Desculpem se me repito, mas continuo a separar papéis e fotos. Pena que não foi no começo da quarentena, pois já teria eliminado a maioria das coisas.
Mas quem imaginaria seis meses de confinamento? Semana passada encontrei uma foto do apartamento da minha mãe onde se destacava uma Peacock Chair (cadeira pavão), poltrona de vime com encosto alto e largo lembrando a cauda de um pavão tendo a base em forma de ampulheta.
Foi um hit nos anos 1960 e 1970 e todo mundo queria ter uma Peacock em casa. Além do charme colonial, era um símbolo da contracultura, dos hippies, da rebeldia dos jovens da época, os famosos baby boomers, que provavelmente por nostalgia, começam a usar outra vez o modelo.
A cadeira, majestosa, evoca grandeza e poder. Talvez por isso serviu como “trono” para o movimento negro Black Power quando o líder dos Panteras Negras, Huey Newton, em 1967, deixou-se fotografar numa delas com uma espingarda e uma lança nas mãos, escudos tribais ao fundo e uma pele de zebra aos seus pés.
A foto viralizou e tornou-se o símbolo do grupo. Para recaracterizar e empoderar ainda mais a foto, o ator Chadwick Boseman, recentemente falecido, foi fotografado numa cadeira de formas parecidas, porém futuristas, para o cartaz de seu último filme, Pantera Negra, da Marvel.
Na verdade, os móveis feitos de vime e rattan datam de cinco mil anos atrás, pontificando na sociedade sumeriana e largamente usados nos países asiáticos. Algumas peças foram encontradas inclusive nas tumbas de faraós egípcios.
O comércio marítimo foi levando ao Ocidente esse tipo de mobiliário que ficou conhecido também por ser bastante utilizado nas colônias européias da África, Ásia e Caribe e desde os anos de 1600 começaram a ser introduzidos não só nas casas abastadas, mas também nos lares mais humildes.
A leveza e o frescor dos produtos viraram uma febre sendo usados especialmente nas varandas e alpendres.
A origem da cadeira é nebulosa e o feitio de pavão tem vários significados: simboliza a beleza, a imortalidade e o orgulho, sendo o pavão que mata a serpente um símbolo da Birmânia.
Conta a lenda que o Xá da Pérsia (hoje Irã), Fath-Ali Shah por volta de 1797 mandou fazer um trono informal (que também poderia ser um leito), ornado de ouro pérolas e pedrarias para formar a cor e o feitio das plumas do pássaro. Depois de passar a noite com uma de suas concubinas cujo apelido era Tavus (pavão), ele passou a chamá-lo de cama da Tavus.
Se é verdadeiro o conto, quem saberá? Mas pelo menos é saboroso.
Uma das primeiras notícias que se tem da Peacock Chair nada tem de charmoso. O presídio de Bilibid nas Filipinas, tinha uma oficina onde eram confeccionadas essas cadeiras e uma das prisioneiras foi fotografada nela com uma criança nos braços. Por isso ficou conhecida como cadeira Filipina ou Manila e o presídio passou a ser frequentado por todos que passavam por lá.
Tanto furor fez que a revista Vogue, em 1916, publicou uma nota dizendo que ir à loja da prisão era um “must”. Falando da revista, há pouco tempo houve uma grande polêmica sobre a foto de uma de suas editoras que posou na cadeira ao lado de duas funcionárias de um bufê vestidas de baianas.
Mas voltando. Desde o final do século XIX nenhuma foto estaria completa sem a presença de uma cadeira de vime. As Peacocks eram estrelas das propagandas de móveis e os fotógrafos estavam obcecados por ela, especialmente o famoso Cecil Beaton.
A razão alegada era de que as luzes dos estúdios eram muito quentes e as peças de vime amainavam o calor. Elizabeth Taylor, Brigitte Bardot, Morticia Adams, Sylvia Kristel (de Emmanuelle), a família Kennedy e inúmeros cantores e bandas fotografaram nesse trono alçado à fama e cobiçado pela sua aura de grandeza.
Ela encanta desde que fez sua primeira aparição e muitos designers fizeram uma releitura de suas formas. Em 1947 o designer dinamarquês Hans Wegner criou sua Peacock chair, feita de hastes de madeira e também inspirada na Windsor Chair.
O holandês Dror Benshetrit também foi atraído pela dualidade do modelo criando sua Peacock que tanto atrai quanto ataca, segundo ele. Os canadenses Eiri Ota e Irene Gardpoit, do Studio UUFie mimetizaram a cadeira pavão fazendo uma peça ultra moderna e mais poderosa que a original em thermoformagem plástica.
No Brasil as releituras começam a aparecer, e nas revistas e lojas internacionais de decoração podemos achar em cores vibrantes.
Esse pavão, definitivamente, não é mais misterioso.
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