Profissionais da área de decoração, design e arquitetura revelam os desafios diários em seu trabalho
Pode parecer anacrônico que em pleno século XXI, em tempos de #metoo, “não é não”, empoderamento e sororidade, ainda exista um dia dedicado à mulher.
Afinal, se “lugar de mulher é onde ela quiser”, todo dia é dia dela, de celebrar suas lutas pela liberdade e dizer basta a séculos de opressão.
Mas você sabe porque dia 8 de março é o “Dia Internacional da Mulher”? Há controvérsias.
Para resumir: muitos dizem que foi depois de um incêndio em uma fábrica de roupas, em 1911, em Nova York, onde morreram dezenas de mulheres e o Sindicato Internacional de Trabalhadores na Confecção de Roupas de Senhoras fez da tragédia uma bandeira por melhores salários e condições de trabalho. Outros afirmam que a origem está na greve das trabalhadoras do setor têxtil de Nova York em 1857, quando foram reprimidas com grande violência.
Enfim, em 1975 a ONU resolveu dedicar esse dia às conquistas femininas – que não foram poucas – mas que precisam ser respeitadas. Fizemos uma pesquisa no mundo da decoração e arquitetura para saber como nossas profissionais enfrentaram, e continuam enfrentando, seus desafios.
“Sou formada há 35 anos e assim que me formei abri meu escritório à partir dos meus primeiros trabalhos. Não me lembro particularmente de ter sofrido algum constrangimento mas como qualquer pessoa no começo de carreira, notava uma certa desconfiança de alguns, como também a impressão de que faziam um favor em me contratar.
Com meus filhos pequenos diminuí meu ritmo de trabalho pois precisava de tempo para ser mãe. Nunca parei de trabalhar mas por alguns anos o ritmo ficou menor. Este penso ser o grande desafio de uma profissional: a conciliação entre o envolvimento da vida particular com o da profissional.
Outro ponto também é que, como arquiteta, meu dia a dia se divide entre o canteiro de obras, o escritório, reuniões com clientes e eventos. Parece um detalhe mas é uma logística feminina complicada estar com aparência apropriada em situações tão diferentes.
Acho que a mulher que trabalha tem que prestar atenção na sua postura, passar credibilidade até mesmo quando assume suas dúvidas e neutralizar qualquer tentativa de ser desvirtuada do comportamento profissional.”
Patricia Landau, arquiteta
“Trabalho desde a época da faculdade e lá se vão 15 anos. Minha mãe tinha uma marcenaria e meu pai era construtor, cresci nesse ambiente.Quando estava na faculdade comecei a receber pedidos de amigos e familiares para desenvolver uma marcenaria ou fazer uma pequena reforma. Nessa época ainda estagiava mas a demanda foi crescendo e antes mesmo de me formar, chamei a Carol para me ajudar e assim nasceu a nossa parceria, sem pretensões, sem grandes planos para o futuro.
No começo foi difícil sim, mas como éramos muito jovens ainda, trabalhávamos com uma energia extra, ou seja, fazíamos tudo ao mesmo tempo já que não tínhamos uma equipe. Isso demandava um jogo de cintura constante além de saber improvisar e fazer várias coisas ao mesmo tempo. Com a rotina, aprendemos a nos dividir e complementar.
Quanto ao preconceito dos homens em relação às mulheres, acredito que ainda exista, mas não se aplica ao nosso caso, que é a arquitetura residencial. Cada vez mais as pessoas querem um lar e não uma casa, o que entendo como a vontade de ter um ambiente bem pensado, organizado, mas com a família em primeiro lugar. É uma mentalidade bem feminina, de cuidar, proteger.
Nós nos baseamos nisso na hora de projetar. Ser mulher, mãe, dona de casa e arquiteta acaba sendo bem conciliador,conseguimos olhar o projeto com uma análise real e cuidadosa e percebo que os clientes se sentem acolhidos.
Eu e Carol participamos de todos os projetos sempre com uma equipe ajudando a desenvolver e detalhar tudo. Gosto de manter o clima de ateliê de ideias. Acredito que arquitetura é uma trabalho essencialmente coletivo tanto na ideia quanto na execução.
Nunca tive experiências desagradáveis na profissão por ser mulher. A unica coisa que acho graça é alguns fornecedores se espantarem com o fato de entendermos de obra de colocar a mão na massa. Sinto que aos poucos a gente vai desmistificando o mercado, fazendo com que seja natural a nossa presença nos canteiros de obra”.
Carolina Escada, arquiteta
“Trabalho há 15 anos e mesmo antes de formadas Patricia e eu já fazíamos projetos em parceria com engenheiros para pessoas conhecidas. Há 13 montamos nosso escritório.
O começo, na verdade, não foi difícil, foi “muito ralado”. Nossa clientela era de jovens com um budget mais restrito, o que nos remeteu a fornecedores mais simples e que nos demandaram desenvolver uma habilidade extra de execuções super detalhadas de projetos e acompanhamento de obra para garantir o resultado final que desejávamos, o que foi muito benéfico para os anos seguintes.”
CD. As mulheres ainda sofrem preconceito em relação aos homens?
“Sinceramente, no nosso mercado nunca senti. O que acontece bastante é que, ao lidar com obra ou algum assunto relacionado a ela, o mercado é bem masculino, e por ser mulher você sente um pouco a pressão e acaba tendo que se afirmar mais para ter seu ponto de vista executado.
No início eu acabei adotando uma postura mais dura acreditando que isso me faria ser mais respeitada mas depois de um tempo fui entendendo que ao perceber qualquer pessoa como um parceiro e alguém que tem muito para te ensinar, seja homem ou mulher, isso é que faz o sucesso de um projeto. Não é preciso mudar seu jeito de ser e agir.
Acontece de você se ver em uma obra sem ninguém além de você e um pedreiro ou fornecedor é homem. Nunca é uma sensação tranquila, de alguma forma fico sempre um pouco receosa. Mas isso também pode acontecer em diversas situações sendo mulher.
Montamos um escritório essencialmente feminino, e vejo que, com uma boa equipe e profissionais parceiros para nos ajudar, tudo se resolve bem. Todo o processo é muito agradável e interessante quando você está confortável no seu universo. Tudo está fluindo muito bem e o mercado do Rio está aquecendo novamente. Estamos animadas!”
Esther Schattan, sócia-diretora da Ornare
“Nestes 34 anos de Ornare, vejo com otimismo a evolução da mulher no segmento. Mais do que isso, enxergo protagonismo. Atuo na linha de frente de uma empresa de luxo do segmento de arquitetura e decoração e acompanho de perto o desenvolvimento constante do trabalho dos profissionais da área.
Mesmo que pareça um mercado mais receptivo para as mulheres no Brasil, é o profissionalismo, o compromisso e a percepção aguçada que as faz colocar suas marcas na história.
E isso vale para tantas e outras áreas onde a mulher tem alcançado notoriedade. No Brasil, há um movimento muito forte para que as oportunidades sejam iguais para todos.
Os clientes já têm a ideia de procurar um bom arquiteto ou designer, sem dizer que preferem homem ou mulher. Querem outras definições: criativos, éticos e comprometidos.”
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