Os arquitetos Bruno Moraes, Carina Dal Fabbro e Isabella Nalon expõem seus pontos de vista e pontuam o que deve ser tendência quando a pandemia acabar
Ainda não sabemos quando a pandemia vai acabar, mas uma coisa é certa: O mundo jamais voltará a ser como antes. Entre as mudanças para a nova ‘vida normal’, o consumo consciente deve ser uma das principais mudanças para as pessoas, que passarão a refletir mais o impacto que geram ao meio ambiente.
Tanto na arquitetura como na decoração, também haverá uma transformação no pensamento dos consumidores que, com a intensidade do viver tanto tempo dentro de casa, passaram a valorizar mais o morar.
Os arquitetos Bruno Moraes, à frente do escritório Bruno Moraes Arquitetura, Carina Dal Fabbro, do Carina Dal Fabbro Arquitetura, e Isabella Nalon, do Isabella Nalon Arquitetura, mostram como é possível traduzir esse pensamento em ações práticas.
1.Mas afinal, o que é o consumo consciente?
A arquiteta Carina Dal Fabbro explica que o conceito “está diretamente ligado ao comportamento de não exceder as necessidades de consumo, um comprar consciente e um olhar sobre o impacto que essa relação monetária traduzirá para a qualidade de vida do planeta”.
Se até bem pouco tempo atrás o consumo consciente era uma tendência em expansão, hoje será uma prática ainda mais reforçada. “Após um período que nos possibilitou compreender o real valor das aquisições, as pessoas deixarão de consumir por impulso e prevalecerá a qualidade, a funcionalidade e a importância desses itens para o consumidor”, defende Isabella Nalon.
2.Mais comodidade em casa
A valorização do conforto e do bem-estar pautarão os novos projetos de arquitetura de interiores, haja vista a experiência atual possibilitou um novo panorama: independentemente do tamanho, um lar bonito apenas não bastará, é fundamental que a casa ‘abrace’ o morador e esteja pronta para atender todas as suas demandas.
“A relação entre bem-estar x produto virá com ainda mais intensidade depois dessa quarentena”, defende Bruno Moraes.
Se com a rotina de até bem pouco tempo atrás as pessoas enxergavam a casa apenas como um lugar para dormir, e não como um ambiente para permanência mais duradouras, a pandemia possibilitou essa revisão.
“Na vida corrida daqueles que vivem nas grandes cidades, por exemplo, muitos sequer usufruíam de cômodos da casa como cozinha e área de serviço. Nos próximos projetos, tenho convicção de que as pessoas nos solicitarão ambientes mais funcionais”, revela Isabella.
3.Mudanças sutis, mas de grande impacto
Algumas medidas simples, como a substituição das lâmpadas já traz impacto positivo para o meio ambiente.
“Uma lâmpada de LED garante aproximadamente 80% de economia de energia elétrica”, revela Carina.
“Junto com as questões sustentáveis que amparavam a tendência do LED, essa troca também se justifica pela necessidade de analisar melhor os gastos. Com o atual cenário econômico, as famílias precisam avaliar suas rotinas, cortar excessos e promover alterações que, de forma geral, não impactem na qualidade de vida”, reitera Bruno.
O ar-condicionado também é um grande vilão do consumo de energia elétrica. Assim, optar por modelos como o inverter garante uma economia de 60% em relação aos outros modelos.
Assim como a geladeira inverter e outros eletrodomésticos são mais econômicos, o consumidor intensificará sua busca por itens com esses perfis.
“As marcas precisam estar atentas à essa nova busca do brasileiro”, salienta o arquiteto Bruno.
A transmutação no comportamento de compra também será refletida pelo desejo de quem as marcas adquiridas agreguem propostas mais sustentáveis e humanas. Não basta apenas avaliar as características do produto, mas dentro de um contexto mais amplo, o relacionamento entre o consumidor e a marca envolve o histórico e o comportamento da empresa.
“Como a minha compra será revertida em ações realizadas pelo fabricante? Qual a sua consciência com relação ao meio ambiente e o ser humano? Mais do que nunca essas perguntas são frequentes por parte dos meus clientes e o marketing das empresas precisam expressar fatos reais”, expõe Bruno.
Para quem pretende construir a moradia, a procura será por processos que poupem recursos naturais.
“Acredito em um crescimento na busca por aquecimento solar e energia fotovoltaica, pois é extremamente benéfico quando o imóvel consegue produzir a energia suficiente para suprir o consumo do lar. Com o planejamento, o investimento é recuperado anos após a instalação”, esclarece Isabella Nalon.
O reaproveitamento de água da chuva também deve se fazer presente nos projetos. Por meio do armazenamento em sistemas de cisternas, o recurso hídrico é direcionado para torneiras de jardins e atividades que permitam a água de reuso, como limpeza de áreas externas e calçadas.
Segundo o AKATU ( Instituto Akatu é uma organização não governamental sem fins lucrativos que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para o consumo consciente):
“Consumir com consciência é consumir diferente, tendo no consumo um instrumento de bem estar e não um fim em si mesmo.”
Conheça os 12 princípios do consumo consciente:
1. Planeje suas compras
Não seja impulsivo nas compras. A impulsividade é inimiga do consumo consciente. Planeje antecipadamente e, com isso, compre menos e melhor.
2. Avalie os impactos de seu consumo
Leve em consideração o meio ambiente e a sociedade em suas escolhas de consumo.
3. Consuma apenas o necessário
Reflita sobre suas reais necessidades e procure viver com menos.
4.Reutilize produtos e embalagens
Não compre outra vez o que você pode consertar, transformar e reutilizar.
5.Separe seu lixo
Recicle e contribua para a economia de recursos naturais, a redução da degradação ambiental e a geração de empregos.
6.Use crédito conscientemente
Pense bem se o que você vai comprar a crédito não pode esperar e esteja certo de que poderá pagar as prestações.
7.Conheça e valorize as práticas de responsabilidade social das empresas
Em suas escolhas de consumo, não olhe apenas preço e qualidade do produto. Valorize as empresas em função de sua responsabilidade para com os funcionários, a sociedade e o meio ambiente.
8. Não compre produtos piratas ou contrabandeados
Compre sempre do comércio legalizado e, dessa forma, contribua para gerar empregos estáveis e para combater o crime organizado e a violência.
9. Contribua para a melhoria de produtos e serviços
Adote uma postura ativa. Envie às empresas sugestões e críticas construtivas sobre seus produtos e serviços.
10. Divulgue o consumo consciente
Seja um militante da causa: sensibilize outros consumidores e dissemine informações, valores e práticas do consumo consciente. Monte grupos para mobilizar seus familiares, amigos e pessoas mais próximas.
11. Cobre dos políticos
Exija de partidos, candidatos e governantes propostas e ações que viabilizem e aprofundem a prática de consumo consciente.
12. Reflita sobre seus valores
Avalie constantemente os princípios que guiam suas escolhas e seus hábitos de consumo.1. Planeje suas compras.
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Celina Mello Franco
Liliane Abreu