Arquitetura Hospitalar em tempo de pandemia: os hospitais de campanha

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Arquitetura Hospitalar em tempo de pandemia: os hospitais de campanha.

 

Na coluna de hoje, pela primeira vez escrevo em primeira pessoa e faço a primeira entrevista da coluna.

Pura Comunicação

Senti que precisava contar essa história, não podia guardar apenas para mim, e quem sabe inspirar tantos colegas de profissão que acreditam em um trabalho com qualidade, com gestão de processos e muito além disso, de uma arquitetura com propósito, que entrega não apenas um projeto, mas que salva vidas.

O mercado da arquitetura hospitalar é um nicho na arquitetura muito pouco falado, talvez por ser um grupo muito pequeno no país de profissionais que trabalham com um assunto tão ligado a instalações e estruturas, ao contrário de outras áreas na profissão que tem possibilidades de explorar um lado mais criativo. Porém, em um momento de pandemia, os olhos de todo o mundo se voltam para a arquitetura hospitalar, clamando por instalações temporárias que possam servir de hospitais de campanha.

 

Hospital de campanha Parque dos Atletas-Barra, no Rio — Foto: Reprodução

 

Segundo publicado pela Agência Brasil, o Rio de Janeiro recebeu no último mês o hospital de campanha construído no Leblon pela iniciativa privada (Rede D’Or, Bradesco Seguros, Lojas Americanas, Banco Safra e Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis -IBP) e hoje inaugura mais um no Parque dos Atletas, na Barra da Tijuca (construído com o apoio da Rede D’Or, Sul América Seguros, fundo Mubadala, Vale, banco BV, Procter & Gamble, Qualicorp, Stone e Movimento União Rio). Ambos fornecerão 200 leitos cada para o atendimento público do SUS.

Construir hospitais de campanha exige uma equipe multidisciplinar, muita sinergia entre projetistas, fornecedores e equipe de obra.

Para fazer essa engrenagem funcionar e entregar sem nenhum atraso é preciso gestão de projeto e processos para evitar o máximo possível de retrabalho, que nesse caso pode custar vidas.

 

Para entender um pouco mais sobre como é construir mais de 7 mil m² em menos de um mês e com instalações tão complexas, nossa entrevistada de hoje é a arquiteta Priscila Inacio de Andrade, formada na Universidade Federal Fluminense, atualmente arquiteta coordenadora de projetos hospitalares, com ampla vivência no mercado em gerenciamento de projeto e MBA em Gestão Empresarial pela FGV.

Priscila é uma das faces das muitas arquitetas e arquitetos, assim como outros profissionais de outras áreas, que estão à frente nas obras dos hospitais de campanha, mostrando que a arquitetura salva vidas, uma corrida contra o tempo em que a gestão de projeto é crucial para garantir a qualidade do espaço construído.

Arquiteta Priscila Inacio de Andrade em visita a obra do Hospital de Campanha Parque dos Atletas — Foto: Arquivo Pessoal

 

  • Como você entrou no mercado de arquitetura hospitalar? Como você usou a sua experiência em gerenciamento de projetos para órgãos públicos, seu trabalho anterior, na gestão de projetos hospitalares para a iniciativa privada?

Minha carreira sempre teve um grande foco na área de Gestão. Ao longo dos últimos anos eu pude trabalhar em empresas de gerenciamento e consultoria que me proporcionaram o contato com entes públicos e privados de diversos setores. As necessidades de cada projeto até podem ser distintas, mas quase sempre nenhum cliente está disposto a abrir mão da qualidade, prazo e custo nos seus projetos. Desse modo, quando a participação no setor hospitalar me encontrou, foi pelo viés da Gestão. Apesar de, no que tange a arquitetura, as premissas serem extremamente específicas para esta indústria, havia a necessidade de integrar os conhecimentos do gerenciamento às práticas de projeto, otimizando os resultados. Participar dos projetos hospitalares ainda é algo novo para mim, um universo que tenho estudado com mais afinco desde o último ano, mas combinar suas especificidades com uma organização e metodologia clara de trabalho me parece adequado e mais do que possível.

 

  • Você vinha trabalhando em um grande projeto hospitalar para o Rio e de repente se viu em uma iminência de colapso da saúde do país, como foi essa mudança-de-chave dentro de uma estrutura corporativa?

