Ovos e coelhos

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A proximidade das festividades da Páscoa, quando comemoramos a Ressurreição de Cristo, despertou minha curiosidade em saber por que ovos de chocolate e coelhos estão tão ligados à data.

Os ovos sempre foram considerados símbolos de fertilidade e vida em várias culturas e tornou-se um costume presentear os amigos com ovos coloridos ou ricamente pintados. Alguns dizem que o coelho foi o primeiro a presenciar o renascimento do Salvador. Outros, que como as festas aconteciam no equinócio da primavera na Europa, os coelhos saltitavam pelos campos.

Licenças poéticas? Enfim, coelhos e ovos são um mistério, mas os ovos de chocolate foram uma invenção dos confeiteiros franceses no século XVIII que os esvaziavam e recheavam com chocolate. Acho que merecem palmas…

Ovos de chocolate e coelhos, a origem dos ovos Fabergé para a família Romanov.
Um exemplar dos ovos de Páscoa desenvolvidos pelo joalheiro Carl Fabergé para a família Romanov.

Isso é só uma introdução para falar sobre os maravilhosos ovos decorativos, obras primas da joalheria, criados por Carl Fabergé no século XIX para a família Imperial russa, os Romanov.

A Loja de Fabergé foi fundada em 1843 em São Peterburgo por Gustav Fabergé, de família originária da Picardia e continuou funcionando e criando maravilhas até 1918 quando os revolucionários bolcheviques fecharam a empresa.

Ovo da coroação, 1897: talvez o ovo mais icônico de Fabergé.
Ovo da coroação, 1897: talvez o ovo mais icônico de Fabergé.

Tudo começou quando o Czar Alexandre III viu peças assinadas por Fabergé numa exposição e pediu que fossem expostas no Museu Hermitage. Sentindo que sua mulher, a Imperatriz Maria Feodorova estava triste longe de sua família e de sua terra natal, a Dinamarca, o Czar, para mimá-la. encomendou à joalheria um ovo decorativo que contivesse surpresas em seu interior.

A peça, um ovo esmaltado por fora e recoberto de ouro por dentro, quando aberto mostrava uma gema de ouro, que por sua vez continha uma galinha de ouro onde havia a réplica em miniatura da coroa imperial com um pequeno rubi. A Czarina ficou tão maravilhada que seu marido pediu que todos os anos os joalheiros criassem um novo ovo com recheios preciosos para presenteá-la.

Fabergé. Ovo do Renascimento, 1894: presenteado pelo imperador Alexandre III a sua esposa, Maria Feodorovna.
Ovo do Renascimento, 1894: presenteado pelo imperador Alexandre III a sua esposa, Maria Feodorovna.

Eles se tornaram uma tradição na família imperial e levavam cerca de um ano para serem fabricados com ouro platina, prata, pedras preciosas e esmalte.  Depois que Alexandre III morreu, seu herdeiro, Nicolau II, continuou a encomendar os ovos para sua mulher Alexandra e também para sua mãe, que escapou do assassinato do filho, nora e netos vindo a falecer apenas em 1928.

Sabe-se que foram produzidas ao todo 52 peças até 1917,  dia em que  Nicolau II foi deposto e preso junto com sua família.

O paradeiro de 44 ovos é conhecido. Muitos estão em coleções particulares, inclusive de um milionário russo, três pertencem à rainha da Inglaterra, alguns estão no Palácio do Arsenal Russo e vários distribuídos por diversos museus, inclusive no Qatar.

O ovo da Ferrovia Transiberiana, 1900. Fabergé
O ovo da Ferrovia Transiberiana, 1900.

O ovo Transiberiano é um dos mais elaborados, pois de dentro da peça sai a miniatura de uma locomotiva feita em ouro e platina. Outros muito falados são o Necéssaire, o Querubim com uma carruagem, Pedro, O Grande, Treliças de Rosas, Kremlim de Moscou (com a miniatura do Kremlim) e Lírios do Vale (já em estilo Art Nouveau) mas todos são cobiçados por instituições culturais e colecionadores abonados. O Relógio da Serpente Azul, com um Vacheron Constantin, ficou perdido durante anos até que foi reconhecido em 2014 num mercado de pulgas e avaliado em 24 milhões de euros.

Ovo dos lírios do vale, 1898: este ovo Art Nouveau de esmalte cor-de-rosa guilloché, dado de presente pelo imperador Nicolau II à imperatriz Alexandra Feodorovna,
Ovo dos lírios do vale, 1898: este ovo Art Nouveau de esmalte cor-de-rosa guilloché, dado de presente pelo imperador Nicolau II à imperatriz Alexandra Feodorovna,

Segundo o colecionador e presidente do Instituto Art Déco Brasil, Marcio Roiter, alguns desses ovos já seguiam a tendência Art Nouveau.

“A Rússia sempre foi muito avançada e vanguardista e teve papel importante na liberdade criativa de jóias e objetos de decoração. Os czares gostavam de arte e sua ourivesaria foi um marco na divulgação dos objetos sem pedras, precedendo inclusive Lalique e Tiffany, que foram na esteira. Pena que muitos ovos foram perdidos ou destruídos”.

Existem muitas cópias no mercado, mas sinceramente, você compraria? Lembrando muito esse principio de surpresas em série, dou uma dica mais simples, mais barata e acessível: as Matrioskas, nome dado ao conjunto de bonecas russas pintadas como se fossem camponesas, feitas de madeira e em número de seis ou sete, que se encaixam uma dentro da outra até chegar à ultima, a única que não é oca.

Populares no mundo inteiro, elas surgiram por volta de 1890 (depois dos ovos imperiais) e seu significado tem a ver com a maternidade e a fertilidade. O mais curioso é que sua origem não é a Rússia, mas o Japão. Entretanto ficaram tão populares que são um souvenir indispensável de quem vai visitar o país, sendo que até um Museu foi feito para as bonequinhas.

Eu ainda tenho uma sugestão saborosa, apesar dos preços absurdos do mercado. Um ovo de chocolate conforta e, se quiser uma surpresinha, tem sempre o Kinder Ovo.

* observação da editora: ” O Kinder Ovo está quase o mesmo preço de um Fabergé!”

Feliz Pascoa!

Fonte das fotografias: Rainhas Tragicas.com

Suzete Aché

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