Convento do Carmo e a Praça XV

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Depois de um longo e tenebroso momento de abandono e descaracterização, recentemente, o Rio de Janeiro foi presenteado com a reabertura de um dos principais monumentos arquitetônicos no que diz respeito à formação da cidade: o Convento do Carmo.

Convento do Carmo no Rio de Janeiro é o mais novo monumento histórico restaurado.
Convento do Carmo no Rio de Janeiro é o mais novo monumento histórico restaurado. Fotografia: João Torres
Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé.
Ao lado do convento está a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé. Fotografia: João Torres
Chafariz da Pirâmide (1789) projeto do Mestre Valentim.
Chafariz da Pirâmide (1789) projeto do Mestre Valentim. Fotografia: João Torres

Localizado em frente à Praça XV, o convento foi determinante para a existência desta praça pública, que por muitos séculos, foi o coração da cidade colonial carioca. Além do convento, a praça é abraçada pelas Igrejas do Carmo das Ordens Primeira e Terceira, pelo histórico e imponente Paço Imperial, pelo tímido Arco do Teles (pequeno hoje, mas no passado, o prédio já foi monumental), e pelo mais importante chafariz do Rio antigo.

Dessa vez, a Revista Conexão Décor vai levar o leitor em uma viagem de séculos na história da cidade para contar como tudo começou.

O Início de Tudo:

Depois da batalha vitoriosa contra os franceses e os tamoios, os portugueses saíram da Urca, onde fundaram a cidade, para o topo de um morro localizado no interior da Baia de Guanabara, em 1567.

Paço Imperial
Formando o quadrilátero da Praça XV, um dos lados está o Paço Imperial Fotografia: João Torres

Batizaram a colina primeiramente de Morro do Descanso (afinal, merecido depois de tanta luta), mas logo depois virou Morro de São Sebastião porque foi exatamente no dia daquele santo – 20 de janeiro – que a vitória foi bem sucedida (por isso, São Sebastião é o padroeiro do Rio de Janeiro). Mas seguindo a fama de que o bom carioca é “descolado”, ele foi logo apelidando o Morro de São Sebastião de Morro do Castelo, pois lá foi construída uma fortaleza que se parecia com um castelinho. E assim ficou para sempre!

A colina à frente era o Morro do Castelo. Hoje, ele foi totalmente demolido. Fotografia: Marc Ferrez Coleção Instituto Moreira Salles
A colina à frente era o Morro do Castelo. Hoje, não existe mais, pois foi demolido há 100 anos. Fotografia: Marc Ferrez Coleção Instituto Moreira Salles

As primeiras construções sólidas civis, religiosas e militar foram erguidas ali. Mas viver no alto de um morro não era fácil. Por isso, os habitantes começaram a descer e ocupar paulatinamente as proximidades do sopé do monte, a partir de concessões (distribuições de terras). E assim ergueram uma pequenina ermida chamada Capela de Nossa Senhora do Ó, na década de 1580, em frente ao mar.

Em 1590, os frades carmelitas chegaram ao Rio e ganharam aquela capela para se instalarem, e declaram que vieram para construir um convento, mas que dependeriam de doações e esmolas da população. Conseguiram, portanto, numerosas e extensas terras nas proximidades, inclusive as terras que o mar, ao recuar a partir de pequenos aterros, revelava. E foi assim que os frades ficaram donos de um vasto território, já no início do século XVII.

O Convento do Carmo e a Praça XV:

Uma vez que já eram proprietários de muitas terras, começaram a construir finalmente o Convento do Carmo, a partir de 1619, com as pedras retiradas da Ilha das Enxadas, na Baia de Guanabara.

Convento do Carmo
O belo convento resistiu ao tempo e convive hoje muito bem com a pós-modernidade. Fotografia: João Torres

Além do convento, os carmelitas também ergueram pequenas casas no terreno da frente, onde hoje é o Paço Imperial. Mas a Câmara comprou esse terreno dos frades, não se sabe quando, com a condição de usá-la como praça pública para a instalação do temível e torturante polé, o local de castigos. Por isso, aquele espaço urbano ficou conhecido como Terreiro do Polé (foi um dos primeiros nomes da Praça XV).

“Castigo de Escravos que se Pratica nas Praças Públicas” (1826) Artista: Jean-Baptiste Debret Museu Castro Maya, Rio de Janeiro
“Castigo de Escravos que se Pratica nas Praças Públicas” (1826) Artista: Jean-Baptiste Debret Museu Castro Maya, Rio de Janeiro

Mas, precisamente em 1683, a fim de ganhar vantagens, foi decretada pela própria Câmara a permissão da venda em lotes do Terreiro, para conhecidos e parentes próximos dos vereadores. Essas negociatas em benefício próprio seriam uma mera coincidência com os nossos atuais políticos? A história está ai para nos elucidar.

A fim de impedir que sua vista para o horizonte fosse bloqueada com construções e que a brisa fresca do mar fosse desviada, os Carmelitas, indignados com o decreto, protestaram e apelaram para a Coroa Portuguesa. Os frades venceram! Em 1686, foi determinada que nenhuma construção fosse erguida no terreiro em frente ao convento, preservando, assim, a praça pública.

Panorama geral da Praça XV pelo olhar de Jean-Baptiste Debret (século XIX). Ao fundo, o Convento do Carmo.
Panorama geral da Praça XV pelo olhar de Jean-Baptiste Debret (século XIX). Ao fundo, o Convento do Carmo.

O jeito astuto, ardiloso, briguento e “barraqueiro” dos carmelitas fez a futura Praça XV nascer. Essas características da personalidade daqueles frades não serão justificadas aqui agora, mas quem sabe não podem virar tema de um novo episódio da Revista Conexão Décor?!

João Torres e Lourdes Luz
João Torres e Lourdes Luz / Arte IN FORMA feliz da vida dentro do Arco dos Telles (está faltando uma integrante para formar o trio) Fotografia: Mariama Patriota

Até lá, a recomendação é visitar o restaurado Convento do Carmo, porque hoje é um lindo Centro Cultural da Procuradoria Geral do Estado.

Somos três historiadores da arte e arquitetos – Lourdes Luz, Kátia Souza e João Torres – que criamos o canal Arte IN FORMA por sermos entusiastas em arte, história e cultura. Acreditamos que isso pode informar, formar e transformar a todos.

Arte IN FORMA 

Lourdes Luz, Kátia Souza e João Torres

 

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Tag: Convento do Carmo

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