Então estamos chegando no primeiro trimestre de 2025, coincidentemente o primeiro quarto do século. Na nossa vida, a mudança foi enorme, especialmente por conta da internet que teve um efeito revolucionário. A IA está entrando insidiosamente em nosso cotidiano e não tem volta.
E na nossa casa não podia ser diferente, apesar de certas fórmulas se repetirem cansativamente na arquitetura de interiores. Você já não aguenta mais ver que tipo de peça, mobiliário, revestimento, cor? Consultamos alguns profissionais da arquitetura de interiores para ouvir sua opinião sobre a evolução do décor na nossa cidade.
Num quesito, quase todos concordam: o uso indiscriminado de fitas de led já cansou.
“Bem saturados os perfis de LED, quando aparentes, tanto em teto e principalmente nas paredes. Sempre os vi apenas como uma fonte de luz e não como luminárias” diz o arquiteto Carlos Boeschenstein.
Andrea Chicharo explica que nunca incluiria led embaixo da cama. “Acho um horror”. E cita também os frisos de marcenaria, sem esquecer a decoração monocromática tipo showroom de loja.
A arquiteta Fernanda Medeiros se estende mais: “O minimalismo excessivo, com tudo branco e sem texturas, passou a ser visto como frio e impessoal. O ideal é adicionar cores e elementos naturais para trazer aconchego e personalidade. O conceito aberto ainda existe, mas com soluções que garantem flexibilidade, como portas deslizantes e divisórias. Ambientes onde tudo parece um grande painel embutido perderam força.”
O arquiteto Mauricio Nóbrega enumera o que não gosta. “De materiais sintéticos, porcelanatos imitando madeira ou mármore, louças e metais muito sofisticados, revestimentos 3D, papeis de parede chamativos, tapetes em excesso”.
“Luz Branca, nem pensar! Mas espero que isso já seja consenso! “diz o designer de interiores Fabio de Lucena, contando que evita ao máximo os revestimentos que imitam materiais naturais. “Pedra é pedra, madeira é madeira, palha é palha. Não gosto de substituições que tentam ser algo que não são”.
A seguir, algumas observações bem pertinentes.
Fernanda Medeiros





As tendências de decoração para 2025 seguem algumas diretrizes principais, combinando sustentabilidade, tecnologia e conforto. Equilíbrio entre inovação e aconchego, priorizando o bem-estar e a personalização dos ambientes.
Uso de materiais ecológicos, como madeira certificada, bambu e tecidos reciclados, técnicas artesanais e uso crescente de tintas ecológicas e revestimentos biodegradáveis. Cores e paletas neutras com toques de cor: tons terrosos como bege, terracota e verde. Papeis e tecidos de parede que tenham a personalidade do cliente. A arquitetura e o design agora estão muito mais voltados para o bem-estar, conforto e autenticidade do que para seguir tendências e modismos.
Não incluiria em meus projetos pisos brilhosos, itens dourados, lâmpadas brancas ou cortinas de voile. Gosto de espaços funcionais, sem excessos, moveis com tecidos macios e tramas naturais. Também gosto do maximalismo de móveis retrô (anos 70 e 80) misturados a peças contemporâneas.
Andrea Chicharo





Eu apostaria nos detalhes de marcenaria, no uso de madeiras mais escuras em ambientes claros, tecidos mais elaborados, um pouco mais de cor, um maior uso de luminárias não técnicas.
Painel de azulejo não costumo usar, somente se for com azulejo antigo.
Temos muito designers brasileiros maravilhosos e reconhecidos. Mas busco continuamente conhecer novos trabalhos e designers.
Acho que o estilo da casa depende principalmente do morador. Pessoalmente gosto da casa “limpa” no quesito arquitetura, mas com mobiliário e adereços com personalidade. Meu objetivo é fugir do projeto padronizado e de modismo. Busco sempre remar contra a maré.
Carlos Boeschenstein







Os projetos de interiores expressam o estilo desenvolvido pelo profissional, e dá match com os anseios do cliente que o procura. Portanto, seguimos com uso de materiais e design de ótima qualidade, num mix de peças modernas e atemporais.
A maior evolução tem acontecido na tecnologia e, portanto, aposto mais ainda na iluminação que se inicia nos meus projetos já nos desenhos preliminares e vai evoluindo com o desenvolvimento dos layouts.
A cor deve estar sempre e sem cerimônia em alguns ambientes como lavabo, sala de jantar e circulações. E como diz Manuel Canovas: “cor é um luxo que não custa caro”.
Tapetes, prefiro os de fibras naturais, com texturas e relevos expressivos e em cores claras e mobiliário em materiais como madeira e menos metal e também vime (que anda um pouco esquecido), sofás e poltronas com mais conforto e menos escultóricos, os de encostos muito baixos.
Gosto de painéis de azulejo como os do Noel Marinho e Adriana Varejão que trazem na autoria um valor além da função decorativa. Outros ainda com pintura “trinchada” e os Zelliges, clássicos da azulejaria portuguesa, que pela própria técnica são atemporais e podem ser um elemento colorido muito interessante.
Incluiria em meus projetos mais iluminação indireta através de arandelas, abajures com design moderno e clássico, não dispensando os efeitos do foco pontual, do wall-washing e de outros a recursos que valorizam a cenografia do ambiente.
Valorizo o design brasileiro, onde destaco Maria Cândida Machado de extrema coerência nas suas criações e Fernando Prado, um craque na criação de luminárias com design simples, mas que trazem muita tecnologia e funcionalidade, além da luz sempre bonita. Entre os internacionais os meus preferidos são Joseph Dirand, arquiteto e designer de interiores, uma referência de equilíbrio entre o moderno e o clássico, que desenha luminárias e mobiliários incríveis e Kit Kemp que domina excepcionalmente bem a mistura de cores e padronagem. Criou uma identidade forte para rede hoteleira Firmdale.
Sobre a escolha entre o estilo clean ou o maximalista, considero ambas quando bem-feitas, com propriedade e originalidade. A clean ou minimalista, com o uso de móveis autênticos e de design de excelente qualidade, contando certamente na sua complementação com uma boa curadoria de arte.
A maximalista com a dose certa de cores e padronagens aparentemente descasadas, de forma a criar ambientes harmônicos e descontraídos, mas que podem ser ao mesmo tempo, muito elegantes como faz a Kit Kemp.
Mauricio Nóbrega





