“Segredos e Sussuros” nova exposição em SP da artista plástica Anna Paola Protasio

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A mostra reúne obras inéditas de 2019 e obras de 2008, inicio da carreira da artista, que depois de 20 anos trabalhando com Arquitetura, enveredou para as Artes Plásticas em 2007. Incluem esculturas, objetos e instalações .

 

Passam as folhas e com elas a vida e seus escritos. O que as palavras fazem com o corpo?

Essa é uma das perguntas que podem emergir ao nos depararmos com a produção de Anna Paola Protasio.            

Num primeiro olhar, seus trabalhos exploram a complexa relação entre os materiais empregados e os sentidos narrativos e simbólicos da obra, e o vínculo indissociável entre o fazer e o assunto da feitura.

De um lado, Protasio emprega vez e sempre elementos frios, duros – metais como latão, ferro e aço; pedras como mármore e granito; plástico, acrílico, vidro.

De outro, também reitera o uso de matérias moles, mais suaves, como madeira, borracha, feltro, tecido, carpete, linha e papel.

É na articulação poética desses ingredientes que ela dá corpo às suas composições, cuja integridade se completa com os títulos líricos que cria.

A linguagem tem, portanto, um papel fundamental dentro de sua trajetória, e a escrita anda de mãos dadas com o ajuntamento dos materiais diversos que explora.

Em “Segredos e Sussurros”, a artista apresenta uma série de trabalhos recentes e inéditos, pontuados lado a lado com algumas obras que tiveram um papel significativo em sua carreira.

A mostra é organizada em três momentos, como uma ópera – uma introdução leve, que revela o mote dessa história; um segundo ato denso, que desenvolve a potência da narrativa e estabelece tramas e tensões; e um ato final que no oferece um respiro doce, poético, o desfecho suave de resolução de um percurso intenso.

No prelúdio da exposição, dois pequenos trabalhos dão o tom – em “Queda de Braço”, Protasio cria esculturas que traduzem as palavras do título em corpos de peso.

Blocos de madeira se prendem a blocos de pedra por meio de dobradiças de metal.

Flutuando no espaço expositivo, as peças desafiam sua própria materialidade com uma leveza inverossímil.

 

Foto de uma exposição de artes plasticas, dois pedaços de madeira cortados ao meio pendurados

 

Já na primeira sala, encontramos uma série inédita que parte de um material bem ordinário e impessoal – os carpetes industrializados usados em feiras e convenções ou escritórios-padrão.

Ao serem cortados, pintados e manipulados, contudo, tornam-se um estrato afetivo de composição e costura.

 

Quadros em uma exposição de artista plástico Anna Paola Protasio. tapeçaria com relevo formando uma folha

 

Ambiente de uma galeria de artes plasticas, paredes brancas e quadros pendurados

 

Presas com grampos, as tiras de carpete foram manuseadas em camadas, presas com grampos e bordadas, resultando em texturas, relevos e desenhos.

Essa é a primeira vez que a artista se impõe o desafio de executar um projeto sozinha, do início ao fim, sem a expertise de artesãos ou técnicos que a ajudam em certas peças. Assim, assumiu para si o ofício do tapeceiro, ordenando as tiras, alinhando os grampos, costurando as figurações e armando os trabalhosos volumes, o que torna esses trabalhos mais íntimos, manuais.

Trabalho em tapeçaria grossa , da artista plastica Anna Paola Protasio

Foto da artista plastica Anna Paola Protasio vestida de preto e de costas arrumando a sua exposição

 

Na segunda sala, inversamente, o corpo agora sussurra mais quieto. Dois elementos marcantes – as escadas já tão presentes no vocabulário visual da artista – emolduram a série inédita feita a partir de cartas nunca abertas, nunca lidas.

Em “Segredos Interligados”, 15 pessoas do círculo familiar e afetivo de Protasio escreveram cartas contando seus segredos e intimidades, lembranças difíceis ou histórias das quais desejavam se libertar.

Ambiente de uma galeria de artes plasticas, paredes brancas e quadros pendurados

 

Em “Dois Irmãos”, o desenho do morro de mesmo nome amarra as epístolas do pai da artista ao seu tio, e do tio ao pai.

E em “Let’s keep in touch”, uma de suas amigas escreve para a mãe já falecida, psicografando depois a resposta.

É apenas na costura que essas cartas se permitem conhecer, e se sabem entre si pela urdidura da trama enredada por Anna Paola Protasio – as vozes das cartas quase podem ser ouvidas pelas perfurações do bordado que libertam os segredos e o peso do passado.”

Julia Lima, curadora, pesquisadora e tradutora

 

Foto da artista plastica Anna Paola Protasio
A artista plástica Anna Paola Protasio.

 

Local: Galeria ARTE/FORMATTO

Abertura: 04 de Março 2020 / 18 h 

Período: 05 de Março – 06 Abril 2020

 

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Celina Mello Franco

Liliane Abreu

 

TAG: exposição Anna Paola Protasio

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