Toda semana, o casal Pâmela Oliveira e Antonio Crestani, à frente do estúdio Monterraro, transforma cerca de seis mil cascas de ovo em móveis e esculturas. Desse modo, os dois colocam em prática uma das premissas do design circular: mudar a mentalidade em relação ao lixo e enxergar os descartes como recursos a serem aproveitados.
As peças são produzidas com base numa receita desenvolvida por eles, que mistura a matéria-prima triturada (as cascas são fornecidas por uma empresa que pasteuriza claras e gemas para a indústria alimentícia) e resinas que garantem a resistência.

“Testamos inúmeras fórmulas ao longo de um ano até ficarmos satisfeitos com a qualidade final dos objetos. Era muito importante para nós que o material fosse durável”, diz Antonio.

O Monterraro nasceu em 2021 como uma pequena marcenaria artesanal, em Canoas, RS. Apesar de já apostarem numa identidade autoral naquela época, Pâmela e Antonio sentiam que faltava um traço distintivo para que suas peças chamassem a atenção e despertassem desejo.

Os dois andavam às voltas com esse questionamento quando decidiram tirar uns dias de descanso no sítio da família dele. Ao observarem as galinhas soltas pelo terreno, tiveram o insight de iniciar as experimentações com o novo material. A primeira coleção a combinar madeira e casca de ovo, composta de vasos, luminárias e mesinhas, chegou ao mercado em 2023.
“As peças foram publicadas em diversos lugares. Ganhamos visibilidade e resolvemos seguir por esse caminho”, conta Pâmela.

No entanto, em abril de 2024, a cidade de Canoas foi duramente impactada pelas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. Tanto na casa como no ateliê da dupla, a água chegou a 3,20 metros de altura.
“Perdemos tudo o que havia dentro, inclusive os moldes das coleções e móveis prontos para serem entregues. Tivemos que encontrar uma saída para nos reerguer”, lembra Pâmela.

Por sorte, a resposta estava na própria trajetória do casal: o ovo é um símbolo universal de renascimento. Assim que puderam voltar a produzir, os dois começaram a criar pequenas esculturas em formato de ovo, batizadas ‘Um n(ovo) começo’. Anunciados nas redes sociais, os objetos despertaram uma onda de solidariedade e, graças à venda das peças, o Monterraro conseguiu se restabelecer.
A vontade de aproximar o design da arte, que já permeava o trabalho do estúdio, aumentou devido ao sucesso dessas esculturas cheias de significado. Sem deixar de lado a confecção de mobiliário, hoje o Monterraro dispõe de uma linha de objetos artísticos para adornar paredes, mesas de jantar e estantes, que podem ser comprados diretamente pelo site ou Instagram da marca.
“Aos poucos, fomos entendendo a matéria e aprendendo com ela. Nossa proposta é explorar ainda mais a fusão entre design e arte daqui para a frente”, explica Antonio.

Por enquanto, o casal assume sozinho todas as tarefas envolvidas na produção. Antonio, formado em design, entra forte na parte técnica. Pâmela, jornalista, se esmera na conceituação das peças e na comunicação da empresa. Na oficina, porém, ambos colocam a mão na massa. A ideia é contratar auxílio em breve. Quando isso acontecer, o volume de resíduos reaproveitados pelo estúdio deve aumentar.
“A casca do ovo tem uma imagem de fragilidade, mas a gente conseguiu transformar isso em força”, finaliza Pâmela.
Fotógrafo: Rodrigo W. Blum – Wit Conteúdo
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TAG: Monterraro, casca de ovos, sustentabilidade
