Com escritório e residência fixa em Nova Iorque, a arquiteta Luana Lima Fox assina o projeto de um apartamento de 180 m² de frente para a Praia do Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Carioca de origem e arquiteta de formação, Luana se mudou há 10 anos para os Estados Unidos, onde estudou design e atuou em empresas de hospitalidade, como WeWork e Soho House, antes de abrir seu próprio estúdio.
“Me considero uma designer tropical, pois faço projetos para gringos com uma pegada bem brasileira”, define.

O imóvel foi adquirido por ela e o marido, o americano Alex, profissional da área de energias renováveis e apaixonado por natureza e surfe. O casal, que vive em Nova Iorque, buscava um refúgio no Rio para passar de três a quatro temporadas por ano, sobretudo durante o inverno norte-americano.
“Queríamos um apartamento no primeiro andar que nos fizesse sentir dentro da praia. Como trabalhamos remotamente, a distância da nossa base não é um problema”, conta Luana.



A reforma foi completa. O apartamento antigo foi totalmente demolido para receber um layout mais contemporâneo e funcional, inspirado no estilo de vida americano: a cozinha se integra à sala, não há dependência de empregada e a antiga área de serviço foi convertida em jardim de inverno. Para aproveitá-lo também na sala, o lavabo foi reposicionado ao fundo do imóvel, ganhando um grande recorte circular fechado com vidro translúcido, que deixa a luz natural atravessar os ambientes. Ao todo, o processo — da concepção à finalização da decoração — levou 15 meses.

O conceito norteador do projeto foi valorizar materiais, cores e texturas tipicamente brasileiras, mas reinterpretados em uma atmosfera elegante, clean e global.
“Lá fora, vejo muitos projetos que abusam de materiais brasileiros que nós mesmos deixamos de valorizar. Quis mostrar que é possível fazer uma casa sofisticada, com brasilidade e borogodó”, explica a arquiteta.





Na decoração, nada foi deixado ao acaso: todas as peças são novas ou desenhadas especialmente para o apartamento. Até os itens vintage, como as poltronas de fibrocimento Loop, de Willy Guhl, foram adquiridos para este projeto. Entre suas próprias criações, destacam-se a cama da suíte master, revestida em lâmina natural de rádica brasileira, cuja padronagem remete à pele da onça-pintada. No mobiliário assinado nacional, a arquiteta selecionou para a sala as cadeiras Daav, de Sergio Rodrigues, as poltronas Ouro Preto, de Jorge Zalszupin, e a mesa de centro Archi, de Luia Mantelli, além da cadeira Beg e da poltrona Ioiô, de Gustavo Bittencourt, que compõem o escritório.


As obras de arte também reforçam a identidade do projeto: na sala, uma tela da artista negra Heloisa Hariadne divide espaço com outra obra, encomendada à artista Maria Gabriela, conhecida pelas estampas criadas para a grife Farm. No escritório, o destaque é a tela gráfica da Galeria9.


A paleta de cores aposta em tons naturais e quentes para ressaltar as texturas dos materiais. O piso da área social foi executado em cacos de travertino resinados no estilo palazzo, solução sustentável e impactante. Já a área íntima recebeu tábuas largas de madeira, que trazem aconchego. Nas paredes e teto, o cimento queimado branco-bege reflete a luz do mar, enquanto o imenso tapete de ráfia, sisal e algodão aquece a sala e dialoga com o sofá modular em linho off-white.




Entre os detalhes que enriquecem os ambientes, estão o painel deslizante da estante que oculta a TV, a mesa de almoço ajustada à altura das poltronas estofadas com tecidos da Entreposto, e o banco-aparador talhado de um único tronco de árvore. No jantar, a mesa de madeira ebanizada contracena uma luminária de papel criada por Adriana Yazbek. Já na cozinha, as bancadas em mármore Branco Paraná contrastam com os armários que escondem condimentos atrás de painéis deslizantes no mesmo material, cujos puxadores foram inspirados em peças de Sergio Rodrigues e Lina Bo Bardi.







Na suíte do casal, além da cama desenhada por Luana, chamam atenção o piso do banheiro em listras de pedras brasileiras coloridas, o espelho-armário da bancada e a tapeçaria que oculta a TV diante da cama. No quarto de hóspedes, o espelho da marca Leblon Studio, criado pela própria arquiteta, divide a cena com o armário branco de puxadores cromados em estilo Mid Century e o banheiro revestido de pastilhas brancas com rejunte amarelo. Já o escritório do marido Alex traduz sua personalidade, unindo surfe, cultura oriental e design brasileiro, com direito a papel de parede inspirado em trajes de casamento chineses, uma prancha estampada e a poltrona estofada no mesmo tecido.



“O maior desafio deste projeto foi exaltar a brasilidade através dos materiais, mas com mão de obra local. Por envolver soluções criativas e inusitadas, o projeto exigiu muito gerenciamento e coordenação para que tudo fosse executado corretamente”, revela Luana.

O resultado é um apartamento que a própria arquiteta define como “Brazil com S”: profundamente brasileiro e tropical, mas com espírito global.
“Brinco com meus amigos que o slogan deste projeto poderia ser make Brazilian design great again, sem analogias políticas”, conclui.
Projeto: Luana Lima Fox
Fotógrafo: Fran Parente
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Celina Mello Franco