A Amazônia são muitos mundos e não apenas aquela grande floresta que vive em nosso imaginário. É uma região onde a cultura é diversificada e desconhecida para a maioria dos brasileiros, surpreendendo também pela explosão de formas presentes na arquitetura, na decoração e na música.
Quando o engenheiro e designer Carlos Alcantarino, nascido e criado em Belém e radicado no Rio há mais de 40 anos, me contou sobre o seu projeto “Caboclos da Amazônia”, fiquei maravilhada com o resultado de seu empenho em mostrar aspectos tão regionais de forma tão lúdica e encantadora.
“Ficava imaginando projetos de renomados arquitetos, e cada vez mais essa arquitetura invisível e pura do caboclo me parecia a melhor alternativa para acompanhar a floresta, protagonista da cena. Iniciei uma pesquisa, viajei pelo Marajó fotografando vilas de pescadores e centros urbanos, entrei nessas casas e me deparei com uma explosão de cores. É interessante essa completa dissociação da arquitetura e decoração com o restante do país, onde o minimalismo e as cores neutras predominam“, explica Alcantarino, cuja intenção inicial era fazer um livro sobre arquitetura cabocla.
O projeto, que surgiu durante a pandemia, teve vários colaboradores e o patrocínio do Instituto Vale. Com 400m2 e montada no estacionamento ao lado da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, a exposição, que terminou no dia 19, será itinerante e seus próximos destinos serão Marabá e Canaã, mas o designer espera que possa vir para o sul e sudeste também.
Alcantarino pesquisou os hábitos dos habitantes da ilha do Combu, distante dois quilômetros de Belém e alcançável por barco navegando pelo Rio Guamá, o interior e a periferia de Belém, além da Ilha de Marajó.
Entrou nas casas dos pescadores, dos ribeirinhos, nos bares e descobriu o lettering dos barcos, um ofício típico, que passa de pai para filho: os “abridores de letras”. “Cada um tem um desenho diferente e três desses profissionais vieram pintar uma das salas da exposição”, conta ele.
As instalações foram feitas com os objetos do cotidiano dos moradores como os carrinhos do raspa-raspa (com suco e gelo), os ex-votos, promessas carregadas durante o Círio de Nazareth, os barcos, as pipas, as garrafadas de ervas, mostradas em diversas salas que conduzem o visitante ao mundo mágico organizado pelo povo que habita esse território e que aprendeu a viver com as condições impostas pela natureza.
A entrada é pela floresta do Combu com imagens exuberantes e tubos enfeitados com brinquedos de Miriti, (um material leve e retirado de uma palmeira, que pode ser moldado na forma desejada) artesanato feito desde o século XVII em Abaetuba e peças importantes do Círio de Nazareth.
Para animar ainda mais esse conjunto denominado cultura amazônica, a trilha sonora embala o percurso com os três principais ritmos locais: canimbó, guitarrada e tecnobrega.
E como diz Adélia Borges em sua apresentação, “Ao trazer à luz esses múltiplos inventários, esta exposição vai incentivar que esse rico patrimônio seja respeitado e valorizado por todos aqueles que querem um futuro melhor, em que o fazer humano não só não entre em choque com a natureza, mas também celebre com formas e cores a alegria de estarmos vivos“.
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