Como contei numa dessas quartas-feiras, estou em uma relação séria com a minha cozinha (se não leu, clica aqui para a parte I e aqui para a parte II, tá bacana) o que não me impede de flertar loucamente com meu quarto.
Você é daqueles que não saem da cama ou só se deitam mesmo para dormir?
Durante a pandemia você pode:
- Chegar à conclusão que sua cama é pequena demais.
- Buscar um delivery de colchão o mais rápido possível.
- Morrer de arrependimento de não ter comprado aquele jogo de lençóis de 500 mil fios egípcios.
- Aposentar o travesseiro de plumas porque as peninhas ficam em suspensão durante o dia e espetam durante a noite.
- Se desesperar porque não tem receita de Rivotril e afins.
- Nenhuma das afirmações anteriores.
Pensando nisso, achei uma boa ideia pesquisar sobre a história das camas – onde passamos um terço de nossas vidas – para saber quando e onde apareceram e como eram feitas. Não deixa de ser uma viagem, mesmo não saindo da…cama.
Imagino que na Idade da Pedra os homens das cavernas tinham que viver refugiados em lugares onde fosse possível proteger-se dos perigos, desde animais cheios de fome até da inclemência dos verões e invernos. Dormiam no chão mesmo, no máximo sobre uma camada de folhas cobertas por alguma pele mas existem relatos de vestígios de uma cama rudimentar datada de 3.600 AC encontrada na África.
Com o tempo, foi importante para o homem descobrir como deixar as cobras e outros animais peçonhentos longe do leito, e levantá-lo do chão foi a primeira providência. Depois que descobriram esse artifício, o móvel em questão ficou tão alto que era preciso uma escada para alcançá-lo.
Egípcios e indianos foram provavelmente os primeiros a usar uma espécie de estrado feito de lã ou cordas entrelaçadas suportado por quatro pés de madeira. Aos poucos os modelos foram se sofisticando, especialmente entre as classe altas, e aparecem feitas com incrustações de marfim, metal e ornamentos em forma de bichos, especialmente os pés, que pareciam patas de animais. Como em todas as épocas, ostentar era indispensável e os ricos, imaginem, mandavam fazer suas camas até mesmo de ouro, prata e metais preciosos.
Ainda na antiguidade, as lendas e superstições assombravam tanto pobres quanto ricos. Dormir com a cabeça virada para o norte assegurava vida longa, mas se os pés estivessem posicionados para a porta da rua era morte certa. Como em uma das pontas da cama às vezes havia um pequeno apoio para a cabeça, curvo e duro, acho que não adiantava muito o ponto cardeal onde estavam as pessoas. Jogar-se na cama, por exemplo, podia ser letal. Por precaução, meu conselho é ninguém testar em casa a posição em que está dormindo. Melhor nem saber.
Talvez tenham sido os gregos os que primeiro usarem cabeceiras, geralmente cobertas por peles. Já os romanos, nos primórdios, usavam colchões recheados com feno, lã ou cabelo(!) até que descobriram que as penas podiam ser bem mais confortáveis. Como durante algum tempo as casas não tinham um lugar específico para o quarto, divisórias de madeira eram usadas para dar mais privacidade assim como cortinas penduradas no teto, o dossel, mais tarde largamente usado e luxuosamente enfeitado. Seu uso devia-se também ao frio intenso da Europa, servindo para proteger das correntes geladas.
Lá pelos séculos XIII e XIV, as almofadas, muitas almofadas, tinham que estar sobre as camas e quanto mais seda, veludo e bordados, melhor. Modelos cada vez mais rebuscados apareceram no século XVII destacando-se o estilo à la Duchesse. com laterais e um pequenos “teto” em madeira tudo recoberto de tecido.
Camas dobráveis – boas para viagens e para as campanhas de guerra – também eram muito populares e o estilo Récamier, um tipo de chaise longue, torna-se um furor e foi assim denominado por ser o modelo preferido por Madame Récamier que recebia suas visitas reclinada sobre ele. Esse hábito de receber reclinado sobre camas era também muito usado por reis para receber embaixadores e nobres.
Para substituir as camas de madeira, que apodreciam com facilidade ou tinham estrados infestados de insetos e cupins, vieram as de ferro, mais resistentes e logo incorporadas ao lifestyle do século XVIII.
No início do século XIX, na era da Revolução industrial, as camas começam ser feitas em série e depois dos anos de 1940 os colchões se tornam mais acessíveis, feitos de materiais como o látex e o poliuretano, fibras de viscose e sintéticas.
Hoje temos o chamado embarras du choix e são tantos modelos no mercado, (o mais novo colchão tem cristais triturados em seu interior para diminuir a ansiedade e o estresse), que fica difícil imaginar como aquele homem pré-histórico conseguia dormir sobre folhas e peles. BAD Times.
Curiosidades
A hora da sesta foi inventada pelos gregos e pelos romanos que dormiam dentro de buracos escavados nos muros e fechados por cortinas. Dizem que, mais do que um cochilo, era o melhor lugar para fazer amor.
Tutankamon mandou fazer cinco camas para acompanhá-lo em sua tumba. Eram de madeira, ornamentados com a flor de lis e incrustados de pedras. Concebidos para durar pela eternidade.
Na antiguidade os nobres comiam em suas camas, que muitas vezes tinham formas arredondadas.
Na Idade média só os ricos tinham camas. Os pobres usavam sacos de tecidos e procuravam lugares seguros para dormir.
Luis XIV possuía mais de 400 camas, todas ricamente adornadas e adorava despachar deitado.
Conta-se que Marcel Proust escreveu os sete volumes de sua obra “Em busca do tempo perdido” deitado em sua cama em virtude de séries doenças respiratórias
E last, but not least, os chineses eram mestres em criar camas fantásticas, elaboradas, com desenhos intrincados e as mais lindas lacas. Para quem um dia pensa em visitar a China, uma dica é visitar a aldeia de Wuzhen onde está o Museu de Camas Antigas, com peças do tempo das dinastias Tang e Qing, feitas de madeira de árvores típicas da província de Zhejiang.
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