Enquanto escrevo, o céu está de brigadeiro e o calor… indescritível. Mas hoje o tema não é ar refrigerado ou ventilador, se bem que é neles que todo mundo está pensando. Vamos falar de Flores Raras. Curiosos? São flores de arquitetura, engenharia e urbanismo.
Mas esqueçam estilos ou mitos masculinos. Niemeyer, Lucio Costa, Paulo Mendes da Rocha vão ficar quietinhos em seus pedestais nesta quarta. Fomos buscar algumas das mulheres brasileiras que marcaram seu lugar nessa profissão onde os homens ditavam as regras – flores raras no início do século XX- trazendo não biografias, mas alguns trechos de suas vidas.
Uma das mais icônicas foi Achilina Bo Bardi (Roma, 5/12/1914 – São Paulo, 20/03/1992), mais conhecida como Lina, casada com o jornalista, marchand e crítico de arte Pietro Maria Bardi (La Spezia, 21/02/1900 – São Paulo, 10/10/1999) com quem se mudou para o Brasil em 1946, buscando novos caminhos para sua vida depois que seu escritório em Roma foi bombardeado durante a Segunda Grande Guerra.
O casal resolveu morar em São Paulo e Lina encontrou no Brasil um terreno fértil para expandir suas ideias, o que colaborou para que se naturalizasse em 1951. A cultura popular brasileira encantou a arquiteta, que procurou mesclá-la com o modernismo, que estava em plena efervescência no país. Uma de suas primeiras obras foi a Casa de Vidro, feita para ser sua residência e hoje em dia transformada em sede do Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi.
Em 1958 seu projeto para um museu foi concretizado: o MASP, um dos edifícios mais emblemáticos da arquitetura brasileira. Com uma curiosidade: o prédio foi construído em um vão de 70 metros sob quatro pilares para que a Avenida Paulista não ficasse escondida. Outra de suas obras notáveis foi o SESC Pompéia, que revolucionou a arquitetura brasileira, mas Lina atuou também em diversas áreas, inclusive de design, onde se destacou com a poltrona Bowl entre outras.
Carmem Portinho (Corumbá, 26/01/1903 – Rio, 25/06/2001) era engenheira e uma das mulheres que mais militaram pelos direitos femininos. Casada com o arquiteto Afonso Eduardo Reidy, foi a primeira presidente da Associação Brasileira de Arquitetas e Engenheiras e frequentou o primeiro curso de urbanismo do Brasil.
Junto com o marido construiu dois conjuntos residenciais: o Pedregulho, projeto arrojado e consagrado e o da Gávea, mais conhecido como Minhocão. Também ao lado do marido, construiu o MAM, projetado por ele. Foi a criadora da ESDI, Escola Superior de Desenho Industrial, curso pioneiro no país, que dirigiu por cerca de 20 anos.
Quem tem o hábito de subir o Viaduto do Joá talvez não saiba que quem o construiu foi a engenheira Berta Leitchic (1912 -2002) – e que leva seu nome. Nascida na Rússia, Berta veio morar no Brasil ainda criança onde cursou engenharia e especializou-se em concreto.
Discreta, sempre muito elegante e delicada, a engenheira trabalhou na Prefeitura do Rio, e foi responsável pela construção de 50 viadutos e pontes, sendo um deles o Túnel do Pasmado.
Também participou das obras Parque do Flamengo e trabalhou com Clara Steinberg no projeto do Rio Design Center. Tive o prazer de conviver com ela durante algum tempo e não esqueço de sua gentileza e competência.
Livro, peça de teatro e filme (Flores Raras) foram dedicados à Maria Carlota Costallat de Macedo Soares (Paris, 16/03/1910 – Nova York, 25/09/1967) mais conhecida como Lotta. Ativa e criativa, ela fez aulas de arquitetura com Carlos Leão, de pintura com Candido Portinari e frequentou cursos no Museu de Arte Moderna.
Passou muito tempo de sua vida na Fazenda Samambaia, que herdou dos pais, numa casa ousada, construída pelo então jovem arquiteto Sérgio Bernardes. Ali dividiu sua vida com duas americanas: Mary Morse e Elizabeth Bishop – esta, famosa poeta norte-americana que durante sua estadia no Brasil ganhou o Prêmio Pulitzer em 1956.
Apesar de não ter cursado nenhuma faculdade, foi considerada arquiteta autodidata e urbanista emérita. Convidada pelo governador Carlos Lacerda, seu amigo e vizinho em Petrópolis para ajudá-lo com seu talento, apresentou uma proposta para a modificação do projeto em curso do Parque do Flamengo. Conseguiu juntar um time de primeira linha, como Reidy e Burle Marx e empenhou-se durante alguns anos para criar o maior aterro urbano do mundo. Bishop dedicou seu volume de poemas “Questions of a Travel” a Lotta, que morreu em Nova York.
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