Políticas urbanas pós-isolamento como uma oportunidade para transformações do espaço público
Nesse momento, após dois meses de isolamento social, todos se perguntam sobre o “novo normal”, uma tentativa de prever o futuro da nossa forma de socializar, de consumir e de viver em mundo que exigirá novos hábitos.
Muitos dizem que nesse “novo normal”, esse futuro completamente imprevisível, as pessoas cuidarão mais de suas casas, serão mais imediatistas para decorar ou fazer aquela reforma há anos pensada e jamais executada pelo atropelo que a urgência da rotina nos exige.
Talvez esse pensamento sobre valorizar ainda mais o lar tenha um fundo de razão.
Mas será que após essa restrição quanto ao convívio no espaço público não fará as pessoas valorizarem e desejarem ainda mais o ambiente externo, a liberdade que a urbanidade nos proporciona?
Ao observar as mudanças que vem ocorrendo no mundo nas últimas semanas, no que se refere aos países que já iniciaram a sua abertura gradual de espaços públicos, vemos claramente que o “novo normal” é um desejo incomensurável por espaços públicos ainda melhores, um transporte ainda mais seguro e eficiente.
Nesse sentido, para proporcionar mudanças rápidas que o momento exige, o urbanismo tático é uma maneira de se fazer essa rápida adaptação do espaço urbano e também é uma oportunidade para muitas cidades melhorarem as condições urbanas a longo prazo.
Temos visto notícias sobre os ajustes que as cidades do mundo estão fazendo para garantir o distanciamento físico, atendendo às necessidades dos seus cidadãos.
Esses ajustes, apontam quase sempre na mesma direção: dedicar cada vez mais espaço a ciclistas e pedestres, evitando assim a sobrecarga de transporte público e o uso de carros particulares.
A pandemia de Covid-19, portanto, lançou uma nova luz sobre a relação entre mobilidade, espaço urbano e saúde, que obrigou uma aceleração dessa transformação das cidades através de novos modelos de transporte sustentável.
A urgência da rápida implantação de ciclovias e espaços para pedestres, especialmente em áreas urbanas densamente povoadas, está cada vez mais trazendo o urbanismo tático para a frente.
Nascido como uma estratégia de baixo custo para melhorar o espaço urbano, temos visto ciclovias pop-up sendo criadas e parques com marcações de áreas para cada habitante.
A Nova Zelândia, por exemplo, foi o primeiro país a adotar o urbanismo tático como política oficial do governo para lidar com os efeitos do coronavírus com a construção de ciclovias e trilhas para caminhada temporárias.
Por outro lado, em Paris, o governo de Anne Hidalgo já planejava uma transformação radical da capital em 2024. O “Plan Vélo” nasceu da ideia de que tudo o que o habitante precisa deve ser alcançado dentro de um máximo de 15 minutos de bicicleta.
Um ano após o lançamento do plano, o uso de bicicletas já havia aumentado 54%, e a meta agora é 650 km de ciclovias até o final do bloqueio francês em 11 de maio, com um investimento de € 300 milhões.
Na Itália, em 4 de maio, a Fase 2 começou, mais cedo do que nos demais países ocidentais: por esse motivo, o país representa o “campo de provas” para o desenvolvimento de novas estratégias urbanas. Em Milão, para garantir o distanciamento físico, a estratégia de adaptação inclui a construção de 35 km de ciclovias, 22 das quais serão concluídas ainda para este verão.
A adaptação do espaço urbano à crise da saúde pode, portanto, ser um estímulo a uma renovação urbana mais radical, perspicaz e dialógica, partindo do pressuposto de que as cidades são o núcleo em que as desigualdades socioeconômicas se intensificam.
Para quem mora na cidade, essas desigualdades se traduzem na ausência de um “direito ao espaço”, o que significa menos metros quadrados para morar, menos recursos em termos de espaço público e verde para aproveitar, menos chance de permanecer saudável, menor disponibilidade de meios privados.
Pensando a nível Brasil onde nossas mazelas urbano-sanitárias são ainda mais profundas, não havendo em muitas cidades o saneamento básico de uma infraestrutura urbana, parece que o momento é apocalíptico, intensificados ainda por uma crise econômica e política.
Como poderemos imaginar espaços públicos melhores e transporte público mais eficientes para atender a um distanciamento social ainda necessário?
Como poderemos imaginar um “novo normal” em um Brasil tão diverso e complexo e com a inexistência de um planejamento urbano nacional e um planejamento local sem recursos para aplicar?
Pensar de forma apocalíptica é sim assustador, mas com ações locais podemos devagar transformar a nossa realidade e proporcionar um pouquinho de esperança de espaços públicos, que virão! Há se virão…
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