Arquiteta catarinense Juliana Pippi assina a sala íntima Toki na CASACOR SP
Sala íntima Toki – Um mergulho no meu tempo destaca a estreia da catarinense Juliana Pippi, um dos nomes mais pulsantes da nova geração da arquitetura nacional, na edição paulista da Casa Cor
Estreiando eese ano na CasaCor São Paulo, Juliana Pippi já foi premiada 4 vezes na CasaCor Florianópolis com o melhor ambiente das edições.
A sala intimista que materializa a reconexão com o tempo – e com nós mesmos – é a proposta da arquiteta que fez uma leitura panorâmica tanto do tempo enquanto passagem cronológica, quanto da metáfora de seu aproveitamento e da angústia pela sua falta.
“São Paulo, que é um dos maiores estandartes da vida apressada na megalópole, para mim, enquanto forasteira, é o contrário: uma desaceleração. Venho sempre para cá para dar uma pausa, me abastecer de referências e absorver as novidades culturais”, diz.
Batizada de Toki – Um Mergulho no meu Tempo, Juliana imaginou um pequeno cubo de 40 metros quadrados como zona de contenção, calmaria, equilíbrio e recarga, onde leveza e frescor imprimem as maiores notas por meio de paleta suave, tons esmaecidos, texturas aconchegantes e um forte apelo craft na seleção de superfícies e acessórios.
As paredes, por exemplo, se harmonizam entre a composição da cerâmica assinada pela artista Hideko Honma para a Portobello, as áreas de lona crua, e os encapsulamentos com telas bem fininhas em performance quase de papel-arroz, vendendo a ideia de flutuação desde o piso em mood sépia até alcançar o teto em carvalho estonado, levemente rosado, de onde pende uma escultura deslumbrante da artista Clara Fernandes.
Entre ampulhetas e composições transadas de arranjos naturais, a seleção do mobiliário e dos acessórios também confronta timings diferentes, numa narrativa cheia de lógica para a arquiteta que também é musicista e apostou nos versos de Arnaldo Antunes para a trilha: “Será que a cabeça tem o mesmo tempo que a mão? O tempo do pensamento, da ação?”.
Assim, o dito slow design, em peças desenvolvidas ou customizadas especialmente para seu espaço, ofício que demanda longos períodos de feitura entre os dedos (como o banco e a cestaria de Inês Schertel, a luminária de Ana Neute, o banco e os painéis de Domingos Tótora), faz match com o high design em escalas industriais, com seus prazos mais objetivos em previsões instantâneas (visto nas criações de Jader Almeida para a Sollos Brasil, além das peças para a Saccaro e Dpot Objetos).
Nessa mistura fina, a arte também abarca saberes atemporais.
As meticulosas casinhas de mármore do escultor Dan Fialdini, nas versões suspensa e de mesa, arrematam o cenário de fotografias (para Juliana, “a arte do tempo congelado”) assinadas por Denilson Machado, Kiolo e Felipe Morozini, além do trabalho de Walmor Corrêa.
Entre transparências e furtacores, o ponto de exclamação é o sofá, que ganhou índigo em tie-dye, técnica oriental milenar (também conhecida como shibori no Japão) que descolore os tecidos em manchas abstratas.
E, para acentuar essa autoria handmade, a própria Juliana desenhou o tapete em tear, executado pela By Kamy, quase como um manifesto das reconexões com a casa, com a vida e consigo próprio, de dentro para fora e de fora para dentro.
“Todo o layout é voltado para a janela, para descansar a vista e direcionar o olhar para o mundo – e para o tempo – que nos espera”, finaliza, evocando verso “caetânico”: “Peço-te o prazer legítimo e o movimento preciso, quando o tempo for propício/Apenas contigo e comigo/Tempo, tempo, tempo, tempo”.
Celina Mello Franco
Liliane Abreu
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