Quem disse que o escultor, arquiteto, velejador, joalheiro, voador e designer Ricardo Campos deita nos louros e fica só gozando a vida? Com certeza ele fica gozando a vida – merece – mas está sempre correndo atrás de desafios, seja na elaboração de um projeto comercial, numa casa, clínica ou num restaurante. Isso sem falar nas partidas de beach tênis que pratica todos os dias e a malhação na academia, receitas infalíveis para sua boa forma e eterno bom humor.
O “conjunto da obra” lapidou esse niteroiense, 73 anos, casado com a estilista Cheila, pai e paidrasto de dois e avô de quatro, que acaba de lançar uma autobiografia para festejar seus 50 anos de profissão. Reunindo memórias contadas de jeito descontraído e com uma linguagem prá lá de irreverente, ele começou a trabalhar na elaboração do livro um pouco antes da pandemia.
” Levei três anos desenvolvendo a obra (nota da redação: provavelmente seu projeto mais demorado) para deixar registradas minhas fontes de inspiração e os trabalhos que fiz em meio século”, conta o arquiteto, ” E no balanço geral acho que valeu muito a pena, com todos os erros, acertos e desafios, pois boto a minha alma em tudo que faço. Sou grato à vida pelo que aprendi”.
Formado pela UFF em 1975, Ricardo se dividia entre a profissão e as competições de asa delta até que, depois de um grave acidente, em 1988, em que fraturou duas vértebras, ficou seis meses sem fazer esportes.
“O cirurgião optou por não me operar e fiquei com a cabeça aparafusada no tronco e as dores eram imensas. Mas foi aí que se iniciou outra grande mudança em minha vida: me inscrevi num curso de design de jóias, do Marcio Mattar e já cheguei arrojado, como sempre fui. Meu primeiro brinco causou boa impressão e Marcio disse que isso sim era uma jóia, mas que seria impossível de ser usada porque pesava mais de 15 gramas. Elas devem ter o máximo 10!“.
Estava revelado mais outro talento e em pouco tempo o agora joalheiro expôs suas peças em Niterói e no Rio, passando a fornecer para a Fabricatto, Cantão, Company e outras marcas de moda.
Da arte foi para a escultura e o mobiliário de ferro, sendo que uma da peças fez furor, um porta-CD em forma de S que foi parar na casa de várias celebridades.
Seu escritório, Santa Irreverência, tem 36 anos, é responsável por cerca de 2.600 projetos, contando com uma equipe de 13 arquitetos e designers, uma construtora com 200 colaboradores e oito funcionários na parte administrativa.
Em seu portfólio estão vários espaços comerciais como a Animale, A. Brand, Reserva, Langak, Alessandro e Frederico e La Cabrera entre outros. Sempre surpreendentes.
O profissional multimídia também gosta de frisar ter descoberto cedo que precisava ter noções sólidas de cálculo e entender a lógica de uma estrutura.
Isso eu pude constatar ao visitar sua casa em Charitas, há 20 anos, construída num terreno onde havia risco da queda de uma pedra. A vista deslumbrante foi fator determinante para que ele fechasse o negócio e, claro, um geotécnico fez análises e perfurações garantindo que não haveria “rolling stones”.
Em forma de asa delta, com uma piscina redonda escultórica de cara para a baía de Guanabara, ela é quase uma atração turística da cidade e o que era um loft, vem sendo ampliado através dos anos. Afinal, é preciso espaço para os netos que todas as quintas-feiras têm o avô ao seu dispor.
Escritório do arquiteto: Santa Irreverência
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Tag: Ricardo Campos
