Continuando a nossa conversa sobre a casa, hoje vamos falar um pouco sobre a cozinha que nos últimos anos vem ganhando destaque nas mostras de decoração e nas nossas casas também. Esse interesse pela cozinha e especialmente pelo ato de cozinhar cresceu muito nas últimas décadas, alguns atribuem aos reality shows gastronômicos, outros à novos hábitos e ao fato de que as pessoas têm preferido se manter mais em casa, por conta do aumento da violência nas grandes cidades. Há de se acrescentar que a pandemia também fez com que nós cultivássemos novos prazeres domésticos, entre eles o cozinhar.
Mas como esse ambiente tão importante na casa contemporânea surgiu?
A história da cozinha está ligada ao controle do fogo pelo homem. Nos primeiros povoados os alimentos eram cozidos ao ar livre em fogueiras que eram mantidas acessas, já que fazer fogo era muito trabalhoso e todo o grupo cuidava daquele fogo. Verdadeiros guardiões da chama que aquecia e cozinhava os alimentos.
O domínio do fogo foi fundamental para o desenvolvimento de um espaço para produzir a comida, as cozinhas primitivas eram edifícios muitas vezes separados da moradia. Os primeiros registros de um espaço destinado à cozinha apareceram no Domus (Casa) romano e ficava localizado próximo ao triclinium (espaço destinado à refeição) mas o formo geralmente ficava do lado de fora da casa.
Na imagem acima que representa uma planta de um Dumos Romano ou Casa Romana a cozinha é o número 12 e o triclinium, espaço destinado a refeição, uma espécie de sala de jantar o número 9.
Outras questões ainda precisavam ser resolvidas para que então o espaço para cocção e preparo dos alimentos viesse para dentro das casas, o principal problema era o controle do fogo e o possível risco de incêndio.
O primeiro passo para aproximar a cozinha da casa estava no domínio do fogo não apenas para mantê-lo acesso, mas também para controlar a chama e evitar que ela se espalhasse atingindo a moradia. Desta forma o espaço onde ficava uma espécie de fogueira enterrada no chão, a “sala do fogo”, logo se converteu num espaço ao redor do qual se criaram salas com armários embutidos nas paredes que serviam para manter os alimentos protegidos do frio.
Esta fogueira no centro desta sala foi aos poucos substituída por lareiras de ladrilho fixada à parede o que diminuiu o risco de incêndio e promovia uma melhor circulação da fumaça.
Com o desenvolvimento dos espaços da casa, após os avanços feitos com a realocação da lareira e o aumento da segurança na culinária medieval a cozinha foi deixando de ser um espaço compartilhado por todos, a antiga “sala do fogo”, para se tornar um espaço específico de preparo dos alimentos.
Nas casas mais luxuosas a cozinha se tornou um local de serviços muitas vezes invisíveis aos donos da casa, como neste exemplo da imagem a seguir que mostra a cozinha de uma casa senhorial em Braga – Portugal, hoje Museu dos Biscainhos, já escrevemos um artigo sobre essa casa aqui no Conexão Decor.
O desenvolvimento do espaço da cozinha tem relação direta com a manutenção do fogo e nos efeitos da fumaça sobre as paredes da casa isso se deve ao combustível utilizado até o século XIX, o carvão. Isso fez com que, mesmo estando mais próxima a casa a cozinha ainda era um espaço distante das áreas sociais e íntimas, mais voltado para a área externa e destinado aos serviçais.
Em 1830, com a criação do fogão de ferro houve um grande progresso que permitiu concentrar a fonte de calor dentro de uma caixa de ferro.
O século XIX foi o século do progresso científico e consequentemente de avanços no modo de morar e da cozinha. As pesquisas e os primeiros modelos de fogão a gás começaram a aparecer.
O uso do gás como combustível propiciou o desenvolvimento da cozinha que agora se concentrava em resolver outro problema: como conservar os alimentos.
As primeiras geladeiras, que você vê na imagem acima, assim como alguns fogões de ferro reproduziram as pernas delgadas e curvilíneas dos móveis da época. Isso demonstra como esses novos equipamentos eram desenhados para seduzir a sociedade que reconhecia nestas peças formas semelhantes aos móveis mais clássicos e tradicionais.
Ao longo do século XIX e XX, tanto o fogão quanto a geladeira sofreram modificações que resultaram em espaços que poderiam ser mais compactos ou mais glamurosos, gourmet e integrados como temos hoje. O fato é que a cozinha se transformou muito com a inclusão de novos equipamentos que que surgiram especialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando as fábricas retomaram a sua produção voltada para o consumo.
Foi a introdução destes novos equipamentos que propiciou o desenvolvimento dos mais diversos tipos de cozinha para atender as diferentes demandas contemporâneas. Cooktop e torre com formos se ajustam tanto em cozinha compactas como nos espaços maiores e essa diversidade aliado a criatividade de profissionais da área do design de interiores que nos inspiram, mas tudo começou com o controle do fogo.
Viu como os espaços da casa representam muito da história da nossa civilização ocidental?
Primeira matéria da série : A casa em histórias – sala de estar , clique AQUI para ler.
Somos três historiadores da arte e arquitetos – Lourdes Luz, Kátia Souza e João Torres – que criamos o canal Arte IN FORMA por sermos entusiastas em arte, história e cultura. Acreditamos que isso pode informar, formar e transformar a todos.
Lourdes Luz, Kátia Souza e João Torres
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