Tenho uma queda por estampas de bolas, bolinhas, poás, polka dots. Em qualquer idioma, como preferirem. E gosto de qualquer maneira: de cores diferentes, preto e branco, pequenas, médias, carnavalescas, confetes para alegrar nossa vida o ano inteiro.
Faço essa confidência porque a “Bola da vez”, a artista plástica japonesa Yayoi Kusama (Matsumoto, 1929) firmou parceria pela segunda vez com a Louis Vuitton, que fez um marketing espetacular de seus novos produtos cobertos com uma técnica de serigrafia reproduzindo sua marca registrada, as coloridas bolinhas. Na minha, na sua, na de milhares de mulheres (e homens) wishlist.
Considerada uma das mais atuantes e famosas artistas vivas, Yayoi teve uma vida agitada, marcada por distúrbios psíquicos e alucinações, além de ter TOC – transtorno obsessivo compulsivo – que fez com que os círculos fossem sua maior obsessão. A mãe, uma mulher de negócios, nunca aceitou o lado artístico da filha o que causou atritos e brigas durante sua infância e adolescência.
Aos 28 anos Kusama foi viver nos Estados Unidos tentando dar mais visibilidade ao seu trabalho, que sempre foi um misto de surrealista, modernista e minimalista, transitando por colagens, pinturas, esculturas, instalações e arte performática.
Nesse período ela se encaixou na exuberante pop art, trabalhando com artistas como Andy Wharol e Joseph Cornel e envolveu-se em performances polêmicas como pintar com suas queridas bolinhas coloridas vários participantes totalmente despidos.
Esses “pontos do infinito” como ela os chama, são um padrão em sua obra e em seu visual e alcançam cifras altíssimas podendo ser vistas em museus de vários países.
Esquizofrênica, atormentada por visões e alucinações, a artista retornou ao Japão em 1973 para cuidar de seu estado de saúde e internou-se por vontade própria num hospital psiquiátrico onde mora até hoje, perto de um local onde cria suas obras.
“Minha arte é uma expressão da minha vida, sobretudo da minha doença mental. Transformo as alucinações e imagens obsessivas que me atormentam em esculturas e pinturas. Entretanto crio peças mesmo quando eu não tenho alucinações.”
Existe em Inhotim uma obra da artista – Narcissus Garden Inhotim – composta de dezenas de esferas prateadas que ficam dispostas na superfície da água e se movem de acordo com os ventos. É uma réplica que instalação que ela realizou para a Bienal de Veneza de 1966 quando espalhou 1.500 esferas espelhadas com placas que comunicavam “Seu narcisismo está à venda”. Por dois dólares cada uma, ela vendia as bolas para quem quisesse e foi uma forma de criticar o mundo das artes.
Kusama também se aventurou na literatura e escreveu cerca de 13 livros alguns classificados como chocantes pelos personagens outsiders.
Enquanto as bolotas imprimem coleções cujos valores extrapolam os orçamentos de pessoas “normais”, vale a pena lembrar de outro doente mental, o sergipano Artur Bispo do Rosário, cuja esquizofrenia foi traduzida em mais de 800 obras que produziu durante os 50 anos que ficou internado na Colônia Juliano Moreira. Sua peça mais conhecida é o Manto da Apresentação, que deveria vestir durante o Juízo Final. Em 1994 o conjunto de sua obra foi tombado pelo Instituo Estadual de Patrimônio Cultural.
Mas essa história fica pra outra vez.
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Tag: bolas