Escravidão Moderna: a precarização da arquitetura com estágios não remunerados

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Já imaginou se dedicar cinco ou seis anos na graduação que comprovadamente é a que mais demanda tempo, de acordo com a pesquisa realizada pela National 2016 Study of Student Engagement (NSSE) da Universidade de Indiana, e ainda não ser remunerado pelo estágio com a desculpa de necessitar comprovar experiência profissional?

Sim, estamos falando da terrível relação de trabalho que muitos arquitetos enfrentam em sua experiência profissional.  

imagem com um escalímetro e uma mão de arquiteto desenhando

Há exatamente um ano atrás o assunto veio à tona quando o arquiteto japonês Junya Ishigami foi selecionado para o pavilhão temporário da Serpentine Gallery 2019, em Londres, e obrigado pela instituição a pagar os profissionais envolvidos no desenvolvimento do projeto para os Jardins Kensignton.

A entrada dos jovens no mercado de trabalho é muitas vezes traumática. Há empresas que se alimentam do exército de estagiários, que ocupam postos de trabalho efetivos sem receber salário ou por muito pouco dinheiro, com longas jornadas de trabalho em condições análogas à escravidão moderna.

Existe agora um amplo consenso de que todos devem receber pelo seu trabalho a uma taxa justa pelo seu nível de experiência. No entanto, alguns diretores de empresa ainda não aceitam esse novo status quo. Eles continuam argumentando que ganhar experiência profissional é um privilégio pelo qual os estudantes devem ser gratos, exigindo que se sacrifiquem pela causa.

Apesar dos argumentos crescentes contra essa lógica, alguns arquitetos ainda não estão dispostos a pagar nem o salário mínimo pelos estagiários.

A prática de estágios não remunerados na arquitetura é muito comum no Japão e defendida inclusive pelo renomado arquiteto Sou Fugimoto que declarou em 2013 o sistema como “boa oportunidade” para o empregador e o estagiário.

Após muita polêmica anunciou que encerraria tal prática e assim como ele muitos arquitetos e escritórios já denunciados tiveram que vir a público se explicar. Com a globalização e internacionalização dos grandes escritórios, a prática se disseminou pelo mundo.

A América do Norte utiliza o modelo abusivo de contratação justificando o grande número de estagiários para poucas vagas, já a Europa abafa o caso através de um sistema criado para a atuação profissional, como no caso dos arquitetos portugueses recém-formados que precisam comprovar horas de prática profissional para conseguirem a licença profissional.

 É nesse momento que ocorrem os abusos de troca de comprovação de horas trabalhadas pela mão-de-obra gratuita ou extremamente mal paga.

Jovem segura um cartaz feito de papelão escrito em inglês:  I will not work for free, tradução livre; eu não trabalho de graça.

Desde então há um movimento mundial de denúncia de tais práticas, no Instagram através da hashtag #archislavery e no perfil dos denominados arqui-ativistas @archishame,  expondo e-mails e ofertas abusivas e criminosas da exploração de uma mão de obra qualificada com o intuito de reduzir os custos de operação e aumentar o lucro dos projetos. Porém, da mesma forma e intensidade há uma tentativa de abafar o caso e justificar, o que é injustificável, como uma prática cultural.

Já no Brasil, diante do aumento da informalidade causada pela longa crise financeira, é importante ficar de olho nas vagas que prometem muito e não informam as possibilidades de remuneração. Além disso, em nosso país temos legislação que protege os estagiários e, portanto, tais práticas são completamente ilegais.

Se você já passou por situações constrangedoras como longas horas de jornada de trabalho, falta de pagamento ou muitos atrasos, promessas de pagamento vinculadas a construção do projeto, relação profissional abusiva com uso de ameaças ou constrangimentos, denuncie!

A valorização da profissão começa a partir do momento que não se aceita trabalho análogo a escravidão, não se aceita trabalhar de graça com a promessa de experiência. Todos merecem ser remunerados pelo seu serviço prestado, isso não é um favor, é uma relação profissional de trabalho.

Diga não ao trabalho gratuito!

Fabiano Ravaglia

 

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