Depois que perdi minha mãe, não tinha igreja em que eu entrasse que não me provocasse um mar de lágrimas. Quando conheci o Templo Expiatório da Sagrada Família, em Barcelona, foi uma choradeira danada, não só pela lembrança dela, mas também pela emoção de entrar em um lugar tão inspirador, tão bonito, tão… diferente de tudo o que tinha visto antes. O clima é tão fascinante que nos transporta – mesmo quem não é católico – a um mundo espiritual e divino.
Falo disso porque Barcelona é uma cidade incrível, especialmente pela arquitetura, e aí entra, o genial criador da Igreja da Sagrada Família, Antoni Placid Gaudí y Cornet (1952 – 1926), arquiteto espanhol, nascido em Reus.
Estabelecido em Barcelona, onde fez seus estudos, deixou sua marca em diversas construções – sempre muito exuberantes e coloridas em visível contraste com sua personalidade – que passaram a ser points de peregrinação tanto para os amantes da arquitetura quanto para os turistas.
De hábitos simples, quase monásticos, e muito religioso, Gaudi foi, em 14 de abril de 2025 por decreto do Papa Francisco, considerado “venerável”, o primeiro passo para a canonização. Segundo o Vaticano, esse decreto surgiu pelo reconhecimento de suas “virtudes heroicas” que fez da Sagrada Família um dos locais religiosos mais visitados da Espanha e a maior igreja católica inacabada do mundo.
Sua construção foi iniciada em 1883 e foi surgindo aos poucos, depois de sua morte. Esperava-se que estivesse pronta em 2026 para a comemoração dos 100 anos de sua morte, mas pandemia forçou a paralisação das obras e se a finalização ocorrer no prazo será, quem sabe, o primeiro milagre que abrirá caminho para sua santificação.
O arquiteto foi integrante do movimento modernista catalão que, na verdade, era um estilo neogótico que fazia parte do Art Nouveau, mas destacou-se baseando sua obra na paixão pela arquitetura, natureza e religião.
Ele dominava várias áreas como a marcenaria (fez peças para interiores de várias casas), ferro forjado, vitrais e cerâmica e trabalhou com elas de maneira inusitada, criando um estilo único, escultórico e orgânico, que englobava as cores, o movimento e a textura.
De saúde frágil, mal-humorado, não impressionou seus professores e atribui-se uma frase um tanto profética ao diretor da faculdade durante sua graduação: “Estamos entregando o diploma para um maluco ou um gênio. O tempo dirá”. Esqueceu do Santo…

Gaudi era uma máquina de ideias e fez inúmeros trabalhos durante sua vida e só parando quando, aos 73 anos, foi vítima de atropelamento por um bonde em 1926, estando sepultado na Sagrada Família.
A primeira lembrança que vem à memória são os mosaicos revestindo formas alucinantes em fachadas e interiores. Numa de suas primeiras obras, a Casa Vicens, cujo proprietário era dono de uma fábrica de cerâmicas, o arquiteto foi generoso no uso de tais materiais.
Nota-se aí uma influência mourisca e a policromia, mas seu interior é um mundo à parte, onírico, onde cada cantinho tem uma personalidade. Desmembrada durante anos, o que não chegou a descaracterizar o conjunto, a residência ficou fechada ao público, mas desde 2017 voltou a ser aberta à visitação.
Foi a partir de uma vitrine feita para a fábrica de luvas Esteban Comella que Gaudi chamou a atenção do rico empresário Eusebi Güell, que se tornou um mecenas para o arquiteto, financiando grande parte de seus projetos. Para ele criou o fantástico Parque Güell, os Pavilhões Güell e o Palácio Güell.
Parque Güell
Pavilhões Güell
Palácio Güell
Seus trabalhos mais emblemáticos são a Casa Batló e a Casa Milá. A primeira, no elegante Passeig de Gracia assombrou a vizinhança que logo a apelidou de casa do Ossos. Alguns balcões se parecem com máscaras de carnaval, mas a estrutura realmente lembra esqueletos. Deslumbrante do primeiro ao último piso, onde existe uma lança invocando o bem que vence o mal. São muitas interpretações e só visitando dá para acreditar na genialidade do autor.
A Casa Milá, outra obra fantástica, também recebeu críticas e apelido – La Pedrera – nome pelo qual ficou mais conhecida. Eu diria que parece uma escultura abstrata que lembra as ondas do mar.
Por fim, voltando à catedral à qual ele dedicou toda a sua vida, suas 18 torres que evocam os apóstolos, os evangelistas, a Virgem e Jesus Cristo lembram os castelos de areia feitos por crianças. Sete de suas obras foram classificadas como Patrimônio Mundial pela UNESCO.
Louco, gênio ou santo? O tempo dirá.
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