O arquiteto do dedo verde

A primeira vez que estive em Secretário na propriedade que o arquiteto Jimmy Bastian Pinto tem no lugar – com 150 mil m2 de terreno – foi para fotografar sua cabana cheia de charme, como se fosse um petit palais gauche, na beira do rio em meio a uma mata exuberante. Hoje a cabana não existe mais e foi substituída por uma casa de linhas retas e decoração que mistura móveis e objetos modernos e antigos.

Mas faz cerca de oito anos que ele se dedica aos jardins de sua casa, em um terreno de 30 mil m2 plantando as mais diversas espécies de plantas.

“Flores sempre melhoram nossa experiência de vida“, afirma ele, que foi reintroduzindo em seus canteiros espécies que lembravam sua infância em Petrópolis, como as papoulas e zínias entre outras.

“Flores tocam em arquétipos que são de amor, de beleza. E plantas também têm moda. Uma que teve altos e baixos foram as dálias, originárias do México, que foram importadas para a Europa e ficaram meio esquecidas até a época da rainha Vitória, aparecendo triunfantes nos jardins de Osborne House, seu querido palácio de verão na ilha de Wight, onde ela faleceu. Saíram de moda mas voltaram a aparecer nos anos 1970 quando começaram a ser feitos os cruzamentos que levaram às maravilhas que temos agora. Criatividade não falta aos hibridadores, sendo mais de 50.000 variedades catalogadas no Royal Botanical Garden de KewGardens na Inglaterra.”

Foi lá que ele teve a ideia de abrir os jardins para visitação, como costumam fazer os britânicos. Os tours costumam acontecer nos últimos sábados do mês, começando às 16 horas e as doações (cada um paga o que quiser) são encaminhadas para uma organização, a “Amigos da Mata”, criada para capacitar caseiros, seus filhos e moradores da região. As crianças têm aulas com professores que fazem a complementação educacional, dão apoio psicológico, recreação e ainda oferece uma quadra de esporte.

A quarenta ele passou quase toda em Secretário e confessa que conseguiu melhorar ainda mais sua coleção de flores e separá-las por cores como agora, com as brancas a todo vapor enfeitando 800m2 de terreno. Mas ensina que se deve misturar anuais e perenes para que os jardins estejam sempre bonitos. Outra dica é misturá-las com plantas de horta.

“As folhas das beterrabas são lindas e as flores da cenoura e da mostarda enfeitam muito. Além de tudo, essa rotação de raízes ajuda o solo, que estou sempre adubando e fertilizando.”

O arquiteto/paisagista bota a mão na massa e adoraria que os espaços públicos do Rio pudessem ser tratados por jardineiros voluntários para dar vida nova a vários lugares da cidade.

“O Central Park e a High Line em Nova York são mantidos por jardineiros voluntários e na Inglaterra as clínicas e hospitais desenvolveram jardins no entorno porque foi comprovado que ajudam a melhorar a vida dos pacientes. Plantar é um exercício de perseverança. Nem sempre dá certo, temos que continuar tentando“.

Jimmy costuma mandar e-mails com textos divertidos “Jardins mês a mês”, explicando quais as flores que estão brotando, seus nomes por vezes complicados, atiçando a curiosidade de quem recebe.

“As deliciosas chuvas e a agradável temperatura do verão fizeram o Jardim Tropical do meu jardim ficar lindo. Talvez tenha sido o inexplicável degelo da Antártica o causador, mas estou adorando“, foi uma das suas frases em fevereiro.

“Sim, a Primavera faz uma grande diferença para as plantas mesmo nesse país tropical onde tudo é verde o ano todo. A chuva que finalmente chegou depois de 3 meses também ajudou. Os canteiros de flores em tons de amarelo, vão se sucedendo uma florada após a outra e assim por meses: coreopsis, coreopsis tinctoria, hemerocallis variados, crossandra, capucine, marianinha, etc. O azul das hortênsias ao fundo compõe com a Bismarkia nobilis que plantei há 20 anos.”