Novos caminhos do Morar

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Então é isso. Chegamos em 2022. E a nossa casa? Como será neste novo ano? Será que aparecerão novas tendências, novas cores, novos caminhos do Morar?

Conversamos com cinco arquitetos para saber no que apostam para mais um ano dominado pelo… nem vou mencionar. A boa notícia é que eles estão otimistas! Quase todos concordam que a casa não é mais um lugar de ostentar, de mostrar para as visitas, mas um lugar que todos possam se sentir bem e acolhidos.

Novos caminhos do Morar. Área externa de um apartamento com projeto do arquiteto Ronald Goulart.
Projeto do arquiteto Ronald Goulart
Corredor decorado em um apartamento com protejo do arquiteto Ronald Goulart. Meia parede com boiserie brancas e pra cima pintado em um tom de azul.
Projeto do arquiteto Ronald Goulart
Foto do Ronald Goulart
Arquiteto Ronald Goulart

O arquiteto Ronald Goulart vai direto ao ponto. “A pandemia trouxe a prioridade para a praticidade, o uso de iluminação e ventilação naturais, como forma de economia e salubridade. Os projetos comerciais principalmente estão exigindo que materiais, revestimentos e mobiliário reflitam essas novas exigências de higienização“. Com o que concorda o arquiteto Nando Grabowsky acreditando que as pessoas vão querer uma casa mais alegre, mais iluminada e principalmente arejada. “Vamos voltar a valorizar as frestas, as janelas, as correntes, porque ficou implícito na pandemia como era importante essa renovação do ar” diz ele.

Cozinha com armários na cor rosa com fundo da parede em pastilhas verdes.
Cozinha, projeto do arquiteto Jean de Just
Quarto de casal com a parede atrás da cama pintada de verde , com aplicações em madeira na mesma cor.
Quarto, projeto do arquiteto Jean de Just
Arquiteto Jean de Just

A falta de materiais anda atrasando algumas obras e muitos se ressentem com isso, já que os clientes estão cada vez com mais pressa. O arquiteto Jean de Just ressalta esse ponto. “Eles dizem que vão ficar em casa mais tempo e que querem aproveitar, querem tudo prático, querem tudo rápido. A casa também não é mais para receber, para ostentar. É para ser vivida pelos moradores e não para mostrar aos outros. Sempre tive clientes com muita personalidade, mas acho que a pandemia reforçou isso. As pessoas estão assumindo mais o seu próprio gosto e se preocupando menos com o dos outros“.

Sala ampla e clara, com janelas em toda a extensão, Decorada com moveis em tons claros
Projeto do arquiteto Victor Niskier
Projeto do arquiteto Victor Niskier na Casa Cor Rio / Foto: André Nazareth
Arquiteto Victor Niskier

Então, uma das características importantes  de 2022 é a personalidade. Dos donos da casa, óbvio. Quem também acredita nisso é o arquiteto Victor Niskier. “Em 2022 a palavra de ordem é a personalidade. Tendências, imposições, modismos e padronizações são deixados de lado em nome do “como eu quero” e do “o que é confortável” e se “adéqua ao meu uso”. Os clientes buscam arquitetos que consigam captar sua essência. É cada vez mais raro trazerem referências de outros projetos.”

Projeto do arquiteto Nando Grabowsky
Projeto do arquiteto Nando Grabowsky
Arquiteto Nando Grabowsky

Os queridinhos da vez vão continuar a ser o home office e a cozinha, mas não a cozinha gourmet, que foi o sonho de dez entre dez pessoas. Segundo o arquiteto Nando Grabowsky, os clientes passaram a pensar na possibilidade de ter que ficar mais tempo em suas casas. “As próprias pessoas vão cozinhar mais, passar mais tempo na cozinha, numa sala de TV em que caiba todo mundo, pois a convivência será ainda mais valorizada. Outro problema é a setorização porque tem muita gente sofrendo esse problema com os maridos (*nr: ou do casal e dos filhos) que passaram a trabalhar em casa, ocupando um espaço que não existia. Essa questão vai ficar independente do trabalho voltar ou não a ser presencial. Muita gente preferiu, as empresas também e isso refletiu muito no mercado de escritórios”.

Projeto do arquiteto Victor Niskier

E as cores, e as cores? Será que o cinza ainda predomina?  Todos os profissionais são unânimes em afirmar que tendência é uma palavra fora de moda. Mas convenhamos, sempre há convergência de opiniões.

Nando e Victor falam da volta das cores claras. “Os cinzas, que por mais de uma década se apresentaram quase de forma exclusiva nas paletas da busca do neutro, voltam a dividir espaço com os beges, afinal, não há regras”, diz Niskier, acrescentando, ” Na busca pelo “cozy” , “comfy” , “vintage” – palavras recorrentes em sintonia com memória afetiva – a frieza do cinza não é mais adequada. O bege , de datado e tido como antiquado, volta a dividir espaço. O urbano também não fascina mais tanto, logo, as gamas de cores beges remetendo a terra, areia, argila, ressurgem quase que em um revival – para um olhar mais desatento – dos anos 80″.

Já Nando acredita que a casa será mais alegre, mais iluminada. “Gosto de cor e acho que as escuras, fechadas, perderam terreno porque as pessoas não vão querer ficar num ambiente assim, que acaba botando todo mundo pra baixo. Os brancos, os beges, o off white, vão predominar. Não sou fã do amarelo, mas acho que se deve dar uma chance a ele, que foi abandonado, mas é iluminado. No mais, um laranja, um azul e talvez, como sempre, o verde, que tem toda essa questão da ecologia, natureza. Ele traz isso para o ambiente.”

Projeto do arquiteto Jairo de Sender
Projeto do arquiteto Jairo de Sender
Arquiteto Jairo de Sender

Jairo de Sender não aposta em cores nem acha que exista uma cor específica para 2022. “A cor é muito pessoal. Do branco ao preto, uso de acordo com a sintonia que o cliente tem com determinada cor. Quando ele me pergunta “que cor vai ser a minha sala,” o meu quarto” eu digo” não sei, isso vai muito de acordo com o que você deseja. Abro o catálogo de tintas e deixo que escolham a cor que mais lhes agrada”.

Ronald Goulart abre um parêntese para a cor do ano da Pantone, a Very Peri. “É uma cor que, segundo seculares correntes espiritualistas, tem efeitos curativos… nada mais urgente, necessário e desejado nesse momento que vivemos”.

Mas sem dúvida todos afirmam que as plantas voltarão a frequentar nossas casas depois de tanto tempo de reclusão. “Você pode morar num apartamento de 24 m2 como fiz agora em São Paulo e ter uma mini horta, vasos, cultivar alguma coisa. Não precisa ter uma casa com quintal para ter verde. Em qualquer cantinho a gente pode ter um pouco da natureza” diz ele. Tenham em mente então os jardins verticais, que podem ser de qualquer tamanho. Ou as plantas de interior, que não necessitam de sol direto, conta Jairo de Sender.

Concluindo, com ou sem “tendências”, a casa continuará a ser nosso refúgio e o otimismo, pelo menos entre os profissionais de arquitetura e decoração, é grande.  “Mais do que mudanças nessa área, há uma mudança em nossas vidas que está apenas começando. Mais que um Ano Novo, estamos arquitetando um Mundo Novo” espera Ronald.

Nós também, nós também.

Arquitetos:

Ronald Goulart  / Jean de Just / Victor Niskier / Nando Grabowsky / Jairo de Sender

Suzete Aché

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