Acho que o mobiliário vintage, objetos garimpados, customização de móveis e produtos vão trazer novidade a esse cenário muito interessante, mas repetitivo da arquitetura de interiores do momento.
Cores acho que continuam suaves como pede a cidade do Rio de Janeiro, mas como sempre, vou continuar a trabalhar com toques de cores fortes para conferir personalidade aos espaços.
Acho que painéis de azulejos são atemporais caso sejam de qualidade e bem usados. O excesso de painéis de madeira ripada, o uso de mobiliário e luminárias dos mesmos designers, mesmo que consagrados, em praticamente todos os projetos, são elementos que trazem uma padronização muito grande. Eles podem ser usados, mas com parcimônia. A casa não precisa ter todos os itens com nome e sobrenome.
Fabio de Lucena




Vejo um retorno forte do clássico. A busca por uma decoração atemporal, bem trabalhada nos detalhes e acolhedora tem crescido muito. As pessoas estão cansadas de tendências efêmeras e querem casas que tenham identidade e história.
A diversidade de tapetes finalmente está aumentando, o que nos dá mais possibilidades criativas. Além disso, vejo uma evolução significativa no design de estampas para tecidos e papéis de parede, algo essencial para ampliar o repertório da decoração. Essa mudança é extremamente bem-vinda!
Na minha opinião o que já deu foi um estilo só na decoração, a falta de variedade. Sinto que o modernismo dominou a decoração no Brasil. Por exemplo, a mesa pétala e a Poltrona Mole estão presentes na maioria dos projetos de decoração há alguns anos. Reconheço o valor do Sergio Rodrigues e Jorge Zalszupin, mas não existe só o modernismo para decorar nossas casas.
Estamos todos presos e limitados nesse único movimento artístico, a decoração precisa resgatar outras referências. Camas com dossel são aconchegantes, elegantes e completamente subestimadas. Existe uma infinidade de modelos que podemos produzir e trazer mais para o mercado, do clássico ao contemporâneo, e elas dão um charme especial ao quarto.
Os painéis de azulejos são atemporais, nunca vão cansar. O segredo está na execução: quando são pintados à mão, ganham ainda mais valor e destaque. Funcionam lindamente em áreas externas, especialmente quando combinados com uma fonte. Recentemente, vi o projeto da Gigi Barreto na casa da Monica Martelli e achei incrível, mostrando que os azulejos funcionam tanto em ambientes clássicos como contemporâneos. Trouxe muita personalidade para a cozinha, mostrando como os azulejos podem transformar um espaço. E no geral, prefiro a autenticidade dos materiais.
Amanda Lindroth, sem dúvida é uma designer de interiores americana, nascida na Flórida e radicador. Morando no Rio, me identifico muito com seu trabalho. O uso de fibras naturais, os tons claros e as estampas que conversam com a paisagem criam ambientes frescos, chiques e cheios de identidade. Amo!
A casa Maximalista, sem dúvida, é minha preferida! Mas com respiros. Gosto de salas em tons mais suaves e quartos com cor. A sala precisa receber bem, e, como os convidados já trazem diversidade nas roupas, joias e acessórios, prefiro que o ambiente não tenha elementos que disputem atenção. O maximalismo precisa ser pensado para ser elegante e aconchegante, não cansativo.da nas Bahamas que gosto muito. Ela traduz a atmosfera praiana de um jeito sofisticado e acolhe.
Também vou opinar. Sei que os profissionais estão trabalhando com o que o mercado de móveis e objetos oferece. Mas fugir da padronização que causa monotonia é importante.
Especialmente quando não é preciso agradar o cliente – em mostras, exposições, etc. Sofás e poltronas arredondadas podem ficar descansando em outros lugares assim como as luminárias de palha e vime – que são lindas! – mas estão sendo repetidas ad nauseum.
Misturas de mobiliário contemporâneo e antigo é um respiro saudável e cabeceiras de cama também poderiam variar do modelo vigente que muitas vezes tira qualquer personalidade do cômodo.
E cor, por favor! Sem medo de ser feliz…
Profissionais: Fernanda Medeiros / Andrea Chicharo / Carlos Boeschenstein /
Mauricio Nóbrega / Fabio de Lucena
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