Enquanto cursava a faculdade de desenho industrial, na Escola de Belas Artes da UFRJ, Anna Machado percebeu que a manualidade não seria seu caminho no design. “Trabalhei durante um ano com joalheria e não curtia a repetição de gestos necessária para reproduzir as peças que havia desenhado e prototipado”, conta. Quando descobriu a impressão 3D, anos mais tarde, diversas possibilidades se abriram. “Podia delegar a execução para as máquinas e me concentrar no que mais gosto, que é a criação das peças e o gerenciamento da empresa”, diz.

Entre a formatura, em 2008, e a abertura do Studio Anna Machado, em 2017, ela trabalhou numa multinacional de produção de materiais para pontos de venda e fez mestrado em administração de empresas e empreendedorismo na Universidade Jean Moulin Lyon 3, na França.
De volta ao Brasil, montou uma creperia e um food truck na região da Praça Mauá, no centro do Rio. “Essa é a passagem mais louca da minha trajetória profissional. Resolvi aplicar o conhecimento do mestrado num restaurante, pois era 2013, o Rio se preparava para receber as Olimpíadas e acreditei que o centro seria revitalizado e iria bombar”, diz. O sonho durou pouco. “Empreender foi uma experiência traumática, embora cheia de aprendizados. Até hoje falo sobre ela na terapia”.

Em meio à burocracia para o encerramento da creperia e grávida do primeiro filho, Anna recebeu um presente cheio de significado. “Uma tia, biológa, fez para mim um terrário. Ao olhar para ele, entendi que, apesar do luto pelo negócio que não havia dado certo, a vida continuava”. Além disso, o objeto serviu de inspiração: estava perto do Natal e Anna decidiu produzir terrários para vender. Foi um sucesso! Depois de alguns meses, a designer começou a percorrer antiquários em busca de vidros com formatos diferentes, mas era difícil achar uma base que se encaixasse nas peças garimpadas (terrários precisam ser ambientes fechados). “Um dia, meu marido sugeriu que eu imprimisse em 3D o que não estava encontrando. Fazia total sentido”.

Anna começou a desenhar vasos e a fabricá-los em empresas de terceiros usando PLA, um plástico de fonte vegetal renovável. No início de 2018, comprou sua primeira impressora. “Isso me permitiu ter maior controle sobre a produção e prototipar com mais agilidade. Muita gente não acredita, mas um vaso leva 5 horas para ser impresso”.

O maquinário próprio também possibilitou experimentar mais. Testes, erros e acertos estão na origem da mais nova coleção da designer, chamada Desamparo. “Ao observar como o material se comportava quando acontecia alguma falha na máquina, vi que havia beleza nessa imperfeição. Resolvi então desenhar o erro”. Na impressão 3D, o objeto nasce por meio da sobreposição de camadas de material. Se não existe o apoio de uma camada anterior, o material cai. O que Anna fez foi programar desvios intencionais, de modo a criar vazios, texturas e fios. É como se as peças ganhassem uma segunda pele.

O nome Desamparo também está relacionado à história da designer: ela perdeu a mãe aos três anos, de forma trágica e repentina, e foi criada pelos avós. ”A ausência é uma sensação bem viva dentro de mim e transformar sentimentos em objetos palpáveis é algo que me interessa. Crises existenciais e outras situações da vida alimentam meu processo criativo”. Mas não se trata de uma coleção triste. “Olho para as peças e enxergo leveza. Com elas, consegui falar da dor de uma forma bonita”.
Artista: Anna Machado
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Tag: Impressão 3D