Eu entendo que ninguém estava preparado para as questões e limitações que estamos sendo impostos neste momento, mas acredito que há muitos profissionais buscando maneiras de se reinventar. A estrutura corporativa não teve outra opção senão acompanhar ao fluxo de adaptações a esta nova realidade. Eu trabalho no setor privado e tive a experiência de ver um monitoramento constante de números e dados, que embasaram as ações da companhia. Na área da arquitetura hospitalar, por exemplo, grandes esforços começaram a ser empregados para possibilitar a ampliação da capacidade de atendimento. Os hospitais de campanha já são uma realidade. Isso é algo incrível quando entendemos que a complexidade de um projeto hospitalar está sendo adaptada, respeitando-se as normativas, em uma arquitetura efêmera. Isso reflete ajustes desde a estrutura até os acabamentos empregados. Ao mesmo tempo, pode-se dizer que a preocupação em reunir um time multidisciplinar também foi um fator de sucesso. O conjunto de competências que arquitetos, engenheiros, instaladores e fornecedores reuniram para viabilizar um projeto dessa envergadura, traduz a urgência de um trabalho feito a muitas mãos e no qual o papel de cada um é super relevante.

 

  • Hoje, segunda-feira, será entregue o segundo hospital de campanha feito pela iniciativa privada na cidade do Rio. Fale um pouco sobre o papel do arquiteto nesse processo em que o tempo é maior inimigo.

O arquiteto é um player importantíssimo nas obras dos hospitais de campanha e é determinante que seja frisado que este profissional não é responsável apenas pelo desenho técnico. É bem verdade que dele nasce o conceito do hospital, assim como é oportuno esclarecer que para a inevitável adaptação do estudo preliminar à arquitetura efêmera em caráter executivo, também caberá ao arquiteto a conferência e os ajustes relacionados as especificidades de cada setor. No entanto, esse profissional também tem condições de atuar no campo, conferindo a execução do projeto, garantindo que a qualidade esteja sendo perseguida pelos executores, esclarecendo dúvidas ou mesmo ajudando a solucionar impasses que ocorram na obra. Quando acrescentamos os aspectos de gestão, ainda temos que ressaltar a relevância dos inúmeros controles que o arquiteto de gerenciamento é capaz de fazer, como a gestão de mudanças e escopo, por exemplo. Em empreendimentos com esse perfil todo o mecanismo de controle que possa evitar o retrabalho é adequado e bem-vindo.

 

  • No projeto de arquitetura hospitalar podemos dizer que 80% do trabalho diz respeito a instalações, qual o maior desafio de trabalhar com instalações tão complexas em um ambiente que precisa ser montado em curto prazo e com estruturas temporárias?

As instalações são de fato uma grande preocupação do time porque representam a base da operação dos hospitais, sem grandes chances de erro. Há ainda sistemas que são muito próprios de arquitetura desta indústria, como os gases medicinais, por exemplo. Por isso, um grande desafio é garantir que nada perca o momento certo de ser executado. Garantir que não haja sobreposição de etapas, que as interdependências sejam esclarecidas com brevidade e que todas as equipes consigam atuar simultaneamente em campo. Acho muito importante a presença de profissionais experientes acompanhando e conferindo em avanço os serviços realizados in loco. Digo isto porque em projetos comuns haveria tempo hábil suficiente para priorizar uma etapa só de compatibilização das disciplinas, além das inúmeras discussões que aconteceriam desde o início do processo com os principais intervenientes até a liberação do projeto executivo. Essas atividades contribuem para minorar equívocos e ocorrem muito antes dos desenhos chegarem ao campo. Para um projeto com prazo tão reduzido, é necessário encurtar distâncias, entender que muitas atividades precisam acontecer simultaneamente. Neste ponto, o gerenciamento é o que salta aos olhos e faz a diferença com mediações necessárias e registros precisos. É claro que também temos que levar em conta a experiência de fornecedores e executores como um diferencial.

 

  • Qual o maior aprendizado que você tira após participar do projeto do hospital de campanha que foi executado em menos de um mês?

Profissionalmente a maior lição é que sem processos claros, metodologia de trabalho e gestão, não importa a qualidade ou senioridade do time, informações importantes vão se perder, a chance dos custos ultrapassarem a margem é mais alto e o retrabalho tende a ser inevitável. Pessoalmente, a maior lição é que não há sucesso isolado. Quando o espírito colaborativo toma conta das pessoas, quando reconhecemos o melhor de cada um e utilizamos este potencial de maneira respeitosa, grandes resultados vem à tona porque o objetivo é um só. Eu me considero uma pessoa de sorte por ter tido a oportunidade de participar de 20 dias intensos de trabalho voltados exclusivamente para construção de mais de 200 leitos direcionados ao combate do COVID-19. É uma alegria poder ajudar de alguma forma a mudar, mesmo que aos poucos, a nossa realidade.

 

Quer saber mais como foi a construção do “Hospital de Campanha Parque dos Atletas”? Veja o vídeo de divulgação.

 

 

Fabiano Ravaglia

 

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Tag: Arquitetura Hospitalar – Fabiano Ravaglia

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