Marc Chagall, uma ode ao amor
Obras de um dos mais cultuados artistas do mundo chegam ao Rio e estão expostas no Centro Cultural Banco do Brasil
Essa guerra sem propósito desvenda até que ponto pode ir o desvario humano praticado por políticos expansionistas. Por outro lado, ela também mostra o resultado de descabidos cancelamentos – essa palavrinha detestável, tão em voga – como o de um restaurante que afirmou que não incluiria mais no cardápio o estrogonofe. É o resultado da “russofobia” uma doença que já vitimou povos de várias nacionalidades.
Mas vamos sair dessa seara para mostrar que a arte pode ser mais poderosa do que o belicismo. Hoje falamos de um artista russo, Marc Chagall (1887-1985), nascido na cidade de Vitsebsk, que encanta com sua pintura onírica, quase infantil. De 16 de março a seis de junho os cariocas vão poder deleitar-se com 186 obras suas na exposição “Marc Chagall: sonho de amor”.
Chagall era o mais velho de nove irmãos de uma família de origem judaica e aos 20 anos, com grande tendência artística, foi estudar no ateliê de um famoso pintor de retratos, Yehuda Pen. Frequentou depois a Academia de Arte de São Petersburgo e seguiu para a meca dos pintores, Paris, onde entrou em contato com vários artistas como Modigliani e Appolinaire. O pintor deslocou-se inúmeras vezes pelo mundo durante sua vida quase centenária vivenciando a Revolução Russa, duas guerras mundiais, epidemias e a criação e consolidação do Estado de Israel. Vivendo entre Berlim, Rússia e Estados Unidos, foi em Paris que atingiu sua plenitude artística, cidade à qual dirigiu inúmeras declarações de amor e onde viveu a maior parte de sua vida.
Embora não tenha se alinhado a nenhum movimento artístico, fundiu o fauvismo, o surrealismo, o simbolismo, o cubismo e a cultura judaica em sua obra retratando cenas de sua terra natal, construindo um estilo único. Ele também realizou mosaicos, vitrais e cerâmicas além de ilustrações para obras literárias.
Segundo a curadora da exposição, Lola Durán Úcar, couberam na seleção obras “que mostram diferentes técnicas e suportes que Chagall utilizou com grande virtuosismo: óleos, têmperas e guaches, litografias e água-fortes branco e preto e coloridas à mão. Ele transmite em suas obras uma mensagem de esperança. Se transferirmos essa situação ao momento atual, com pandemia, crise econômica e desânimo generalizado, a arte, a obra de Chagall, sua beleza, sua cor, é um paliativo diante de tanto sofrimento”, afirma a curadora.
Entre os trabalhos de Chagall exibidos na exposição, que contemplam o período de 1922 a 1981, pode-se destacar o raríssimo guache “O avarento que perdeu seu tesouro” (L’avare qui a perdu son trésor), de 1927, produção que dá início à série gráfica das Fábulas de La Fontaine, encomendada por Ambroise Vollard no final dos anos 1920 e impressa somente em 1952.
Nas salas de exposição, o percurso apresenta uma seleção de obras produzidas ao longo de sua carreira, de onde emergem os temas: origens e tradições russas; o amor e o exílio na representação do mundo sagrado; o lirismo e a poesia, reencontrados em seu retorno à França, e o amor transcendente, uma ode ao sentimento de estar apaixonado, presente na figura dos enamorados que flutuam nas telas ou estão imersos entre ramos de flores.
A exposição apresenta quatro módulos: “Chagal: origens e tradições russas”; “Mundo Sagrado”; “Um poeta com asas de pintor” e finalmente “O amor desafia a gravidade”.
Um dos objetivos da mostra é reaproximar o público brasileiro desse artista, proporcionando uma imersão em seu universo vibrante e conceitual. A proposta visa a embalar o visitante numa atmosfera de conhecimento e encantamento, “na qual possa dialogar e se sentir tocado pelos diversos sentidos do amor que perpassa a obra de Chagall, num momento de fragilidades mundiais”, explica a curadora.
Em nossa visita pudemos, realmente, desfrutar da mágica e do encantamento de suas obras por um breve momento, encontrando o cavalo azul, o galo vermelho, as flores e os sonhos. Nosso conselho é que cada módulo seja apreciado lentamente para que o visitante possa entrar em seu mundo lírico e sair com vontade de voltar. Sem esquecer de passar alguns momentos na rotunda para apreciar a instalação hipnótica do artista norte americano Daniel Wurtzel.
Muito bom estar de novo em contato com a arte depois de tanto tempo e melhor ainda, através do talento ímpar de Chagall.
O CCBB RJ funciona segundas das 9 h às 21 h; terças é fechado; de quarta a sábado das 9 h às 21 h e domingo das 9 h às 20 h.
- A entrada do público é permitida apenas com apresentação do comprovante de vacinação contra a COVID-19. ●
O acesso ao prédio é livre, mas os ingressos para os eventos devem ser retirados na bilheteria ou previamente pelo site ou aplicativo Eventim.
O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro fica na Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro, RJ.
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