Por Paula Acosta, correspondente de Milão
No início dos anos 1980, a cantora Paula Morelenbaum até cogitou seguir a carreira do pai, o arquiteto Manuel Martins, mas o amor pela música acabou falando mais alto. Mais recentemente, a mesma situação se repetiu com sua filha, Dora, que iniciou a faculdade de arquitetura, mas também não resistiu ao chamado do canto e da composição. Ainda que a vocação tenha levado Paula para outra direção, o apurado gosto estético, o apreço por peças de qualidade e a atração por belos projetos não desmentem o DNA.
Com Milão, a capital italiana do design, foi então mais do que natural que ela estabelecesse uma relação afetuosa. Inúmeras foram suas passagens pela cidade para se apresentar. Na última vez, no fim de janeiro, Paula subiu ao palco da renomada casa de shows Blue Note com Philippe Powell (piano), Mathias Allamane (contrabaixo) e Caio Mamberti (bateria). Como não poderia deixar de ser, durante o concerto foram lembrados os 25 anos (completados em dezembro) sem Tom Jobim, maestro com o qual ela trabalhou por uma década e que é homenageado no seu mais recente disco, realizado com o violonista Arthur Nestrovski: “Jobim Canção”. O célebre autor de Garota de Ipanema, Corcovado, Águas de Março e tantas outras maravilhas é mais um exemplo de artista que deixou a arquitetura para seguir os passos da música.

Sempre que coloca os pés em Milão, Paula separa um tempo para conhecer lugares que ainda não teve a oportunidade de visitar. Dessa vez não foi diferente: levei-a ao ADI Design Museum, o museu da Associação de Desenho Industrial, que hospeda a coleção do histórico prêmio Compasso D’Oro, o mais antigo reconhecimento do setor no mundo, criado em 1954 a partir de uma ideia de Gio Ponti. O espaço de 5.135 m2 – que conta com cafeteria, livraria, locais de reunião, arquivos e escritórios – nasceu da recuperação de um local histórico da década de 1930, que já foi usado como depósito de títulos puxados por cavalos e usina de distribuição de energia elétrica.




Já nos primeiros passos, nos deparamos com uma surpresa. Entre as criações expostas, um objeto que Paula tem em casa: o Mobil, um gaveteiro desenhado por Antonio Citterio com Oliver Löw para a Kartell.

Confira a nossa conversa!
Conexão Décor: Você já esteve em Milão várias vezes. Além do “Duomo”, a famosa catedral, que outro monumento interessante dessa cidade causou um impacto em você?
Paula Morelenbaum: Uma vez um amigo me levou para fazer um passeio incrível na Highline, que é uma passarela ao ar livre ao lado da cúpula da galeria Vittorio Emanuele. É um percurso entre telhados, chaminés de casas, durante o qual se admira Milão do alto. A galeria em si já é linda, mas poder admirar a cidade de um outro ponto de vista foi uma emoção a mais. A mesma coisa aconteceu quando subi no teto do Duomo.
Nessa nossa visita aqui ao museu, acabamos de ver imagens de um projeto muito bonito e moderno realizado para o Auditório Giovanni Arvedi, que faz parte do Museu do Violino, em Cremona, e isso me lembra que não posso deixar de mencionar o histórico Teatro Alla Scala de Milão. Com a sua sala de concertos sofisticada, é desde o século XVIII um dos espaços mais importantes para a música lírica, a clássica e o balé na Europa.

Conexão Décor: Ao entrarmos no ADI Design Museum, imediatamente nos deparamos com um objeto que você tem em casa. O que o design representa para você ? Você é do tipo que procura objetos especiais, que se informa sobre design?
Paula Morelenbaum: Eu pesquiso, me informo, mas não muito, viu? Eu tenho interesse, é verdade, mas isso vem de uma maneira muito instintiva, provavelmente porque meu pai é arquiteto. Ele sempre me transmitiu a sua visão da arquitetura, do design, o gosto por móveis bacanas. Foi ele, inclusive, que fez o projeto da minha casa.
Conexão Décor: E qual é o canto da sua casa do que você mais gosta?
Paula Morelenbaum: Eu adoro vários cantinhos, mas tenho um carinho especial e aproveito muito a área do jardim com a piscina, até porque o Rio de Janeiro é um lugar no qual impera o verão.
Conexão Decoração: Como você decora a sua casa? Compra muitas coisas durante as viagens?
Paula Morelenbaum: Eu sempre aproveitei as viagens para a Europa para adquirir peças para levar para o Brasil, só que hoje já não compro tanto. Com a idade, chega uma hora em que é necessário evitar acumular muitas coisas, por mais que tudo faça parte de uma memória. Para minha casa, prefiro objetos mais modernos, com um estilo mais “clean”. E adoro o design italiano.
Conexão Décor: Mas qual é a sua peça do coração?
Paula Morelenbaum: Confesso que a peça do coração que tenho em casa não é italiana: é mesa oval branca de Florence Knoll, com base de pés de metal. Mas as cadeiras que a acompanham são italianas.
Paula Acosta / Comunicazione carioca