A partir de 29 de março, no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB RJ), será
possível conferir a exposição Studio Drift – Vida em Coisas;
A mostra apresenta uma seleção bastante representativa da produção do DRIFT, dupla de
artistas holandeses, que recupera em esculturas e instalações a relação da humanidade com a
natureza e pretende explorar um cenário positivo para o futuro;
Em 2007, os artistas Lonneke Gordijn (nascida em 1980) e Ralph Nauta (1978) criaram o DRIFT, na Holanda. Desde então, eles vêm desenvolvendo esculturas, instalações e performances que colocam pessoas, ambiente e natureza na mesma frequência. Suas obras sugerem ao público uma reconexão com o planeta.
Na exposição Studio Drift – Vida em Coisas, usando a luz como um dos elementos básicos de construção de sua arte, a dupla explora as relações entre humanos, natureza e tecnologia de forma simples e ao mesmo tempo profunda.
A mostra, que inaugura o ciclo de exposições de 2023 do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB RJ), fica aberta gratuitamente ao público de 29 de março a 22 de maio e confere aos visitantes a oportunidade de vivenciarem obras que tocam em elementos essenciais da vida na Terra. Com patrocínio do Banco do Brasil, após a realização no Rio de Janeiro, a exposição segue para os Centros Culturais Banco do Brasil São Paulo, Belo Horizonte e Brasília.
É a primeira vez que um conjunto representativo de obras dos artistas é apresentado em solo brasileiro, embora a dupla já tenha percorrido um forte circuito internacional. Suas obras estiveram no The Shed (Nova York, 2021), Art Basel (2017, 2021), Victoria & Albert Museum (Londres, 2009, 2015), Bienal de Veneza (2015), entre outros. Trabalhos da dupla integram coleções permanentes do Rockefeller Center de Nova York, do Museu de Arte de Dallas e do Victoria & Albert Museum de Londres, e foram premiados como Design do Ano da Dezeen (2019) e no Arte Laguna Prize de Veneza, em 2014.
RACIONALIDADE – Segundo o dicionário, “drift” em inglês significa estar à deriva, ou à mercê
de algo. A partir desta ideia, tinha início uma das experiências artísticas contemporâneas mais
radicais no uso da tecnologia de ponta e dos efeitos visuais. De acordo com um dos curadores
da mostra, Marcello Dantas, “existe uma racionalidade por trás da obra deles, que é a
possibilidade da natureza e da tecnologia viverem em harmonia. Seja pelo mundo biônico, seja
pelo conceito de animismo, em que todas as coisas – animais, fenômenos naturais e objetos
inanimados – possuem um espírito que os conecta uns aos outros”, independente dos diferentes sistemas de crenças da humanidade.
O “animismo” da DRIFT significa, por exemplo, transformar um robô numa flor, revelando o
encontro entre “a projeção que fazemos das coisas e aquilo que elas potencialmente podem ser”, complementa Dantas. “Ao estudar os seres vivos e tentar emular artificialmente seu comportamento, passamos a criar uma escuta e uma linguagem que, em alguma dimensão simbólica, podem ser sincronizadas“.
Uma das obras presentes na mostra é Shylight (algo como “luz tímida”, se traduzido para o português). Trata-se de uma escultura hipnótica que se abre e se fecha, numa fascinante coreografia que mimetiza o comportamento de flores que, durante a noite, se fecham, numa medida de proteção e de economia de recursos.
Se grande parte dos objetos feitos pelos homens tendem a ter uma forma fixa, o projeto do DRIFT, neste caso, é recuperar a ideia de que, na natureza, tudo está em constante metamorfose e adaptação. Assim, os objetos animados ganham a força de expressar, também, caráter e emoção. Shylight, que ocupará a rotunda do CCBB Rio de Janeiro, foi criada com a utilização de várias camadas de seda, o que dá ao objeto a graça de um dançarino que se move de modo milimetricamente controlado.
Já a peça Fragile Future procura fundir natureza e tecnologia em uma escultura multidisciplinar de luz. Temos, aqui, uma visão utópica e crítica do futuro do nosso planeta, em que duas formas de evolução aparentemente opostas realizam um pacto de sobrevivência. Circuitos elétricos tridimensionais, de bronze, ficam conectados a sementes da planta dente-de-leão, que emitem luzes. É uma escultura com forma potencialmente infinita, que pode crescer ou encolher, dependendo do espaço que ocupa. Para a construção, a dupla recorreu a sementes que, uma a uma, receberam luzes de LED, num processo artesanal que resiste aos métodos de produção em massa e à cultura do descarte.
Uma outra escultura da mostra, Ego, (a obra foi pensada inicialmente para compor o cenário da ópera Orfeu), representa a rigidez da produção da humanidade até o momento e o quanto é importante que essa produção se torne fluida, para que não colapse. A obra questiona o quanto nossas esperanças, verdades e emoções são resultado direto da rigidez ou da fluidez de nossa mente. Um bloco de fibra de náilon oscila, graças à ação de oito motores e um algoritmo pensado especialmente para a obra.
Também fazem parte da exposição as peças Amplitude, Franchise Freedom+Drone protytpe, Materialism (e um vídeo relacionado a ela), Coded Nature, Drifters Film, Dandelight e Making of DRIFT, uma instalação com peças que mostra uma espécie de “making of” do trabalho da dupla. Materialism, Volkswagen Beetle é uma escultura pesada: comprime, em blocos, todos os materiais secos que compõem um carro – no caso, um Fusca. Assim, os materiais ganham uma forma condensada, instigando a imaginação sobre o papel humano na transformação da natureza.
Para a construção dessas obras monumentais, a dupla de artistas comanda uma equipe multidisciplinar de 64 pessoas, com um estúdio em Amsterdã e outro em Nova York.
LUZES DO PASSADO – Também curador da mostra, Alfons Hug lembra que, segundo os astrônomos, toda luz “é luz antiga”, que as estrelas emitiram há milênios. “A velha luz está contida mesmo nos livros, e o que chamamos de realidade, segundo o escritor argentino Jorge Luis Borges, em um ensaio sobre o pintor Xul Solar, são apenas restos de ideias antigas”. Ao colocar a luz como elemento central de suas composições artísticas, o DRIFT “aponta para a ociosidade da vida cotidiana e a futilidade da atividade humana. Lembram a tentativa dos cidadãos da cidade de Schilda, descrita num antigo conto de fadas alemão, de capturar a luz do sol em sacos para iluminar a prefeitura. E, quando isso não funcionava, tiravam o telhado para deixar a luz do dia entrar”. O curador afirma ainda que a luz, no DRIFT, “nos faz pensar no mundo de hoje,
mas também em nossas origens, pois esta luz vem de longe e contém um vislumbre do passado remoto”.
Studio Drift – Vida em Coisas
Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro
Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro, RJ
● De 29 de março a 22 de maio
● Segundas: das 9h às 21h
● Terças: fechado
● Quartas a sábados: das 9h às 21h
● Domingos: das 9h às 20h
Ingressos: gratuitamente na bilheteria do CCBB RJ ou clique aqui
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Celina Mello Franco