que não permite decaídas ou simples recaídas, e requer sempre um up que a estimule a continuar na sua evolução.
O outro neutro, o atual, pode ser visto nos exemplares de casas com nichos (orgânicos, de novo) nas paredes, sofás de alvenaria (como nos anos 70 e no eterno estilo Mediterrâneo), paredes curvas, com menos acumulação, muito bem estar, e mais destaque para objetos e arte (reparem o recrudescimento, com sucesso, das tapeçarias de parede). Na verdade, a meu ver, uma redescoberta daquilo que nunca precisava ter deixado de ser como foi, em seus locais adequados. Mas reler o passado, mesmo que recente, é sempre bom, pois ali descobrimos o quanto já fomos melhores…
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