Um apartamento linear de 230 m², localizado no primeiro andar de um edifício no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, passou por uma transformação completa para se tornar o novo lar de uma jovem família recém-chegada à capital paulista, composta de um casal e dois filhos pequenos. O projeto é assinado pela arquiteta Carolina Gouvêa, do escritório Carolina Gouvea Arquitetura, que já havia realizado dois outros projetos para o mesmo casal.
Os pedidos principais dos moradores foram claros: uma estante na sala, uma copa aconchegante e um home office integrado ao quarto do casal. Além desses elementos, eles queriam que o novo lar tivesse uma atmosfera leve, acolhedora e familiar, sem excesso de modernidade. Como estavam começando uma nova fase da vida em São Paulo, longe de suas cidades natais — ela, de Campo Grande (MS); ele do Rio de Janeiro —, era importante que o projeto traduzisse essa sensação de pertencimento e acolhimento.
“O resultado foi um apartamento com uma pitada de alma carioca: descontraído, iluminado, com elegância natural e um clima que convida a estar junto, respeitando o contexto urbano paulistano, mas imprimindo a identidade afetiva da família”, diz a arquiteta.
A reforma envolveu alterações significativas na planta original para atender as demandas específicas da família. Entre as principais modificações, a antiga galeria na entrada do apartamento e a varanda anexa à sala de jantar foram incorporadas ao ambiente social, deixando-o mais integrado e iluminado. O banheiro da suíte do filho ganhou uma segunda porta (de correr) para atender também o quarto de hóspedes/brinquedoteca. A antiga configuração da suíte do casal — composta por dois banheiros, um closet na entrada e o dormitório — foi completamente redesenhada.
“Unificamos os dois banheiros e criamos dois closets individuais, além de um home office com acesso exclusivo pelo quarto. Este espaço de trabalho foi um pedido especial dos clientes, que buscavam silêncio e privacidade ao longo do dia”, conta a arquiteta.
Na copa, a antiga porta de correr dupla, que comprometia o aproveitamento das paredes e dificultava a disposição do mobiliário, foi eliminada, melhorando ainda a circulação.
O conceito do projeto foi guiado pelas lembranças pessoais do casal, com forte inspiração na cidade do Rio de Janeiro, onde viveram por muitos anos. A proposta foi criar um lar que transmitisse acolhimento e leveza, ajudando a suavizar a transição para a nova cidade e a ausência de familiares e amigos próximos.
O ambiente precisava ser confortável tanto para o dia a dia da família quanto para receber visitas queridas do Rio, com hospitalidade. Esteticamente, o projeto mistura elementos clássicos do repertório do escritório — como o contraste entre madeira natural e laca branca — que servem de base neutra, elegante e atemporal para destacar o mobiliário cuidadosamente escolhido, objetos com valor emocional e obras de arte coloridas que refletem a personalidade dos moradores.
Na decoração – que segue o estilo contemporâneo descontraído, sofisticado e atemporal, com alma afetiva e toques de brasilidade – como a arquiteta já havia feito os projetos anteriores do casal e especificado boa parte do mobiliário na época, muitos itens foram reaproveitados do antigo apartamento, como um dos sofás (Capadócia, do Arquivo Contemporâneo) e a poltrona com banqueta Eames Lounge, do Ray e Charles Eames.
Quanto aos objetos de decoração, os que já existiam também foram aproveitados e complementados, já que o apartamento anterior era menor e o novo layout pedia outras proporções e funções. Entre as obras de arte, algumas peças importantes foram mantidas, como as assinadas por Duda Morais e Cela Luz. As demais (díptico do Will Sampaio e tela do Marcelo Solá) foram adquiridas especialmente para o novo lar.
Entre os destaques na área social, vale citar a integração fluida entre sala e varanda, ampliando o espaço e favorecendo a convivência; a curadoria de obras de arte, que trazem identidade e personalidade ao ambiente; a estante ripada da TV desenhada pelo escritório e executada em Peroba-do-Campo, que camufla os splits e abriga objetos afetivos que contam a história do casal; o painel em laca fosca branca (com bites verticais), que unifica visualmente o espaço e camufla as quatro portas que dão acesso a ambientes distintos; o aparador de jantar desenhado pelo escritório, executado em Peroba-do-Campo com tampo de mármore Travertino; e o par de mesas de centro com tampos em pedra verde, que adicionam um toque de cor e leveza à base neutra da decoração.
Já o quarto do casal – ambiente claro e acolhedor – se destacam o um painel em laca fosca branca com bites verticais e duas portas de correr tipo shutter, que permitem esconder ou revelar o closet do marido e o home office, conforme a necessidade; o home office totalmente funcional, desenhado sob medida para atender às demandas do casal — com espaço para duas telas de computador, impressora e uma grande quantidade de livros; e o móvel da TV, que serve para guardar bolsas e sapatos, com portas em palhinha natural que adicionam textura e um toque descontraído à composição do quarto.
“O maior desafio deste projeto foi reorganizar a planta original para atender às muitas demandas da família, sem comprometer a fluidez e a leveza dos ambientes. Precisávamos criar soluções funcionais — como a integração entre sala e varanda, o home office no quarto do casal e a brinquedoteca reversível — sem sobrecarregar visualmente o espaço. Conciliar estética e praticidade em um apartamento com tantas funções foi um exercício de equilíbrio e escuta atenta, mas que resultou em um lar com identidade, conforto e versatilidade”, finaliza a arquiteta Carolina Gouvêa.
Fotógrafo: Denílson Machado | MCA Estúdio
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Celina Mello Franco
