Entre a abertura da oficina e a chegada ao mercado internacional, passaram-se apenas quatro anos e meio. “Nem em meus sonhos mais otimistas eu poderia imaginar que tudo seria tão rápido, intenso e incrível”, diz Anna Passarelli, designer, marceneira e diretora criativa no Atelier Passarelli.
Num intervalo de dois meses, ela participou com suas peças de três exposições em Paris: ‘Héritage Culturel et Savoir-Faire’, na Embaixada do Brasil, ‘Factory’, onde foi a única brasileira entre 130 jovens talentos do mundo todo, e ‘Thema’, no Palais Brongniart, antiga sede da bolsa de valores. As duas primeiras, realizadas em setembro, fizeram parte da programação da Design Week parisiense, e a terceira, em outubro, integra a agenda da Semana de Arte local.


A trajetória de Anna fica ainda mais impressionante quando a gente descobre que a opção pela marcenaria aconteceu meio por acaso. Ela começou sua vida profissional no mercado financeiro, depois transitou para a área de marketing de empresas de decoração.
“Na pandemia, tive uma crise de exaustão e decidi sair do meu emprego. Queria dar uma guinada, mas não sabia bem o que fazer. Até que o anúncio de um curso de marcenaria apareceu no meu Facebook e lá fui eu”, conta.
Anna colocou na cabeça que, se fosse capaz de confeccionar um móvel do início ao fim, seguiria por esse caminho. Apesar de nunca ter feito nenhum trabalho manual, ela conseguiu. Em fevereiro de 2021, criou suas primeiras peças, o cabideiro Mára e o banco Tudo, inspirados num banquinho que herdou da casa dos avós; em maio, inaugurou o e-commerce e começou a vender.


Carioca, a designer retornou ao Rio em 2022 após uma longa temporada em São Paulo. Primeiro, instalou a oficina na Fábrica Bhering e, há um ano e meio, se mudou para um galpão maior, na rua Sacadura Cabral, na Zona Portuária.
“Nos primeiros dois anos da marca, fiz tudo sozinha. Depois, como não dava mais conta, passei a contratar. Hoje somos onze”, afirma.
A maior parte da equipe chegou sem experiência e Anna compartilhou seu ofício.
“Na verdade, aprendemos muito juntos todos os dias, pois também sou marceneira há pouco tempo”, diz.
Reunir um time afinado e de confiança permitiu que ela fizesse movimentos como expor fora do Brasil ou se concentrar na pesquisa de mobiliário para a criação de novas peças.


Paris era um sonho de vida: Anna visitou a capital francesa pela primeira vez em 2024, numa viagem para comemorar seu aniversário de 40 anos. Ficou apaixonada, claro, e veio daí o insight de tentar ser selecionada para a ‘Factory’, que só aceita estúdios fundados há menos de cinco anos. Ela se inscreveu e foi aprovada. Quase em seguida, conheceu a curadora Pat Monteiro Leclercq, da Bref, Design Art, que se tornou sua agente na França. Por intermédio dela, surgiram as oportunidades de estar nas mostras ‘Héritage’ e ‘Thema’.
“Meu plano para 2026 é colocar energia no processo de internacionalização e me firmar em Paris com a Bref. Esta cidade é o berço do art déco, ou seja, do estilo de mobiliário que mais amo”, explica.

Por sinal, a influência do design de outras épocas é visível na linguagem autoral de Anna e fica ainda mais evidente em sua produção recente, como a luminária Divina e o banco Divino, peças de visual elaborado e com pegada artística.
“Adoro a forma como a madeira era trabalhada antigamente em móveis robustos e cheios de detalhes. Uso minhas referências do passado para desenvolver peças que parecem garimpadas, mas trazem funções que fazem sentido na vida contemporânea”, conta.
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Celina Mello Franco
TAG: Anna Passareli, marcenaria, Fábrica Bhering, art déco
