O lar de uma arquiteta e sua família, localizado no Humaitá, bairro na zona sul do Rio de Janeiro. Este apartamento de 115m2 foi projetado pela arquiteta Ana Neri para receber sua própria família – o marido, que é advogado, e os dois filhos pequenos (Olívia, de 6 anos, e Antônio, de 2 anos).
Quando o projeto foi iniciado, Ana não esperava encontrar um pilar tão largo na parede ao fundo da área social. “Desvendar estruturas no início da demolição e trazê-las como fonte de textura e cromatismo para o projeto é sempre um laboratório que me fascina”, diz. A partir desta descoberta, a arquiteta decidiu então descascar e incorporar ao décor da sala de jantar tanto o pilar de concreto como os tijolos da alvenaria da mesma parede.
Já a parede ao lado foi pintada de azul (inclusive a porta de entrada do apartamento) e passou a “acolher” um banquinho de madeira (que serve de apoio para tirar os calçados) e um móvel antigo de garimpo (que serve de apoio à mesa de jantar). “Inseridas de forma pontual, peças de garimpo trazem equilíbrio, história e uma excelente dinâmica na composição final”, avalia ela.
Como a sala de estar é o coração dos encontros no apartamento, o ambiente ganhou um sofá largo, muito confortável, ideal para acomodar, ao mesmo tempo, os quatro integrantes da família. Já o banco em concreto que se estende por toda a parede da tv foi moldado in loco na obra, servindo de rack, aparador ou mesmo banco, neste caso tornando a conversa possível entre diferentes ângulos.
“Ter um apartamento cuja planta nos permitisse integrar a cozinha à sala foi uma premissa na procura do nosso novo lar”, revela a arquiteta, que buscava, através desta conexão espacial, mais claridade e ventilação em ambos os espaços. Após a abertura de um vão generoso, Ana desenhou uma estrutura vertical, executada em serralheria branca com vidro ora canelado ora aramado, que incorporou outras funcionalidades, além de divisória com prateleiras superiores.
No lado voltado para dentro da cozinha, por exemplo, essa estrutura abriga, na parte inferior, uma adega, gavetões baixos e nichos que organizam os eletros portáteis. Já o lado voltado para a sala conta com bancada (que serve apoio às refeições rápidas da família) e porta de correr, que permite vedar o acesso à cozinha, recurso importante quando se tem crianças pequenas em casa. “Ao mudar de lugar o antigo acesso à cozinha, liberamos uma parede inteira para projetar uma marcenaria que acomoda geladeira, forno e microondas, além de armários-despensa com portas furadinhas”, informa.
O corredor íntimo também passou por modificações significativas: a parede do primeiro quarto foi demolida para receber, em seu lugar, um armário dupla face que funciona como rouparia e louceiro de um lado e guarda-roupa no lado voltado para o dormitório. Além disso, o forro em gesso que era super baixo foi removido para aumentar o pé-direito e deixar a laje em concreto aparente.
No quarto do casal, o painel cabeceira em laca fendi foi o ponto de partida para a escolha do cromatismo e das texturas – as mesinhas de cabeceira são em madeira carvalho americano e o fechamento do closet recebeu palhinha natural e laca, num tom de off white bem clarinho.
Já a parede sob a janela recebeu, em toda a sua extensão, uma marcenaria de múltiplas funções: de um lado, fica a bancada de trabalho e, do outro, gavetas para guardar itens de escritório e duas portas de correr que camuflam uma sapateira. “Como este quarto tinha uma planta muito desequilibrada que dificultada a inserção de armários, reduzimos um pouco o quarto vizinho para implantar um closet compacto, feito em marcenaria. No lado do closet voltado para o acesso ao cômodo, criamos caixinhas e penduradores para organizar acessórios”, explica a arquiteta.
No quarto da filha Olívia, Ana Neri adotou uma base neutra e clara e as cores entraram de forma pontual e nos detalhes da marcenaria. “Quarto de criança já é naturalmente colorido. Por isso, a ideia aqui foi trazer um pano de fundo claro na parede, através do painel pegboard, com prateleiras, penduradores e módulo fechado ajustáveis, deixando para os brinquedos e a marcenaria de apoio a função de colorir, na dose certa”, diz ela. Já móvel baixo, alinhado com a cozinha de madeira, foi desenhado pela arquiteta para ser solto, permitindo, assim, mudar de posição conforme as novas fases da menina. O cômodo conta ainda com cama-tablado, mesinha para atividades diversas e painel-lousa.
Por fim, no quarto do filho Antônio, a poltrona Costela já fazia parte do acervo da família e foi reestofada em tecido listrado, deixando-a mais leve e despojada. A cômoda, que um dia já foi de sua irmã, também foi reaproveitada e ganhou laca amarela, num tom vibrante. Já o armário, projetado sob medida para o espaço com puxadores em cava redonda vazada, conta com portas de correr e gavetões para os brinquedos na base. “Entre garimpos, heranças e novidades, o quarto do Antônio tem uma misturinha que adoramos usar em projetos infantis”, finaliza a arquiteta Ana Neri.
Arquiteta: Ana Neri
Fotografia: Sambacine
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Celina Mello Franco