Egoísmo não faz parte da personalidade do colecionador e empresário português José Manuel Rodrigues Berardo, o Comendador, que acaba de inaugurar um museu – como diriam seus conterrâneos – muito giro – e totalmente dedicado ao Art Déco e Art Nouveau com peças adquiridas por ele durante anos. Previsto para 2017 e adiado por problemas de obras de restauração na antiga residência de veraneio do Marquês de Abrantes, finalmente abriu as portas em Lisboa, na rua 1º de Maio, adaptando o palacete com 2.500m2 para a função de museu.
O nome do lugar é uma sacada de bom humor: B MAD, Berardo – Museu Art Déco ou, se quiserem na tradução nada acidental, Be mad (seja louco). Situado no concorrido bairro de Alcântara, onde funciona o LX Factory, um complexo de galpões com lojas, escritórios e entretenimento distribuídos por 23 mil m2, o museu terá visitas de grupos acompanhados de um monitor para explicar cada uma das peças já que não existem legendas ao lado delas. O que, convenhamos, é mais cômodo, pois ninguém precisa se abaixar…
O B MAD tem a curadoria do presidente do Instituto Art Déco Brasil, o carioca Marcio Alves Roiter, e do francês Emmanuel Bréon, fundador do Musée des Années 30 em Paris. Marcio lamenta não ter podido estar presente na abertura, mas pretende ir assim que tiver cumprido os dias de precaução pós-vacina e Portugal tenha aberto as portas aos turistas.
“O B MAD tem um estilo bem clean. Gosto que tenha espaço, que as peças possam respirar. E o momento que vivemos é muito semelhante ao que se seguiu ao fim da primeira Grande Guerra Mundial quando a epidemia da gripe espanhola infectou um quarto da população do planeta. Foi quando surgiram os chamados Anos Loucos, uma catarse de alegria para uma população tão sofrida. O Art Déco tem a ver com esse renascimento, que era um escape do desastre. O nome do museu é bem apropriado para o que estamos passando.”, explica ele.
Os ambientes da casa foram recriados com móveis e objetos Art Déco e Art Nouveau assinados pelos mais destacados artistas da época como Lalique, Majorelle e Ruhlmann além pinturas, esculturas, jóias e mais de quatro mil desenhos originais de pratas da Ourivesaria Reis e Filhos, do Porto.
Selfmade man, José Berardo saiu de sua terra natal, a Ilha da Madeira, e fez fortuna nas minas da África do Sul tornando-se um empresário de peso e colecionador compulsivo de arte. Em 1980 chegou a ser presidente do Bank of Lisbon and South África, mas empreendeu em várias áreas, até no futebol e tornou-se um dos homens mais ricos de Portugal.
Berardo detêm a marca de vinhos Quinta da Bacalhôa, uma das mais famosas de seu país e a Aliança. No novo B MAD existe um espaço para degustação, no térreo, que deve também ajudar a manter o local.
Para avaliar o que o comendador acumulou e faz questão de dividir com todos, podemos citar o Museu de Arte Moderna e Contemporânea em Belém, o Museu do Azulejo em Extremox com exemplares que datam desde o século XV, o Museu do Monte Palace no Funchal, o Budda Eden Garden, com cerca de 35 hectares instalado na Quinta dos Loridos em Bombarral (com centenas de figuras orientais) e o Underground Museum, em Sangalhos, um subterrâneo onde estão expostos fósseis, minerais e coleções de arte africana.
Marcio está animado para ajudar a formatar a Lisbon Art Déco Society, em parceria com Berardo.
“É preciso salvar o Art Déco português. Existem bairros que têm edifícios lindos mas um pouco abandonados. Quem puder empreender e resgatar esses marcos vai fazer com que o lisboeta conheça seu patrimônio, que também vai atrair os amantes do estilo. A Avenida da Liberdade tem prédios espetaculares”.
Enquanto isso não acontece, quem estiver em Lisboa pode conhecer o B MAD – com entrada franca durante todo o mês de maio – e ficar louco com as duas mil peças em exposição.
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